por Danilo Baltieri
Resposta: Da mesma forma como ocorre com outras drogas de abuso, os efeitos da cocaína podem ser bastante variados e dependem de muitos fatores.
Pureza da droga, via de administração, tempo de uso, dose, características de temperamento e caráter do usuário, ambiente no qual a droga é utilizada, presença de outras substâncias são alguns desses fatores.
Além do cérebro, vários outros órgãos e sistemas orgânicos são afetados negativamente pelo uso da droga.
A cocaína exerce muitos efeitos sobre o sistema hormonal. Alguns desses efeitos parecem contraditórios na literatura científica, principalmente devido à escassez de estudos em humanos e às diferenças entre usuários de curto e longo período.
Alguns estudos de imagem cerebral têm evidenciado aumento do volume da glândula hipófise entre indivíduos que abusam de cocaína. Mais do que um terço dos pacientes dependentes de cocaína podem demonstrar quadro de aumento da secreção de prolactina (um hormônio secretado pela hipófise). Também, entre usuários de cocaína injetável, há aumento dos níveis sanguíneos de hormônios relacionados ao cortisol – o "hormônio do estresse". Em estudos experimentais com ratos, o consumo de cocaína também afeta negativamente a função hormonal sexual. Além disso, a administração de cocaína por longo período em ratos provoca lesões testiculares.
O abuso de cocaína e os sintomas de abstinência podem, também, influenciar o funcionamento da glândula tireoide. Esta glândula é controlada por outras estruturas cerebrais, tais como o hipotálamo e a glândula hipófise, através de conexões neurohormonais. O consumo da cocaína afeta o controle exercido do hipotálamo sobre a hipófise e dessa sobre a tireoide, provocando em última análise um estado de redução do funcionamento da última, ainda que temporariamente.
Evidências sugerem que o consumo de cocaína ou de anfetaminas aumenta a atividade de peptídeos cerebrais (conhecidos como CART – cocaine and amphetamine-regulated transcript) que estão em íntima conexão com o eixo hormonal hipotálamo-hipófise-tireoide, bem como com áreas cerebrais relacionadas com o prazer pelo consumo das drogas.
Dessa feita, o consumo de cocaína em indivíduo que já padece de problemas relacionados com o funcionamento da tireoide deve ser ainda mais nocivo.
Abaixo, forneço algumas referências relacionadas ao tema:
Kuhar, M. J., & Dall Vechia, S. E. (1999). CART peptides: novel addiction- and feeding-related neuropeptides. Trends Neurosci, 22(7), 316-320.
Hurd, Y. L., Svensson, P., & Ponten, M. (1999). The role of dopamine, dynorphin, and CART systems in the ventral striatum and amygdala in cocaine abuse. Ann N Y Acad Sci, 877, 499-506.