por Antonio Carlos Amador
Existem pessoas que se sentem infelizes, mesmo dispondo de um ambiente favorável, com poucas dificuldades para conseguirem o que almejam. Se não há inimigos, ou grandes obstáculos externos, qual é o problema delas?
Muitas vezes o principal obstáculo pode estar na própria pessoa, quando ela mesma se torna e age como se fosse seu principal inimigo.
Há inúmeras barreiras com que se defronta uma pessoa que busca construir uma vida digna. Uma delas é privar-se de um grande número de oportunidades, o que constitui uma espécie de castigo. Na maioria das vezes quando isso ocorre é por que a autoestima está baixa, faltando “amor-próprio” e autoaceitação. Ela não tem permissão interna para pensar: “Eu posso desfrutar dos mesmos direitos que concedo aos outros”.
O reconhecimento do próprio valor implica a consideração de ser tão importante na vida como os demais. Para muitos isso não é fácil; não sabem ou não se permitem julgar-se com objetividade. Exaltam as virtudes alheias e são capazes de perdoar os maiores erros e defeitos dos outros, mas são tremendamente injustos consigo mesmos, exigentes e até mesmo cruéis. Esse tipo de comportamento pode vir a produzir uma amargura, que desemboca invariavelmente na depressão e no comportamento neurótico.
Essa forma de ser e sentir está relacionada, em geral, a padrões de aprendizagem inadequados experimentados ao longo do desenvolvimento. A criança, desde seu nascimento é egocêntrica, ainda não tem consciência social e pensa que tudo que a circunda lhe pertence. Uma ideia que é corroborada pelo fato de que ela costuma habitualmente ser o centro das atenções da família. É mais tarde, através da educação formal e do contato com outras crianças, que ela descobre que há outras pessoas que, como ela, merecem respeito e consideração. Uma educação correta canaliza o egocentrismo para os outros em sua medida justa.
Infelizmente, muitas normas sociais e educativas são incutidas na personalidade de forma desmedida e inadequada, sobretudo quando são infundidas ideias baseadas na culpa, na dúvida e no arrependimento. O ato de antepor os direitos próprios aos alheios passa a ser absolutamente criticável. Alguém que tenha seu caráter forjado num ambiente caracterizado por tais práticas e valores possivelmente se tornará um adulto que confundirá, mais ou menos subconscientemente, o que por justiça merece e o que seria egoísmo censurável. Por isso, para evitar os terríveis sentimentos de culpa ela opta pela negação de todo e qualquer reconhecimento meritório. E se comporta em relação a si mesma como se fosse um inimigo, ao qual não se deve dar a mínima oportunidade.
Uma personalidade que amadureça nessa linha de conduta costuma sofrer dificuldades quando tem que demonstrar suas aptidões e habilidades. Todas as suas energias se dispersam, faltando-lhe foco e tranquilidade. Para complicar ainda mais uma parte de sua consciência atua como um inimigo interior que bloqueia a espontaneidade.
Isso constitui um traço de comportamento negativo e, embora a pessoa tenha a falsa convicção de que se ela é assim há muitos anos já não pode mais mudar, uma psicoterapia pode ajudá-la.
O primeiro passo é tomar consciência de que o problema existe, para depois observar a própria conduta diária, prestando atenção na quantidade de vezes em que se priva de pequenos prazeres pensando que falta merecimento. E, a partir daí, reconhecer e valorizar os menores sucessos e esforços positivos. Agindo assim uma pessoa talvez possa aprender a lutar por aquilo que considera mais importante e que por justiça merece.