por Joel Rennó Jr.
"Por gentileza, precisamos de ajuda. Não sabemos mais o que fazer com a mamãe. Ela está com depressão e parece que está contaminado toda a família."
Resposta: A depressão costuma ser uma doença crônica, que afeta várias esferas da vida de uma pessoa, com sérios prejuízos em todas elas: familiar, pessoal, social e profissional.
A depressão mais grave pode também estar associada a outros transtornos psíquicos como ansiedade, alcoolismo, transtornos alimentares, etc… Isso pode causar ainda mais estresse ao paciente e a todos que convivem com ele devido ao alto nível de disfuncionalidade e dependência do paciente deprimido.
O deprimido requer um acompanhamento médico e familiar contínuo. Isso em determinados contextos pode interferir na dinâmica familiar do paciente.
Algumas pessoas querem ajudar, mas se sentem "impotentes" ou "cansadas" para tal depois de um determinado período. Em determinados momentos da depressão, a família relata estar "perdida", sem saber o que fazer e precisa ser muito bem orientada. Nessas horas, compartilhar esses conflitos em grupos de autoajuda ou psicopedagógicos como a ABRATA (www.abrata.org.br ) podem ser de grande ajuda aos familiares de pacientes que sofrem de depressão.
Outro fator que estressa alguns parentes de deprimidos é o medo do suicídio do ente querido e todos os cuidados e atenções que isso requer por parte dos familiares. Uma boa aliança terapêutica com o médico do paciente e com outros familiares de deprimidos pode aliviar, em parte, tal angústia. Em outras situações, algumas pessoas, pelo contato contínuo com deprimidos, podem também precisar de uma ajuda especializada. Temos cargas genéticas diferentes, vulnerabilidades distintas, mas um fato é real: o estresse é o principal "gatilho" da depressão em todos nós, mesmo que com "cargas" diferentes e suscetibilidades individuais.
Só quem cuidou ou cuida rotineiramente de alguém com depressão grave é que sabe o quanto isso consome a pessoa no dia a dia. Seria uma espécie de "contaminação psíquica" que pode ser gerada. Nas relações com o deprimido, as chamadas "relações transferenciais e contratransferenciais" podem levar a uma "disseminação" da doença entre membros da mesma familia.
Apesar das dificuldades, a família deve, dentro do possível, estruturar-se e jamais abandonar o paciente deprimido, por mais repulsa que possa ter por ele em determinado contexto. Alguns ainda não aceitam bem a doença mental, associando-a à "preguiça", "falta de fé" ou "fraqueza". Isso infelizmente está no inconsciente coletivo das pessoas. Mas, quero lembrar que hoje a depressão tem uma base biológica e psicossocial bem estabelecida.
Atenção!
Esse texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracterizam como sendo um atendimento.