Quem demonstra incapacidade de reação está mais sujeito a bullying

por Tatiana Ades

A violência social tem se manifestado abertamente e cada vez mais agressiva.

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O bullying, conhecida agressão gratuita contra o próximo, tem se manifestado principalmente nos recintos educacionais.

Mas será que só existe no âmbito escolar?

Ou será que se torna mais visível nas escolas devido à abundância de “material” humano disponível, onde se torna alvo de agressões vindas de um grupo fortalecido.

Um indivíduo mais tímido, mais introspectivo e mais isolado pode ser escolhido como vítima por um grupo agressor. É o reflexo de uma sociedade e de uma educação não atentas aos sinais de preconceito e falta de respeito ao próximo. É um sinal de frieza quanto ao sofrimento do colega que se torna alvo de risada, de chacota, de alienação quanto ao resto do grupo no qual é obrigado a conviver diariamente.

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Imaginem a frustração e impotência que vai crescendo dentro desse indivíduo atormentado pelas pessoas com as quais deveria sentir-se integrado.

Além de vivermos numa época de violência cada vez mais presente gerando tensão, grande competitividade, falta de valores, falta da perda de limite entre o bem e o mal; vivenciamos um afastamento da educação e do exemplo que os pais deveriam exercer sobre os filhos.

Hoje em dia o casal se vê envolvido num turbilhão de afazeres e preocupações que o afastam do dia a dia das crianças. Assim não se consegue mais ser tão atento e presente quanto à transmissão dos valores sociais sadios e construtivos. Em resumo, as famílias estão exaustas e relegam a educação dos filhos a subalternos ou à instituição educacional. As crianças e os jovens, futuros adultos, precisam de referencial e identidade que lhes assegurem proteção e acabam se agrupando “aos mais fortes” à sua volta para não serem alvos de violência.

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Manifestações

Essa violência, na maioria das vezes, se apresenta de forma camuflada e se manifesta através de um conjunto de atos cruéis, repetitivos, humilhantes, intimadores durante longo tempo contra uma mesma vítima. Essa, por seu lado, não tendo nada de “concreto” para se queixar ou por medo de sofrer novas agressões, mantém-se calada e sofre um processo de destruição psíquica e emocional. Esses danos podem permanecer durante longos anos, camuflados e surgirem de maneira violenta e arrebatadora quando a vitima torna-se adulta e sente-se já pronta para “revidar”.

O bullying tem se tornado um dos fatores de maior responsabilidade pela violência explicita nos últimos anos, com atos de agressividade aparentemente gratuitos, que acontecem contra professores, nos cinemas e em locais públicos. O público alvo que uma vítima de bullying “castiga” nem sempre tem a ver com o perfil que foi o de seus agressores. Por exemplo, o massacre contra a plateia de um filme num cinema. Outras vezes, essa vítima vai jorrar sua raiva, guardada e alimentada durante anos, num local que é réplica de sua miserável e sofrida vivência: exemplo o colégio onde estudou.

Bullying na família

O que tem me chamado muita atenção é o aumento do bullying que ocorre dentro das próprias casas das crianças que se tornam vítimas de pais que, humilham os filhos chamando-os de “gordos”, “bobos”, “incapazes”, etc. Enfim, inúmeros apelidos que constrangem e baixa a autoestima dos filhos com a intenção de chacoalhá-los para que “melhorem”, tornando-se “o cartão de visita” dos pais. Por exemplo, influenciada pela mídia, que mãe não se sentiria orgulhosa de apresentar uma filha magra, delicada, bem educada, elegante, talentosa, obediente? Ou então um filho “bom de bola”, esportista, sonhando com um futuro de grandes realizações ambicioso e bem-sucedido?

Isso se reflete de maneira negativa sobre o desenvolvimento emocional da criança: querendo agradar aos pais, ela deixa de procurar os próprios caminhos para realizar-se e se torna uma pessoa insegura e frustrada, sempre procurando aprovação dos que a cercam.

Humilhação não educa

Pais e educadores devem ficar atentos a qualquer sinal que possa “deixar essa raiva contida” crescer dentro da criança, destruindo sua identidade e sua capacidade de adaptar-se de maneira sadia.

Nem sempre a pessoa escolhida pelo grupo agressor sofre bullying por ser diferente, gorda, usar óculos, etc. A escolha da vítima se deve ao fato do grupo agressor perceber que essa pessoa não irá reagir, não terá coragem de enfrentar e denunciar os assédios.

A vítima pode até ser uma criança linda, inteligente, encantadora, mas com um baixíssimo mecanismo de defesa. Um bichinho acuado! Esse mecanismo de defesa deve ser construído com sólidas camadas de segurança, certeza de ser amado, autoestima fortalecida e valores bem definidos entre o bem e o mal, entre os limites de respeito estabelecidos com o próximo. E essa construção inicia-se no meio familiar.

Vamos refletir sobre este assunto e construir uma sociedade mais sadia.