por Elisa Kozasa
Lembrei-me de uma conversa com um amigo, desses que as pessoas julgam afortunados: ainda bastante jovem, ganhou uma herança substancial que o permitiria não trabalhar mais, se esse fosse seu desejo.
Mas, em uma conversa, pouco após separar-se de sua ex-esposa, ele soltou uma frase que gerou polêmica durante um jantar em que ele era o único “não proletário”:
“Gente, posso dizer para vocês por experiência própria que dinheiro não traz felicidade!”.
Aposto que, assim como a maioria dos convidados daquele jantar, o leitor deve estar se perguntado: “Como?”
Bem, a partir deste ponto gostaria de fazer algumas considerações, como a que Eduardo Giannetti coloca na contracapa de um de seus livros:
“Discutir a felicidade significa refletir sobre o que é importante na vida. Significa ponderar os méritos relativos de diferentes caminhos e pôr em relevo a extensão do hiato que nos separa, individual e coletivamente, da melhor vida ao nosso alcance”
O que acredito trazer felicidade para mim, talvez não traga para o outro, em especial se ele já desfrutou do que estou buscando, e esteja neste momento tentando sanar alguma outra carência.
Por outro lado, quantos de nós fizemos alguma pausa proposital, consciente, apenas para refletir sobre o que nos traz felicidade?
Será a felicidade algo inatingível como acreditam os mais pessimistas, ou será objeto de consumo rápido e fácil como vendem alguns livros de auto-ajuda?
Dalai Lama
Esta necessidade de uma reflexão, para traçar estratégias para a conquista da felicidade possível, é ressaltada pelo próprio Dalai Lama:
“A adoção da felicidade como um objetivo legítimo e a decisão consciente de procurar a felicidade de modo sistemático podem exercer uma profunda mudança no restante de nossas vidas”
Envolvidos na luta pela sobrevivência muitos sequer questionam o que estão fazendo nas suas vidas e com suas vidas. “Tenho que trabalhar e pronto. Não interessa se gosto ou não do que faço. As crianças estão lá em casa e precisam que eu trabalhe”. “Este negócio de felicidade é prá gente rica e de vida boa”. É possível que muitos pensem assim, mas hoje em dia já existem pesquisas a respeito de fatores que podem influenciar a felicidade que parecem revelar informações surpreendentes.
Por exemplo, em uma revisão de literatura, *Ferraz e colaboradores concluíram que a felicidade “É um fenômeno predominantemente subjetivo, estando subordinada mais a traços psicológicos e socioculturais do que a fatores externamente determinados”, contrariando a visão de muitos que acreditam que estar bem depende essencialmente da busca e conquista de objetivos externos.
Isto me faz lembrar uma entrevista da atriz Regina Casé com um garoto de família humilde do Nordeste, que adorava ir para a praia surfar com sua pranchinha amarela junto com os amigos. Quando questionado a respeito de riqueza e felicidade, ele disse em sua simplicidade que ele era feliz e que estava satisfeito com o que tinha (a tal pranchinha amarela), com um sorriso verdadeiro típico de uma criança. Por outro lado, creio que muitos já nos deparamos com uma cena em uma loja de brinquedos, em que uma criança mimada faz escândalo pelo fato do pai se recusar a comprar o videogame de última geração.
Felicidade passageira
Tive o privilégio, há alguns anos atrás de assistir a uma palestra do prêmio Nobel de economia Daniel Kahneman e de participar de um grupo de discussões com ele em seguida. Uma de suas pesquisas a respeito de fatores relacionados à felicidade mostrava o quanto eventos aparentemente transformadores como um casamento ou ganhar na loteria tinham um efeito menos permanente do que a maioria de nós imagina. Em um gráfico ele mostrava que o nível de “felicidade” no momento do casamento ou logo após ganhar na loteria, tinha um aumento incrível, mas que logo após alguns meses, voltava a um patamar muito semelhante ao anterior a esses eventos. Em um primeiro momento isso pode ser inacreditável, mas é só nos lembrarmos de alguns exemplos conhecidos como o da princesa Diana, e seu casamento literalmente de contos de fadas, e os fatos que se sucederam após esse evento, incluindo traição, perda da liberdade, perseguição pela imprensa e transtornos mentais como a depressão.
Parece que, de alguma maneira, depender muito de eventos externos para atingir um estado de felicidade mais ou menos permanente, não é uma boa alternativa. Recentemente, lendo um livro de Mathieu Ricard, um francês PhD em biologia molecular, que hoje vive no Nepal, ex-aluno de um prêmio Nobel no Instituto Pasteur e que desde a década de 70 tornou-se um monge da tradição budista, pude capturar mais alguns indícios de que a tal felicidade depende muito do cultivo de uma riqueza e estabilidade interiores, a partir do momento em que as necessidades materiais básicas estejam sanadas.
Ele conta que apesar de ser filho de um famoso filósofo agnóstico e de uma artista plástica e tendo tido o privilégio de conviver com grandes intelectuais, ele descobriu que muitas dessas pessoas não podiam ser consideradas exemplos de vida. Durante suas viagens para o Oriente, porém, ele descobriu em mestres praticantes de meditação, que viviam em pequenas cabanas, uma humildade e sorriso verdadeiros, aliados a uma inabalável fortaleza interior frente às adversidades. E, como ele mesmo descreve, dentro de um espírito científico, ele sentiu uma irresistível necessidade de descobrir este caminho de vida.
A partir da leitura deste texto e principalmente dos livros e artigo sugeridos abaixo, sugiro uma profunda reflexão: do que depende e quanto custa minha felicidade?