por Roberto Santos
São incontáveis as encruzilhadas de carreira com as quais nos deparamos em diferentes fases de nossas vidas. Esses momentos tornam-se mais ou menos dramáticos dependendo de quanto as fronteiras entre a vida profissional e pessoal se misturam, gerando possíveis conflitos existenciais até.
Num conflito de fronteiras, geralmente nos sentimos desarmados e desamparados porque, repentinamente, todas as premissas que forneceram uma zona de conforto para uma carreira meio que desaparecem sob nossos pés e gritamos por Socorro!
Essas premissas podem ter começado a ser construídas quando, ainda crianças, ouvíamos a tradicional pergunta: O que você vai ser quando crescer? Médico, bombeiro, professor, veterinária, milionário ou jogador de futebol são algumas alternativas que o imaginário infantil projeta na tenra idade para o futuro distante.
Depois vem a escola com as prováveis decepções Matemáticas e afins, o enjoo com as Biológicas, a impaciência com a História e Geografia e as projeções infantis vão sendo confirmadas ou reparadas. O futuro médico se dirige para a engenharia. O jogador de futebol perna-de-pau para a Ortopedia e assim por diante.
Esse processo pode ser bem fundamentado ou movido por outros fatores como a crença da felicidade vocacional por hereditariedade, quando jovens seguem os passos de seus pais ou motivados pela simples chance de se conseguir um emprego. Essa talvez seja a primeira encruzilhada de carreira:
Sigo a carreira que sonho ou a que preciso?
As pressões interiores em que nos colocamos pelo desejo ou necessidade imperiosa de independência precoce provocam um turbilhão de questionamentos nos jovens que tentam amenizar suas desilusões propondo-se a adiar suas verdadeiras vocações para o futuro. Os futuros Astrônomos vão fazer Administração de Empresas e os futuros diplomatas partem para o Turismo ou Hotelaria.
Mais adiante, durante seu curso superior ou após a formatura, novo choque: quem disse que teria um emprego decente esperando por mim? Se der sorte, consegue-se oportunidades como “escraviário” ou “treinista de papel”, que despacham a carreira dos sonhos para um tempo cada vez mais distante. Valeu a pena abandonar o sonho? A bolsa-auxílio ou mesmo o salário paga a frustração dos ideais abandonados?
Ser o melhor no que se faz é a única chave para o sucesso
Entretanto, uma luz deve ser enxergada e seguida, seja ela para o caminho de volta à preferência vocacional ou com foco na aplicação dedicada e positiva à nova carreira que se abraçou. Se ficar no meio do caminho o bicho pega e/ou come com relativa voracidade. Ser o melhor no que se faz é a única chave para o sucesso e ela está sempre sendo aperfeiçoada para abrir com maior facilidade aquela porta tão sonhada.
Outra encruzilhada pode surgir mesmo para aqueles que encontraram o sucesso financeiro pela via do aperfeiçoamento contínuo que resultou em desempenho reconhecido por empregadores ou clientes:
Abandonei minha vocação pelo dinheiro em troca de realização pessoal. Vale a pena voltar atrás?
Esta encruzilhada é mais complicada, porque o dinheiro paga contas essenciais e os deliciosos supérfluos. É mais fácil falar do que de fato se abrir mão dos benefícios que uma remuneração relevante nos proporciona. A proposta de se forçar a uma decisão radical de dar uma guinada ou de descer dos sonhos de uma vez por todas soa artificial como livros de autoajuda.
Talvez, a saída para esta encruzilhada seja a busca de atalhos entre um caminho e outro que possamos explorar em paralelo à nossa estrada principal.
Isso pode ser feito por meio de voltarmos a estudar algo relativo à vocação abandonada para reativarmos antigos conhecimentos e obtermos novos, ou de tentarmos alguma transferência para uma área mais afim com aquilo que queremos. Uma terceira via poderia ser a mudança para outra empresa de ramo ligado à nossa vocação, onde iniciamos com o que podemos contribuir de imediato e projetamos rotações futuras para aquilo que sonhamos. O passeio por esses atalhos poderá confirmar, ou não, o quanto aquele sonho ainda é a resposta para nossa existência futura.
Outras encruzilhadas são aquelas que não têm a ver com vocação abandonada mas com o preço que estamos dispostos a pagar pela qualidade de vida, ou seja:
Tenho muitos anos num mesmo emprego que já não me traz satisfação e realização. Devo valorizar a estabilidade e segurança na minha qualidade de vida?
São inúmeras as fontes de insatisfação com as quais podemos nos deparar nessas encruzilhadas: um “chefe-mala” em suas mais variadas formas de incompetência, ou ambientes de trabalho azedados por pretensos colegas, aos quais não se pode dar as costas ou pelos quais precisamos andar com velcro sobre os tapetes, além de outras condições de trabalho insalubres ou insanas.
A balança aqui terá como fiel, em grande parte, a necessidade de segurança, previsibilidade e minimização de riscos que caracteriza nossa personalidade. Devemos respeitar essa individualidade sem perder de vista o grau em que nossa saúde física e mental estão sendo deterioradas. Dar-se a alternativa de olhar para o mundo exterior para compararmos com o emprego aparentemente seguro que temos é sempre saudável para não criarmos nossas próprias prisões mentais.
Outra encruzilhada que podemos encontrar na carreira é aquela que, a princípio, nem parece um dilema, mas apenas uma vitória:
Devo aceitar uma promoção para um cargo de chefia mesmo gostando demais da atividade profissional que eu desenvolvo?
A sedução do aumento salarial, de benefícios diferenciados, dos símbolos de status e do reconhecimento que embrulham uma proposta dessas só nos parece mesmo um presente em nossa carreira, e muitas vezes é isso mesmo — motivo para celebração!
Contudo, devemos ter muito claro que esta transição em que deixamos de ser técnicos ou vendedores que contribuem individualmente apenas com suas competências pessoais e técnicas se trata, na realidade, da entrada em um território, com novas regras e fronteiras. Nossos resultados passam a depender do desempenho dos outros e não apenas do nosso. As competências técnicas e funcionais que, provavelmente, nos propiciaram esta promoção podem ajudar parcialmente, mas não serão mais suficientes. As competências de liderança são as diferenciadoras de um chefe bem-sucedido daquele fracassado.
Rejeitar uma promoção para um cargo de liderança é coisa rara, pois os mecanismos sedutores são muito persuasivos. Porém, aos mais corajosos, que reconhecem suas limitações na gestão de pessoas, esta pode ser a decisão mais sábia para evitar o fracasso ou insatisfação no longo prazo.
Outro caminho dessa encruzilhada é de optarmos pelo abandono dos paradigmas técnicos e profissionais que nos destacaram e promoveram para a supervisão. Reconhecemos a obrigatoriedade de adquirirmos um conjunto de novas habilidades e atitudes nessa nova carreira que se avista à sua frente para que a empresa não perca um ótimo técnico ou vendedor para ganhar um péssimo chefe-mala-sem-alça.
Essas encruzilhadas que frequentemente se interpõem em nossas carreiras podem ter colorações e tonalidades distintas, mas sua essência é sempre aquela que nós queremos preservar em nossas vidas: a da coerência de nossos valores, crenças e personalidade que produz a tão sonhada realização profissional e pessoal. Se você não sabe muito sobre isso, então comece a se conhecer para não gritar por socorro quando já estiver se afogando.