por Patricia Gebrim
Imagine que você seja um biólogo e tenha dedicado a sua vida a encontrar uma espécie rara de flor. Por anos e anos você enfrentou todo tipo de dificuldade na busca dessa flor sagrada. Escalou montanhas, enfrentou a fúria de horrendas tempestades, foi atacado por ladrões, dormiu ao relento, ganhou bolhas nos pés e teve que manter viva a chama da esperança no seu coração.
Ah … Quantas vezes você se frustrara, achando que encontrara sua rara flor, para em seguida descobrir que o que tinha em mãos era apenas uma flor comum, igual a todas as outras… Mas a maior e mais perigosa das dificuldades se escondia nos recantos de seu próprio coração, momentos assustadores em que você, secretamente, duvidava da existência da tão desejada flor. Apesar de se manter em uma atitude de busca e fazer tudo o que era aparentemente necessário para encontrá-la, algo dentro de você duvidava.
O que você não sabia era que o fato de duvidar, mesmo que secretamente, ofuscava a sua visão, nublava sua percepção, boicotava sua intenção.
Mas um dia algo tocou você. Talvez o cansaço da busca misturado a tantas coisas aprendidas pelo longo caminho percorrido, tenham tornado sua casca menos dura, tenham exposto mais sua essência, a beleza do seu verdadeiro Ser. Mas o fato é que um dia seu coração se abriu, pétala por pétala. Corações abertos fazem bem para nossos olhos, nos fazem enxergar melhor, e foi o que lhe aconteceu naquele dia. É difícil explicar esse momento, quando um olho interno se abre para nós, quando tudo fica tão claro, que se torna impossível deixar de perceber a beleza de tudo. Mas foi assim, de repente, que você olhou ao redor e se viu em meio a um vasto campo florido. Por um instante você se esqueceu da sua flor e se permitiu encantar com a beleza do que via.
Foi caminhando por entre as flores, eram florzinhas do campo, pequenas e comuns … e com gentileza, como nunca acontecera antes, você se agachou ao lado de uma minúscula margarida, igualzinha a tantas outras que se espalhavam em todas as direções. Mas como tinha novos olhos, naquele dia você conseguiu ver. Percebeu a delicadeza das suas pétalas, o contorno arredondado do miolo dourado, a singeleza das formas. Você estendeu a mão na sua direção para sentir o toque aveludado de seu caule e sua mão se movia com tanto zelo que o movimento era feito da mais pura poesia. No exato momento em que tocou a flor, algo incrível começou a acontecer … a florzinha começou a se abrir, movida pelo brilho do seu olhar, tocada pela delicadeza do seu toque… e em questão de segundos uma transformação aconteceu. A pequena margarida se transformou em uma flor maravilhosa, única, rara em sua forma e beleza, ainda mais bela do que você jamais imaginara que uma flor pudesse ser.
– Finalmente! pensou você, com lágrimas nos olhos.
E foi naquele momento, fitando a maravilhosa flor, aberta e entregue em suas mãos, que você compreendeu que, apesar de poder colher a mais rara de todas as flores, algo que você tinha buscado por toda a sua vida… Já não era capaz de arrancá-la da terra.
Já não fazia sentido possuí-la ou causar-lhe mal algum.
Foi naquele momento, e somente naquele momento, que você compreendeu o sentido da palavra amor.