por Ceres Araujo
Astronauta, bombeiro, cientista, bailarina… eram algumas das escolhas de alguns anos atrás. Nos chamados 'Tempos Hipermodernos', mudam as escolhas: corredor de Fórmula 1, jogador de futebol de um bom time europeu, modelo de grife internacional, ator e atriz de novelas de sucesso, músico de banda famosa…
Sonhar é possível e sonhar é desejável. O ser humano só é absolutamente livre no mundo da imaginação. Desde os primeiros anos de vida, a criança tende a se identificar com figuras que ela admira e essas passam a ser seus modelos de identificação.
Tais figuras admiráveis pertencem tanto ao mundo real como ao mundo da fantasia. A criança precisa considerar seus pais como possuidores de qualidades, como pessoas respeitáveis e valorizadas, para que eles constituam bons modelos. Os pais são os primeiros modelos da criança, mas ela necessita encontrar dons, qualidades em outras pessoas que não fazem parte de sua vida de todo dia, mas que ela vê na TV, no cinema, no mundo que a rodeia. São figuras que passam a ser idealizadas. Da mesma forma, a criança vai buscar modelos também no mundo da imaginação e os super-heróis constituem, por excelência, as imagens desejadas.
Assim, se uma criança ao redor de três anos quer ser, por exemplo, o pingüim azul Pablo do desenho Back Yardigans, perfeito! Tal personagem, com seus amigos do fundo do jardim, formam um grupo que aventuram pelo mundo, curiosos, em busca do novo. A vida deve ser vivida como uma aventura e cada um deve ser o personagem principal de sua história e é mediante o lúdico e a fantasia, que a criança começa a aventura de sua vida.
Quando um menino brinca de ser o Super-Homem, Batman ou o Homem Aranha, a menina se veste de Mulher Maravilha, de Ariel ou Fada Sininho, estão treinando seus papéis sexuais e incorporando o poder e o brilho de seus heróis à sua identidade.
Muitas vezes, a criança quer ser o que seu pai ou sua mãe são, tal a admiração que é projetada neles. Pode querer ser também uma das estrelas da TV ou um astro do esporte. Desejos fantasiosos por parte da criança são lícitos. Esses desejos tendem a ir mudando com o tempo, até se concretizarem no final da adolescência na escolha de uma profissão, para a qual, em um processo natural, as aptidões, os interesses e as motivações serão integrados. Esse é o melhor caminho.
É lícito também, que os pais tenham desejos fantasiosos em relação ao filho. Queremos que tudo de mais maravilhoso aconteça a nossos filhos. O conto da Bela Adormecida é uma boa ilustração: para o batizado da princesinha foram convidadas todas as fadas do reino, sendo que cada uma fazia um desejo: que ela seja a mais bonita, a mais inteligente, a mais generosa, a mais simpática, a mais… Podemos desejar todos os dons para nossos filhos, mas não podemos escolher seu destino e nem sua profissão.
Existem, porém, pais que estimulam seus filhos a começarem treinos e exercitarem atividades visando às profissões estreladas e muito bem remuneradas do nosso tempo: corredores de carros, modelos, esportistas, atrizes e atores, estão entre elas. Se uma profissão desse tipo corresponder ao desejo e inclinação da criança e os pais puderem arcar com os custos, tudo bem. Caso contrário, podem estar forçando seus filhos a situações, muitas vezes, constrangedoras ou prejudiciais a seu desenvolvimento físico e psicológico.
Existem, também, pais que querem forçar seus filhos às mesmas atividades que eles exercem, desconsiderando as inclinações do jovem ou da jovem. Ter a mesma profissão de um genitor é possível, mas, ao contrário do que muitos pensam, é um caminho árduo de seguir. É complicado o crescimento profissional, pois corre-se sempre o risco de ser avaliado(a) ou conhecido(a) como filho(a) daquele pai ou daquela mãe e não pelos próprios méritos. Por outro lado competir com o genitor, o que acaba acontecendo muitas vezes, é também complicado, por criar mais conflitos na delicada relação pai ou mãe com o filho(a) jovem adulto que precisa de tornar independente e se afirmar.
Existem ainda pais, que frustrados em suas vidas, querem planejar a vida de seus filhos, para através deles se realizarem, o que é sempre perigoso.
Vivemos um tempo, no qual novas profissões surgem e antigas desaparecem e as mudanças ocorrem em um ritmo vertiginoso. Tendo em mente a vontade de ajudar nossos filhos a se capacitarem para profissões brilhantes, cumpre a nós, isso sim, nos construirmos como modelos íntegros de identidade para eles e lhes dar um exemplo de competência e esforço no trabalho.
Pais que, no fim do dia, chegam em casa reclamando do trabalho, do chefe, da remuneração, do destino, dão um modelo pouco adequado para ser seguido, não só na profissão, mas também na vida.
Na aventura da vida de nosso filho, somos apenas coadjuvantes, pois ele é a estrela e a ele cabe escrever a sua história. Entretanto, como coadjuvantes podemos acompanhá-lo com amor e atenção e carregar todas as expectativas de um futuro o mais brilhante e feliz possível.