por Elisandra Vilella G. Sé
Atualmente um número significativo de pessoas tem uma vida solitária. Devido à solidão as pessoas tornam-se debilitadas, deprimidas e desmoralizadas. A solidão tem sido frequentemente associada à depressão, à hostilidade, ao alcoolismo, a um fraco autoconceito, baixa autoestima e a doenças psicossomáticas. As implicações da solidão são sentidas em qualquer cultura.
Na literatura encontramos várias definições para solidão. Alguns autores descreveram a solidão como sendo a experiência associada à discrepância entre as relações que percebemos, que temos versus as relações ideais. Outra definição é a experiência desagradável que deriva de importantes deficiências nas redes de relações sociais. E uma outra definição é conceber a solidão simultaneamente como desagradável e motivante surgindo de uma necessidade não encontrada de intimidade pessoal. E também podemos encontrar a definição em que a solidão é uma experiência que surge da separação da experiência humana. Ou seja, pode ser qualquer tipo de separação que a pessoa vivencie: perda dos pais, irmãos, divórcio, viuvez…
Várias definições partilham alguns pontos em comum. Ou seja, todas as definições implicam que a solidão resulta de deficiências nas relações sociais da pessoa sozinha. E também a solidão é vista como fenômeno psicológico subjetivo e por isso não é sinônimo de isolamento. Toda pessoa tem pelo menos um contato social mínimo. Portanto, a solidão é vista mais como representando insatisfação com o número ou a qualidade dos contatos que uma pessoa tem do que com a ausência total de contato social.
Quais fatores contribuem para você se sentir cada vez mais só?
Existem muitos fatores que contribuem para o aumento da vulnerabilidade das pessoas à solidão. Um dos fatores que contribui para que a pessoa se sinta cada vez mais só é o de ser mais difícil para ela restabelecer um relacionamento social satisfatório.
Existe na nossa cultura o estereótipo que as pessoas idosas são solitárias e mais deprimidas. As pessoas jovens e as idosas concordam em que são as pessoas idosas que mais se sentem sós. Esse estereótipo não se confirma quando pessoas revelam a sua própria experiência de solidão.
Estudo realizado na Universidade do Porto, em Portugal (2001), pelo Centro de Cognição, Afectividade e Contexto Cultural, foi investigado se haveria diferenças na solidão em pessoas de três grupos etários (adolescentes, adultos e idosos). A hipótese era encontrar diferenças no nível de solidão nos três grupos etários.
Participaram da pesquisa 105 adolescentes, 116 adultos e 104 idosos. Foram aplicados vários instrumentos específicos para avaliar a solidão nos sujeitos. Os resultados mostraram que os adolescentes e os idosos sentiam mais a solidão que os adultos. Em cada grupo etário encontraram-se correlações significativas entre solidão e neuroticismo (traço de personalidade ou estado afetivo no qual o indivíduo 'experiencia' afetos negativos, por exemplo: pessoas nervosas, com humor deprimido); o optimismo (característica ou dimensão importante da personalidade que faz o indivíduo refletir sobre sua vida futura, é uma forma de perspectivação, por exemplo: pessoas extrovertidas, motivadas e otimistas); e a satisfação com a vida. Não houve diferenças em relação ao gênero. Apesar de interessante, esse estudo necessita ser aprofundado.
A satisfação com a vida é definida como uma avaliação global da qualidade de vida de uma pessoa segundo os seus critérios escolhidos. As pessoas podem atribuir valores diferentes para bem-estar emocional, bem-estar material, saúde física, saúde mental percebida, etc… A satisfação com a vida parece estar em grande parte relacionada com a qualidade do nosso relacionamento social. Diversos estudos sugerem que a solidão está associada a diversos estados afetivos como sentir-se menos feliz.
Quando se fala que uma pessoa sofre de solidão, não é suficiente que a pessoa esteja consciente da discrepância entre as relações atuais e as desejadas. A solidão é sempre uma experiência desagradável, dolorosa. Por isso a discrepância deve ser acompanhada por um ou mais sintomas coloridos por uma tonalidade afetiva negativa. Nessa rede de afetos pode estar inserido o neuroticismo. A solidão é um importante indicador de qualidade de vida.
Outras pesquisas recentes, porém, sugerem que, o vigo dos jovens deve ser “compartilhado”. As relações intergeracionais protegem os idosos da depressão e da solidão. Por meio de interações sociais, os jovens podem transmitir parte do seu vigor para os idosos, melhorando assim as capacidades cognitivas e a saúde vascular dos mais velhos e até aumentando sua expectativa de vida.
Foi comprovado que a convivência de idosos com pessoas jovens é fundamental para estabilizar o declínio cognitivo. A atividade física também torna-se mais benéfica para os idosos se for praticada em espaço social com pessoas jovens. Outras investigações poderão ser feitas para averiguar o potencial terapêutico da socialização intergeracional. Se você não realiza atividades com pessoas mais jovens, fica a dica: visitar, receber visitas, inclusive dos netos, faz bem para à saúde de ambos.