por Ricardo Arida
Embora tenha se observado grandes avanços no conhecimento dos efeitos da atividade física sobre a saúde mental, os mecanismos envolvidos nesses benefícios não estão bem esclarecidos.
A atividade física está associada a uma série de alterações biológicas que podem ter impacto sobre a saúde mental.
Resultados de estudos em humanos e animais têm monstrado que o exercício físico pode estimular a liberação de serotonina, aumentar a expressão de fatores de crescimento neuronal, como o fator neurotrófico derivado do encéfalo – BDNF (clique aqui e saiba mais), aumento da liberação de betaendorfinas, assim como controlar a liberação de vários hormônios relacionados ao estresse.
Essas alterações podem induzir tanto efeitos positivos no estado de humor quanto estimular a formação de novos neurônios (neurogênese) no hipocampo. Outras justificativas para a associação entre exercício e alguns transtornos mentais são a melhora da autoestima e integração social.
É importânte salientar que essa ação pode ser bidirecional, isto é, os sintomas de alguns transtornos mentais podem contribuir para níveis mais baixos de atividade física. A depressão está associada com uma série de mudanças que pode levar à redução da atividade física, tais como uma redução na capacidade de realização do exercício, o isolamento, a fadiga social e a baixa motivação. Ainda, o aumento de um comportamento sedentário está associado a uma piora da saúde física e impacto negativo sobre a saúde mental do indivíduo.
Os trabalhos da literatura científica mostram menores taxas de depressão entre indivíduos fisicamente mais ativos. Entretanto, a análise para esse efeito envolve programas de exercício físico ou prática de esportes.
Estudo publicado na revista British Journal of Psychiatry avaliou a relação entre atividade física e transtornos mentais comuns como a depressão e ansiedade. Foi aplicado um exame clínico em 40.401 residentes da Noruega. Os pesquisadores verificaram se existe uma relação inversa entre atividade física e sintomas de depressão e ansiedade e se existe um efeito dose-resposta de acordo com a intensidade da atividade física. Isto é, uma maior intensidade da atividade pode ou não apresentar um relacão inversa com sintomas de ansiedade e depressão.
Foi observado uma relação inversa entre a quantidade de atividade física e sintomas de depressão. Essa associação estava presente apenas com a atividade de física e não era dependente da intensidade das atividades realizadas. Níveis maiores de integração e apoio social tiveram uma contribuição nesse contexto. Os achados em relação à ansiedade foram mais moderados. Os dados do estudo mostraram que a atividade física regular estava associada com menor relato de ansiedade, mas o tamanho desse efeito foi relativamente pequeno.
Em conclusão, pessoas engajadas em atividades físicas de qualquer intensidade estão menos propensas a apresentar sintomas de depressão.
Os benefícios do contexto social foram importantes na contribuição desses achados.
O estudo tem como limitação a forma sobre como foi realizada a classificação da atividade física: atividade física leve ou intensa. Atividade leve foi definida como uma atividade que não levava o indivíduo a transpirar ou sentir falta de ar, enquanto a atividade intensa era qualquer atividade que resultava em sudorese ou falta de ar. Ainda, os participantes informavam o tempo e o número de vezes que praticavam essas atividades por semana. Nesse sentido, a avaliação sobre o nível de atividade física praticado pelos participantes não fornece informações precisas sobre este tópico.
De qualquer forma, o estudo reforça as informações existentes na literatura mostrando que o exercício regular está associado a redução dos sintomas de transtornos mentais, mas outros fatores como integração e apoio social pode ter uma participação nesse contexto.
The British Journal of Psychiatry (2010) 197, 357–364.