por Anette Lewin
“Sou bancária e empresária. Meu esposo e eu temos uma empresa juntos, mas ainda não tenho coragem de abandonar meu emprego de bancária. Apesar de eu não estar mais motivada a trabalhar no banco, temo que a relação na empresa possa abalar nosso casamento. Nós não trabalharíamos no mesmo ambiente, pois eu ficaria numa filial, porém, ele é o sócio majoritário e entende do negócio. Quanto a mim, estaria subordinada a ele. Por favor, me dê sua opinião. Temo que meu casamento seja destruído por conta de diferença de pensamentos na empresa e briguinhas de poder.”
Resposta: Quem consegue perceber com tamanha clareza possíveis problemas de poder envolvendo um casal que trabalha junto provavelmente terá recursos internos para tentar evitá-los.
Fácil não é. O jogo de poder faz parte do relacionamento amoroso e quem detém esse poder gosta de usá-lo ainda que inconscientemente. Para que o jogo exista, no entanto, são necessários dois jogadores. Se um não quiser jogar, o outro também não joga. Aí é que está seu trunfo. Caso você consiga focar objetivamente em seu trabalho, ao invés de ficar avaliando se seu marido está tentando mandar em você, as chances de sucesso aumentarão. Agora, se você entrar no jogo… provavelmente perderá em função de ser subordinada.
Diferenças de percepção sobre um negócio sempre existirão. Você sempre poderá expor sua visão se entender que a última palavra é dada por quem comanda. Ruim? Nem sempre. Afinal, sucessos e fracassos se alternam em qualquer negócio, e a responsabilidade é de quem decide. Contentar-se com a função de analista sem o ônus da responsabilidade, não é tão terrível afinal.
É importante que você avalie também se sua profissão de bancária já se esgotou ou você se sente apenas em conflito em função da possibilidade de se tornar autônoma. Como bancária, você recebe ordens de quem não está ligado a você emocionalmente; recebe um salário fixo que é seu e você usa como quiser; tem a possibilidade de fazer uma carreira se assim desejar. Bom? Sim. Mas muita gente, em determinado momento de sua vida, sente a necessidade de deixar de ser subordinada à empresa alheia e mandar no seu próprio nariz.
Talvez esse seja seu caso mas… você teme perder as vantagens que tem como funcionária e ainda por cima ter seu marido mandando em você. Aí voltamos ao ponto inicial da discussão: será que você realmente vai ter que se submeter? Ou sua voz será ouvida e você terá um grau de liberdade maior do que pensa ? Afinal, trabalhando em espaço físico diferente algum grau de autonomia você certamente terá.
Bem, a partir daí, a decisão é só sua. Existe ainda a possibilidade de você tentar entrar aos poucos no negócio do seu marido mantendo seu emprego; talvez tirar férias ou pedir um afastamento temporário e fazer uma espécie de estágio prático. Assim você teria uma ideia de como seria seu dia a dia, uma noção de que tipo de tarefas diárias teria que fazer, e uma pequena noção de como seu marido e você se comportariam nessa situação. Às vezes é na prática que se entende de fato as coisas.
Muitos casais conseguem ser sócios em negócios próprios e tratar o negócio como um filho querido; outros têm vínculos amorosos mais complexos e não conseguem ficar sem misturar as coisas criando altos níveis de tensão. Depende muito da personalidade de cada um, do grau de competitividade dos envolvidos, e de capacidade de gerenciamento autônomo de situações.
Se você gosta de responsabilidade, de testar suas ideias, de usar sua criatividade para novas propostas e de correr algum risco, ser autônoma se encaixa em seu perfil. Se o problema é a sociedade com seu marido, sempre existe a possibilidade de abrir algum negócio para você. Mas se isso lhe parece desgastante, talvez seja melhor ficar onde está e seguir na carreira que, afinal, algum dia você escolheu. Lembrando-se que um negócio próprio pode durar para sempre. Já um emprego, a não ser que você trabalhe num banco público, nunca se sabe! Reflita sobre tudo isso e tome sua decisão.