por Danilo Baltieri
"Sou professora na ULBRA Canoas/RS e enfermeira de UTI Neonatal e estou orientando um trabalho de conclusão do curso de Enfermagem sobre os efeitos do crack em filhos de mães usuárias. Peço ajuda sobre indicações bibliográficas sobre o assunto."
Resposta: Existem várias evidências científicas sobre os malefícios provocados pelo consumo materno de cocaína/crack sobre os infantes tanto durante a gestação quanto após o parto. Seguramente, as mães que padecem de quadros de uso, abuso ou dependência de cocaína/crack devem ser tratadas com a máxima rapidez e efetividade possível.
As taxas de consumo de cocaína/crack entre gestantes têm variado entre 2 e 10%, dependendo das amostras investigadas.
Prejuízos sobre o crescimento, ganho ponderal (ganho de peso) e funções cognitivas (atenção, memória, concentração, inteligência) têm sido reportados em diferentes estudos. Inclusive, nós temos já respondido a uma questão relacionada com os prejuízos do consumo de cocaína/crack sobre o feto aqui no Vya Estelar. (clique aqui e leia).
Também, crianças convivendo com mães usuárias de cocaína/crack constituem um grupo de alto risco para futuramente tornarem-se também usuárias de substâncias. Essas famílias frequentemente vivem em lares estressantes, recheados de fatores negativamente relacionados com a formação e desenvolvimento de vínculos saudáveis. Mulheres dependentes de crack frequentemente engajam-se em comportamentos de alto risco, expondo seus filhos a situações também ameaçadoras, vexatórias e permeadas por privações afetivas e econômicas. É importante ressaltar, também, que mães usuárias de crack comumente padecem de outros transtornos mentais e do comportamento, como depressão, ansiedade e aqueles relacionados com o controle dos impulsos. Combinados os transtornos, os filhos estão expostos a um ambiente, a uma situação e a “cuidadores” que precisam receber intervenção rápida, eficaz e adequada.
Não raras vezes, o abuso materno de crack revela um “guarda-roupa” de outros problemas complexos, incluindo violência doméstica ou outras formas de violência, abuso de outras substâncias, negligência e abusos físico e sexual, pobreza, desemprego, etc.
Diante de tão grave situação, acredito que apenas através de um consenso e parceria entre as ciências médica, sociológica, jurídica e política teremos recursos suficientes para manejar adequadamente este problema.
Às vezes, tenho recebido perguntas de leitoras que questionam sobre qual a quantidade de cocaína que poderia ser consumida com segurança durante a gestação. Certamente, a resposta é NENHUMA !!!! NÃO HÁ DOSE SEGURA !!! A resposta sempre é: por favor, procure profissionais especializados para realizar o seu tratamento e consequentemente resultar na interrupção imediata do consumo da (s) substância (s). O problema envolvendo o consumo de cocaína/crack entre mulheres gestantes de fato é algo que precisa ser mais rigorosamente focado e estudado no nosso país. Dito isso, o tema do seu trabalho merece atenção especial.
Existem vários textos e referências na literatura científica que abordam o problema. Naturalmente, ainda há “gaps” (falta) de conhecimento, o que justifica mais pesquisas sérias sobre este tema tanto no Brasil quanto em outros países e culturas.
Parabéns pelo seu interesse e boa sorte com a sua pesquisa e atuação. O site do NIDA (National Institute on Drug Abuse) deve sempre ser consultado por se tratar de instituição confiável que investiga o problema e propõe manejo cientificamente embasado (http://www.drugabuse.gov/about/organization/ICAW/prenatal/prenatalfindings500.html).
Abaixo, forneço também 20 referências para a sua consulta:
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