Punir adolescente não extingue comportamento

Em relação aos adolescente, faz-se necessário uma abordagem mais construtiva do que simplesmente dizer “não” ou usar de punições, que só criam revoltas. Entenda por que é diferente educar um adolescente e uma criança. Transgressões e mentiras podem ser frequentes na adolescência.

Criar e educar uma criança é muito diferente de criar e educar um adolescente. Tal percepção não é fácil para os pais, que no dia a dia nem sempre se dão conta que o filho vai se desenvolvendo e que ele vai apresentando novos desejos e necessidades diferentes de tempos anteriores.

Continua após publicidade

O ser humano nasce muito impulsivo e vai precisar de longos anos para conseguir controlar seus impulsos adequadamente, em um processo civilizatório necessário à espécie humana, para que a pessoa tenha possibilidade de viver e de se inserir no mundo coletivo.

Desde o início da vida, a criança precisa de limites e interdições. Cuidar de uma criança compreende a atenção, a proteção, a nutrição, o aconchego e a garantia de um amor incondicional. Mas, também a colocação de limites. A criança não pode ficar ao sabor de seus instintos e impulsos. Ela precisa da continência, da contenção dos seus cuidadores para ganhar os contornos de seu próprio eu, de seu espaço e diferenciá-lo do espaço dos outros.

O “não” é o organizador da vida psíquica. A criança precisa receber “nãos”, para aprender a aguentar ser contrariada, pois nem tudo pode acontecer sempre de acordo com seus desejos. Quem sabe o que é bom para ela são seus pais. Cumpre a eles o “sim” e o “não”.

Com adolescentes é outra coisa.

Nos últimos anos, as descobertas das neurociências sobre o cérebro do adolescente revelaram mudanças no conhecimento a respeito de sua estrutura e funcionamento. Antes, se acreditava que as mudanças hormonais eram responsáveis pela desorganização que surgia no comportamento do adolescente e que o principal centro de controle do cérebro, o cérebro pré-frontal não estaria suficientemente maduro antes do final da adolescência.

Continua após publicidade

Atualmente, se sabe que as mudanças que ocorrem no cérebro adolescente não são apenas questões hormonais e de imaturidade, mas são mudanças muito mais amplas; uma verdadeira reestruturação, que permitirá o surgimento de novas habilidades, importantes não só para o indivíduo como para a espécie.

O afastamento do mundo dos pais que os adolescentes tendem a adotar, é um processo necessário para o crescimento e diferenciação do eu. Na história humana, a saída dos mais jovens, hoje nomeados como adolescentes, para explorar o mundo, permite à espécie do homo sapiens se tornar mais adaptável conforme as gerações se sucedem. Ser curioso, buscar novidades, criar maneiras novas de fazer as coisas. Isso ajuda nossa espécie a se adaptar a um mundo sempre em transição.

Existe um conjunto de alterações cerebrais importantes durante a adolescência que criam possibilidades e sentidos e novas formas de relacionamento que não existiam na infância.

Continua após publicidade

O desenvolvimento do próprio corpo com alterações fisiológicas, hormonais e as mudanças na arquitetura e funcionamento do cérebro caracterizam a adolescência como um importante período de transformação. Tornam-se mais complexos os modos como se processam as informações cognitivas e afetivas, a percepção de si mesmo e a percepção das relações interpessoais. É uma época da vida cheia de desafios e conflitos, mas são precisamente esses desafios e conflitos é que ajudarão a definir quem é o adolescente e quem será o adulto que ele se tornará.

Transgressões e mentiras são frequentes na adolescência

Transgredir, omitir, mentir podem ser frequentes à idade. Para os pais, dizer “não” e dizer “não faça isso” não adianta. Dar castigos, muitas vezes necessário na infância, agora, na adolescência, além de não funcionar, terá como consequência a revolta do filho e o maior afastamento dos pais.

Punir adolescente não extingue comportamento

Faz-se necessário uma abordagem mais construtiva do que simplesmente dizer “não” ou usar de punições, que só criam revoltas.

Ao invés de tentar usar de repressão, inibição, de imposição de regras, que não serão respeitadas, os adultos, com adolescentes em suas vidas, poderiam se concentrar em encorajar a reflexão sobre os valores e sobre os instintos. As mudanças que ocorrem no cérebro do adolescente permitem que ele comece a usar o julgamento baseado no pensamento, informado pela experiência e pela intuição, em vez de confiar no impulso à gratificação imediata e na concretude da infância.

A comunicação aberta pais-adolescentes parece ser o “seguro de vida” para o assumir de riscos do filho. Quando o adolescente se sente realmente ouvido, ele pode passar a ouvir seus pais e, assim, maneiras mais eficazes de se chegar às decisões podem ser criadas.

É psicóloga especializada em psicoterapia de crianças e adolescentes. Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC e autora de vários livros, entre eles 'Pais que educam - Uma aventura inesquecível' Editora Gente.