por Luís César Ebraico
Acho que fiz bastantes coisas boas em minha vida, mas, na verdade, só me lembro de haver duas vezes sentido orgulho de mim. A primeira, foi quando, após quinze anos trabalhando sobre meu livro, A Nova Conversa, consegui chegar a uma forma final que me satisfez. A segunda, ocorreu durante o episódio que passo a relatar.
Eu estava ministrando uma série de palestras sobre Loganálise na UNIRIO e havia uma aluna, vou chamá-la de Mariza, que adorava me provocar. Numa dessas palestras eu havia dito NÃO CONSIDERAR PRODUTIVO ficar dizendo para adolescentes o que é CERTO e o que é ERRADO, nem o que eles DEVEM ou NÃO DEVEM fazer. Acontece que eu havia esquecido que o Leo, meu filho de dezesseis anos, estava sentado na primeira fila da plateia, assistindo à palestra. Mariza, que estava sentada na última e sabia ser ele meu filho, bradou lá de trás:
OUVINTE: — Leo, é verdade esse negócio aí que seu pai está dizendo, ou isso é só papo furado pra conferência e em casa é diferente? Ele não diz pra você o que é certo e o que é errado, nem o que você deve ou não fazer?
LEO (peremptório): — NUNCA DISSE! Ele chega pra mim e diz: “Leo, na minha experiência, se você age desse jeito, vai haver essa ou aquela consequência. Se você quiser usar essa informação, ótimo. Se quiser assumir o risco de aprender por você mesmo, boa sorte!”
Foi essa a segunda e única outra vez em que, de fato, senti orgulho de mim. Meu filho estava confirmando a dedicação e seriedade com que encaro e aplico em minha vida os princípios que esposo em minhas conferências e em meus escritos. Um reconhecimento desses por um filho de dezesseis anos soa-me mais puro e mais autêntico do que o representado por um Nobel! E, se me imagino recebendo um, não consigo me imaginar sentindo mais orgulho de mim do que senti naquele instante…
Quanto ao resultado da aplicação do princípio que eu soube tão zelosamente empregar na relação com meu filho, posso afirmar que, pelo menos até agora, ele é o adolescente mais sensato, equilibrado e centrado dentre os que até hoje conheci – e conheci muitos – não tendo eu detetado nele nenhum sinal da famosa “crise da adolescência”, que, desde muito antes de ele haver nascido, eu seguidamente denunciei como um fenômeno artificial, criado por uma inépcia pedagógica cultural generalizada que, naturalmente, formata a pedagogia familiar. E a sensatez, equilíbrio e centramento de meu filho não implica ele achar o máximo – o que eu, aliás, detestaria – aprove todos meus comportamentos ou não tenha certos ressentimentos em relação a mim: significa apenas que ele é centrado, equilibrado e sensato, o que lhe vai servir muito mais na vida do que ter uma imagem idealizada do pai.
Quando afirmo que a saúde mental de meu filho é efeito de eu haver aplicado na relação com ele os princípios da *Loganálise – que, aliás, parecem estar entranhados em mim – muitos riem e comentam “Santo de casa não faz milagre!”, ao que respondo “A Loganálise nada tem a ver com milagre, tem a ver com ciência”. E, aqui entre nós, teria algum cabimento esperar que um antibiótico aplicado por pais, ou tios, ou primos não funcionasse, enquanto mantém sua eficácia se aplicado por um enfermeiro? Presta atenção!
*Loganálise é um filhote da Psicanálise: pretende mostrar como o cidadão comum, em seu dia-a-dia, pode tirar proveito de conceitos como repressão, fixação, trauma e outros para promover sua própria saúde psicológica e a daqueles com quem se relaciona.