Qual a saída para reduzir o bullying?

Para reduzir o bullying, não basta só dedicar cuidados à vítima. Nesse sentido, cabe aos pais e professores ensinar as crianças e adolescentes o entendimento de atitudes que dizem respeito ao outro, como: solidariedade, generosidade e empatia.

Nessa época, tão carente de ética, valores, princípios e virtudes, mais que nunca, cabe aos pais e aos professores a transmissão de valores e princípios, a fim de ir ajudando a criação de uma consciência ética na criança e o aprendizado de virtudes. Civilidade, solidariedade, generosidade são temas tão importantes quanto as disciplinas escolares, pois garantem a humanidade no ser humano. Criação e educação de crianças constituem um processo civilizatório.

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Civilidade é definida como o conjunto de formalidades, de palavras e ações que os cidadãos adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração; boas maneiras, cortesia e polidez. Civilidade deve pontuar sempre as relações pais-filho; professor-aluno, colega-colega.

Solidariedade e generosidade significam, ambas, o ato de apoiar e ajudar o próximo. Porém, existe uma distinção que dá a cada expressão um significado próprio que, além de fazer sentido, é útil para a compreensão das ações humanas.

Solidariedade, generosidade e empatia são atitudes que dizem respeito ao outro

Tanto a solidariedade quanto a generosidade dizem respeito às atitudes que adotamos levando em conta os interesses dos outros. Mas, na generosidade, levamos em conta os interesses do próximo, mesmo que não concordemos com ele nem compartilhemos dos seus interesses. A ajuda é totalmente desinteressada. Generosidade é associada à bondade e ao altruísmo.

Solidariedade significa levar em conta os interesses do outro porque simultaneamente compartilhamos deles. Fazemos um benefício ao próximo e isso nos traz, ao mesmo tempo, um benefício.

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Assim, solidariedade é o sentimento que leva alguém a tentar ajudar os outros ou a compartilhar o seu infortúnio e generosidade é a virtude daquele que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício do outro.

Civilidade, solidariedade, generosidade, altruísmo não são nem virtudes e nem sentimentos inatos. Ao contrário, ao nascer, a ação do ser humano é determinada apenas pelo impulso à sobrevivência. A criança bem pequena é egocentrada, focada apenas em suas necessidades e em seus desejos. É justamente por isso que a criação e a educação de crianças precisa ser um compromisso civilizatório.

Bullying tornou-se muito violento e frequente

A existência do bullying, hoje tão frequente e tão violento, maximizado ainda na forma de cyberbullying, pois pode ocorrer nas mídias sociais, plataformas de mensagens, plataformas de jogos e celulares, só consegue ser combatido, por um aprendizado para a civilidade.

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Evidentemente, o bullying pode ser praticado a crianças e adultos. Porém, no caso das crianças, o sofrimento pode ser maior, pois elas ainda são indefesas. Aliás, quando crianças sofrem bullying, na maioria dos casos, essa agressão vem de outras crianças, que se tornam cruéis pela falta de educação adequada.

Cumpre aos pais, dentro de casa, ensinarem o que é certo e o que é errado para os seus filhos. Quando os pais ficam calados diante de um filho(a), que fala que na escola tem um colega esquisito por ser de cor diferente da sua, ou um credo diferente, ou que tem tal ou qual deficiência física, por exemplo, estão estimulando seu filho(a) a praticar bullying.

Nesse contexto, cabe aos pais ensinarem aos seus filhos(as) que diferente é igual a diferente, e ponto. Entretanto, a educação não se faz por completa apenas com palavras. Faz-se necessário os pais servirem de exemplo para seus filhos. Não raro há pais, mesmo em tom de brincadeira, que estimulam seus filhos(as) a serem preconceituosos, falando frases racistas, xenófobas, homofóbicas, entre outras, que acabam “educando” a criança para a prática desrespeitosa, agressiva, contra colegas que têm ou vivem em condições diferentes da dela.

Reduzir o bullying: o papel do professor

Cabe aos professores, trabalharem o tema do bullying com toda a classe e não se dedicarem apenas aos cuidados com a vítima e o agressor, pois os outros colegas são as testemunhas dessa ação desrespeitosa violenta e, em geral, permanecem caladas, omissas com medo de serem as próximas vítimas.

Na classe é necessário estimular a empatia nas crianças, para que elas possam se colocar no lugar da vítima e sentir o que ela sente. A empatia é a capacidade psicológica de sentir o que sentiria a outra pessoa, caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela.

Desenvolver a capacidade para a empatia no grupo das crianças é torná-las sensíveis aos sentimentos dos outros. Desenvolver a capacidade para solidariedade nelas é torná-las fortes e combativas nas atitudes de ajuda à criança que, no momento, é vítima. A empatia e a solidariedade, como competências, leva as crianças a abandonarem o papel de testemunhas passivas e a se tornarem heróis e heroínas no empenho para ajudar umas às outras, neutralizando as ações do agressor.

É psicóloga especializada em psicoterapia de crianças e adolescentes. Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC e autora de vários livros, entre eles 'Pais que educam - Uma aventura inesquecível' Editora Gente.