por Regina Wielenska
Precisa haver um ajuste na medida certa" Muitos estudos já demonstraram resultados positivos derivados de práticas psicoterápicas, para uma variedade de problemas clínicos e de populações atendidas.
O tema é amplo e complexo o suficiente para exigir investigações mais completas e aprofundadas mas, de um modo geral, dá para afirmar que terapias tendem a funcionar.
Mas o que poderia produzir o insucesso de alguma terapia?
Tentarei especificar as razões mais prováveis, de forma a ajudar os leitores a entenderem as possibilidades e limites das terapias.
Uma piada clássica, que de tão velha talvez tenha perdido sua graça original, é a pergunta sobre quantos psicólogos são necessários para trocar uma lâmpada queimada. A resposta é reveladora: basta um, desde que a lâmpada queira ser trocada… Pois é, fazer terapia requer haver vontade, por parte do cliente, de explorar temas difíceis, que constituam seus problemas. Nem todo mundo está nessa condição.
Há quem se sujeite à terapia apenas para calar a boca dos pais, ou outro familiar, que pressionou a pessoa a procurar ajuda de um psicólogo. Outra razão do insucesso seria a pessoa fazer terapia apenas buscando que um profissional confirme que seus pontos de vista estão “corretos”. Alguém que funcione assim recusa qualquer interlocução mais questionadora, não está aberto a perspectivas que lhe afastem de suas premissas rígidas. E terapia costuma levantar poeira, agitar o que está parado, revelando ângulos diversos de um mesmo fenômeno. Ela serve, outrossim, para quem vai em busca do novo, do profundo, daquilo cujo potencial seja realmente transformador, ainda que possa ser um tanto incômodo, agora ou depois.
Psicoterapia também não continua se o cliente estiver apenas em busca de respostas prontas, receitas de bolo para dar conta dos problemas. Em termos gerais, dá para dizer que um terapeuta não pode decidir sobre a vida do cliente, esse precisa aprender sobre seu funcionamento pessoal, passando então a ter mais autonomia e a se responsabilizar “feito gente grande” pelas decisões tomadas.
Outra razão do insucesso são os casos nos quais a terapia serve apenas para cumprir uma sentença judicial, para livrar a pessoa de uma pena, mais restritiva da liberdade; essas podem ser situações nas quais o “sentenciado” não teria qualquer interesse em se conhecer melhor e rever sua vida, deseja apenas escapar da temporada entre as grades.
Também pode haver insucesso com base em aspectos do terapeuta. Por exemplo, ele pode estar desatualizado ou ter tido uma formação insuficiente acerca de determinado problema clínico, sem que se aperceba disso. Nesse caso pode fornecer ao cliente um bem intencionado mas insuficiente tratamento, com chances reduzidas de mudança efetiva.
Terapeuta e cliente são como fôrma de sapato e o pé de quem o utiliza. Precisa haver um ajuste na medida certa, que favoreça o desenvolvimento do cliente, por meios éticos, cientificamente validados, num relacionamento intenso, respeitoso, especial; o terapeuta está por inteiro na sessão, e essa deve servir para favorecer a autodescoberta do cliente. Sapatos tortos ou largos demais não acomodam bem o pé e nem os que apertam demais favorecem a caminhada pela estrada do desenvolvimento pessoal.
Quando uma dupla não se ajusta, talvez valha a pena conhecer outras possibilidades, diferentes estilos de terapia, profissionais que sejam indicados por amigos ou um médico de confiança, gente que conhece a pessoa que precisa se tratar e consegue estimar razoavelmente bem se aquele terapeuta sugerido tem chance de se encaixar com o cliente.
Outras razões levam ao insucesso, mas essas servem como ponto de partida para reflexões acerca da fina sintonia a se construir entre um terapeuta e seu cliente.
Principais fatores de insucesso numa terapia:
1ª) Fazer terapia pressionado por alguém sem de fato estar com vontade de se tratar;
2ª) Fazer terapia apenas buscando um profissional que confirme seus pontos de vista;
3ª) Psicoterapia não continua se o cliente estiver apenas em busca de respostas prontas por conta de seus problemas;
4ª) Quando a terapia serve apenas para cumprir uma sentença judicial para livrar a pessoa de uma pena;
5ª) Falta de preparo do terapeuta para tratar da demanda do cliente;
6ª) Falta de empatia (ou fina sintonia) entre terapeuta e cliente.