por Renato Miranda
Em tempos de Jogos Olímpicos, há espaço, como sempre, para todo tipo de debate, principalmente em torno do alto nível de exigência em relação ao desempenho dos atletas em relação à rapidez, força, compleição física.
Os Jogos não se resumem na disputa esportiva propriamente dita. Por ser o maior fenômeno de massas do planeta, aproveita-se também para discutir, refletir, questionar, pensar, agir, etc. a respeito de quase tudo que se refere à humanidade. Não por coincidência, vários presidentes e autoridades públicas acompanham os eventos dos Jogos.
Hoje o COI (Comitê Olímpico Internacional), além de ser divulgador e promotor do esporte, cultura e meio ambiente, empenha-se em dispor o próprio esporte a serviço da humanidade. De questões esportivas às políticas propriamente ditas, tudo é inserido como tema de discussão nos Jogos.
O mais alto, o mais rápido, o mais forte
No entanto, a máxima ideológica do precursor dos Jogos Olímpicos Modernos, Pierre de Coubertin, Altius (o mais alto), Citius (o mais rápido), Fortius (o mais forte), ainda é de longe o baluarte das discussões, polêmicas e gasto de milhares de dólares. Ora na reflexão sobre o sacrifício e dedicação dos atletas em melhorar constantemente seus desempenhos, ora em função da seleção e treinamento de crianças para o futuro esporte olímpico e outros assuntos como doping, meio ambiente, tecnologia de equipamentos e roupas esportivas, metodologia de treinamentos e tantos mais que poderíamos esgotar esse texto ao citá-los simplesmente.
Todavia, ser o mais rápido, mais alto e forte, reverbera aquilo de mais emblemático que os jogos têm: o ser humano. Será que essa máxima, nos dias atuais poder ser avaliada apenas como repercutir resultados? E mais, será que o atleta olímpico consagrado se resume nos resultados?
Dara Torres, atleta norte-americana de natação, de 41 anos de idade demonstra que não. Ela, que foi atleta medalhista olímpica aos 16 anos, hoje volta aos Jogos, depois de casar, parar de treinar e ser mãe. Mesmo antes de cair na piscina ela já pode ser considerada uma campeã. Outro exemplo é dado por Eric Shanteau, também da natação norte-americana, que mesmo depois de descobrir que estava com câncer nos testículos, antes dos Jogos, resolveu competir por se achar um felizardo em poder representar seu país em uma Olimpíada.
Pressuposto o homem, como personalidade esportiva, que em suas muitas representações tem no atleta olímpico a referência de um modo de ser, poderá vislumbrar motivações e paradigmas diferentes para o século XXI.
Expectativa: o atleta do futuro
Muitos estudiosos em Olimpismo têm a expectativa que tal percepção do atleta ideal do futuro implica em ser mais rápido (citius), mas não somente na pista, mas também no senso de compreensão e rapidez mental; mais alto (altius), mas não somente no saltar com também na elevação moral do indivíduo e mais forte (fortius), não somente nos estádios de competição, mas também ao se deparar com os desafios da vida. Aqui está contemplado o perfil do atleta que não faz uso de drogas, da violência, de meios ilícitos para vencer e que luta por melhores condições de vida no mundo através do esporte. Espera-se que este perfil seja a representação do fair play (espírito esportivo – jogo limpo) em um futuro próximo.
Portanto, o ideal olímpico redimensiona o mérito da vitória, mesmo não descartando sua importância, mas, sobretudo, diz respeito a algo mais abrangente e complexo. O estímulo que um atleta olímpico pode dar à sociedade vai além da formação de um campeão. Na verdade, pode extrapolar as quadras, pistas e piscinas e atingir o cidadão, no sentido de vislumbrar na prática esportiva mais uma oportunidade de promover cultura, tradição e saúde psicofísica.
Podemos reconhecer que em qualquer nível (amador, profissional, lazer etc.) o esporte pode acomodar várias mazelas do comportamento humano, como a desonestidade, violência e outras, mas também é possível aceitar que o esporte pode auxiliar perfeitamente na construção dos valores mais nobres do homem.
Para tanto é preciso:
– Proporcionar espaço adequado para a prática de esportes (infra-estrutura pública e privada: instalações e materiais esportivos);
– Formação de recursos humanos de alta qualidade (profissionais relacionados ao esporte);
– Criar políticas para o esporte a curto, médio e longo prazo, promover e divulgar os esportes olímpicos nas escolas regulares e universidades.
Como conseqüência natural acima de tudo, teremos a conscientização que o esporte é tradição cultural que serve a todos aquilo que tem de melhor: momentos de divertimento e prazer.