por Antônio Carlos Amador
“Com um longo futuro à sua frente, o jovem pode minorar o sentido de seus fracassos com sonhos sobre o futuro”
Entre a infância e a velhice cada um de nós possui uma espécie de sentido da nossa própria idade em relação às outras pessoas que nos rodeiam. Quando crianças possuíamos um sentimento generalizado de pequenez e incapacidade.
Na adolescência tinhamos uma sensação de que nos encontrávamos num limiar.
Entre os vinte e os trinta anos, já adultos jovens nos estabelecemos como trabalhadores, contribuintes, mas também como aprendizes. Dos trinta aos quarenta, adultos, queríamos ser reconhecidos pelas nossas contribuições e estávamos menos dispostos a relacionar-nos com os outros como meros aprendizes. Também experimentávamos nesta altura da vida a fase média da paternidade. Através desses anos podíamos frequentemente olhar para trás, mas ainda olhávamos predominantemente para o futuro.
Por volta dos quarenta anos, começamos a perceber que já vivemos metade da vida. Quando olhamos igualmente para a frente e para trás temos consciência da meia-idade. Podemos perceber várias linhas que se entrecruzam no nosso espírito e que nos dão uma experiência particular da nossa idade. Poucas dessas linhas são agradáveis. Há a consciência do aparecimento de uma geração mais nova, que avança na vida e estará ainda viva quando tivermos morrido. Há também o reconhecimento de envelhecimento físico dos órgãos do corpo e nos deparamos com o fato de que essa deterioração leva à morte, que é o ponto final da nossa existência conhecida. Então as noções que formamos sobre a morte estabelecem um limite no conceito que temos de nós próprios e são particularmente críticas no meio da vida.
A noção de morte pessoal está normalmente enraizada no conceito que temos de nós próprios. É um componente intrínseco do sentido realista de nossa própria identidade. Nós reconhecemos através dela que somos finitos e que somos seres humildes como os outros. É assustador mas alivia, porque foi abandonada uma negação que estava arraigada há muito tempo.
Com o sentido de mortalidade incluso na consciência, somos levados a clarificar aquilo que gostaríamos de fazer na vida e a libertar-nos também de sonhos que tem para nós pouco significado ou que são impossíveis.
Na meia-idade a consciência da mortalidade transforma-se no sentido de que metade da vida passou e não nos resta muito tempo. Isto está ligado às perdas, não necessariamente perdas reais, mas esperanças perdidas. Com um longo futuro à sua frente, o jovem pode minorar o sentido de seus fracassos com sonhos sobre o futuro. Mas, na meia-idade, nossa contribuição em relação à vida adulta já está largamente limitada pelo trabalho e pela família. O futuro encontra-se restrito por ambos e pela realidade física de um corpo que envelhece. Os métodos antigos de olhar para o futuro para negar a ansiedade já não bastam; é necessário encontrar um novo equilíbrio.
Antes de sermos capazes de estabelecer esse equilíbrio teremos que enfrentar o problema do tempo, que poderá nos deixar com um sentimento de imobilidade, concluindo que “é tarde demais para começar alguma coisa nova”. Este tipo de fastio pode ser superado procurando simplesmente experiências novas. É preciso que tenhamos confiança e disposição para acreditar que exista qualquer coisa digna de ser buscada. A confiança é o fundamento da esperança, formada em nossa primeira infância. Estamos agora de volta às tentativas, julgando mais uma vez o equilíbrio que podemos esperar entre nossas necessidades e imaginando quando elas serão atendidas. Só que agora não há ninguém que cuide de nós. Nós somos a nossa esperança e devemos descobrir quem é que desejamos ser a partir da meia-idade.