Da Redação
Quando se pensa emagrecer, a maioria das pessoas usa a famosa receita “dieta e atividade física”.
Mas há ainda outro importante fator que pode colaborar – e muito – nesse processo: dormir com qualidade. Isso porque é durante o sono que o organismo se recupera das atividades diárias e o ciclo vigília-sono é primordial para o funcionamento do organismo, tanto que a privação do sono está relacionada ao surgimento de várias doenças, como o diabetes e a obesidade.
Para conseguir dormir melhor, é importante se atentar aos principais distúrbios do sono: a insônia e apneia obstrutiva do sono. Cerca de 33% da população adulta mundial apresenta apneia obstrutiva do sono, que são pequenas paradas respiratórias provocadas pelo contato das paredes da faringe, e está relacionada, principalmente, ao aumento dos casos de obesidade e à vida sedentária. Além disso, as mudanças no comportamento e estilo de vida das pessoas, que estão cada vez mais ativas e conectadas, aliadas às preocupações diárias com segurança, saúde e problemas financeiros, vêm elevando o índice de pessoas com insônia: cerca de um terço da população sofre desse mal.
Homens, pessoas obesas, mulheres na menopausa e idosos são os mais acometidos pela apneia. Já a insônia é mais frequente em mulheres e idosos. “A privação do sono ou o sono inadequado trazem sérios riscos à saúde, que incluem redução de atenção e aprendizado, prejuízo da memória, risco de depressão e de acidentes, potencial aumento de hipertensão arterial e infarto de miocárdio, propensão à obesidade e ao diabetes, entre outros”, alerta a neurologista Márcia Assis. “Por isso, é tão importante diagnosticar e tratar esses distúrbios”, completa.
Os principais sintomas são sonolência excessiva, insatisfação em relação à quantidade ou qualidade do sono, ronco, que pode ser acompanhado de pausas respiratórias, e fenômenos físicos como sonambulismo, sonilóquio (fala durante o sono) e terror noturno. A maioria dos distúrbios pode ser diagnosticada com histórico clínico. Já para diagnosticar a apneia obstrutiva do sono é necessário realizar uma polissonografia, exame que pode apontar a gravidade da doença e indicar o tratamento com o CPAP (aparelho que não permite o fechamento das vias aéreas).
“A relação entre obesidade e qualidade do sono é clara. A obesidade pode causar distúrbios do sono e esses, por sua vez, também podem dificultar o processo de emagrecimento. É um círculo vicioso”, esclarece Dra. Salma Ali El Chab Parolin, endocrinologista e diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – (SBEM-PR).
Em 2017, foi publicada uma metanálise que demonstrou que trabalhadores do turno da noite apresentam maior incidência de obesidade, se comparados a pacientes que trabalham durante o dia. A provável causa é a alteração no ritmo circadiano (período de 24 horas no qual se baseia o ciclo biológico), responsável pela regulação da secreção de hormônios como o cortisol, a insulina e a leptina.
Anormalidades no metabolismo e aumento dos níveis de glicemia podem ocorrer em consequência dessas alterações hormonais, levando a quadros de obesidade, intolerância à glicose e diabetes, doenças que elevam o risco cardiovascular e o índice de mortalidade. “As pessoas devem estar atentas à qualidade e quantidade do seu sono, pois o insucesso no controle de muitas doenças pode estar relacionado a um distúrbio do sono não tratado”, alerta Márcia.
Quem necessita de tratamento para a obesidade deve mudar os hábitos para obter resultados, principalmente na atividade física e dieta. Porém, quando é detectada a alteração no padrão do sono, é primordial tomar atitudes para atingir a regulação. “O tratamento da obesidade é multidisciplinar e, nos casos de distúrbios do sono, é fundamental o acompanhamento de um neurologista”, comenta a endocrinologista.