por Roberto A. Santos
Em 1997, a Revista Exame lançou no Brasil a idéia de publicar uma lista com as "melhores empresas para se trabalhar", seguindo iniciativa da americana Fortune. A base desta eleição é a pesquisa criada por Robert Levering, consultor americano, aplicada a uma amostra de funcionários das empresas candidatas, além de um levantamento de suas políticas e práticas de R.H.
Segundo Levering, as dimensões que determinam a avaliação positiva pelos membros de uma organização são: credibilidade (comunicação, integridade e competência) da gerência, respeito, justiça, orgulho e ambiente de camaradagem. As empresas aprovadas nestes quesitos devem ter uma melhor capacidade de atrair e reter os melhores talentos do mercado.
Na Era da Informação, o capital intelectual das empresas é o que as diferencia e o item mais difícil de ser copiado pela concorrência. Em tempos de competição feroz, a capacidade de atração e retenção pode ser chave para a sobrevivência no mercado.
Infelizmente, começou-se observar alguma distorção com relação ao Guia da Exame em nosso país. De um lado, algumas empresas começaram, por motivos errados, a exigir de seus R.H.'s que conseguissem ingresso gratuito para a famosa lista. Da noite para o dia, se apagariam vícios de administração e posturas desrespeitosas com relação às pessoas sumiriam de suas memórias. Isso sem contar a implantação de "melhores práticas" desvinculadas da realidade do negócio e da cultura da empresa.
É provável que essa pressão psicológica tenha permitido acesso ao sonhado éden a algumas empresas que não são, autenticamente, bons exemplos pelos critérios de Levering. Realizado o sonho, será que essas empresas vitoriosas, ao primeiro soluço da economia, manterão as mesmas condições?
Do outro lado, à medida que aquele guia ganhou credibilidade no mercado de trabalho, ele passou a ser o alvo de currículos e cartas para entrar na terra prometida. Entretanto, cabe a pergunta: qual é a melhor empresa para Você trabalhar?
Qual é a melhor empresa para trabalhar?
Na atual conjuntura, falar em escolher a empresa pode parecer coisa de sonhador. No entanto, mesmo dentro de listas de melhores ou razoáveis empresas, existem aquelas nas quais poderemos ser mais bem sucedidos e felizes, em relação a outras.
O fator que diferencia a empresa melhor para você trabalhar não é se ela figura ou não em uma galeria de honra, mas sim o quanto de alinhamento existe entre seus valores pessoais e aqueles da corporação que você está considerando. Por exemplo, se você é uma pessoa avessa a tradições e conservadorismo, deveria evitar trabalhar numa empresa familiar, onde o próprio dono, já septuagenário, administra pessoalmente todos os negócios, como seu pai fazia.
Com que tipo de pessoa, grupo ou empresa temos química?
O conjunto de valores, motivações, interesses e preferências define nossa identidade pessoal ou personalidade interior. Este software mental desenvolvido, principalmente, durante nossa formação familiar, escolar e social, é o que vai definir com que tipo de pessoa, grupo ou empresa temos química.
Outro exemplo, se você é uma pessoa que tem muita necessidade de contatos sociais, e lhe é oferecido um ótimo cargo de técnico num laboratório, onde raramente terá contato com pessoas, não adianta se empolgar com o salário e outras condições; esse desalinhamento com o que importa profundamente a você, cedo ou tarde, vai lhe trazer problemas de adaptação e você acabará saindo da empresa por iniciativa sua ou dela mesma.
A empresa melhor para você trabalhar é aquela em que possa viver plenamente, realizando seus anseios profissionais e tendo suas motivações mais importantes atendidas. Uma revisão pessoal, consciente e honesta, do que o motiva ou desmotiva, poderá lhe propiciar um gabarito para avaliar as empresas.
Os candidatos a empregos devem ter os mesmos direitos de fazer perguntas sobre o local onde vão investir seu capital intelectual. Se uma empresa é refratária a este tipo de postura de um candidato, então já é um bom sinal de que esta pode não ser a sua melhor empresa para trabalhar.