por Lilian Graziano
Acabo de inaugurar a nova sede de meu instituto em São Paulo, capital (Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento). No evento que marcou a inauguração, falei sobre a importância do culto ao belo na construção da felicidade, tema que veio a calhar, pois nele baseei o título de meu livro recém-lançado, com crônicas publicadas em uma revista de Psicologia com a qual colaboro há anos (“Somente a Beleza Salvará o Mundo”, pela IPPC Books).
Como os textos que escrevo aqui, essas crônicas são fragmentos sobre Psicologia Positiva (sua aplicação, seu desenvolvimento pelo mundo e meu ponto de vista acerca desse movimento e de tudo que se refere a ele). Reproduzo, a seguir, algumas ideias contidas em um texto publicado na referida revista e que norteou o título do livro. Considero-as importantes para compreender a relação entre cultivar a beleza e ser feliz.
Em primeiro lugar, questiono: quando foi que apreciar a beleza passou a ser leviano?
Numa época em que o “ter” se sobrepõe ao “ser” e as aparências sobrepujam as essências, cultuar a beleza transformou-se no mantra da sociedade do espetáculo. Mas certamente, neste caso, estamos falando de uma beleza equivocada. Esta sim vazia e fútil, traduzida pela imagem de corpos artificialmente esculpidos por meio de mouses ou bisturis.
Porém, lembro que, para realizar-se integralmente, o ser humano necessita do entusiasmo provocado por experiências significativas, como a experiência estética, por exemplo – aquelas que vivenciamos diante de belas paisagens, da arte, ou do belo, de uma maneira geral.
Mas a beleza também se mostra nas tarefas mais prosaicas como arrumar a mesa do café da manhã, escolher uma camisa e (por que não?) criar uma planilha de excel. As pessoas que têm como força pessoal a apreciação da beleza, sabem bem do que estou falando. Para elas, a beleza é uma forma de conexão com o sagrado e fazer uma refeição diante de uma mesa bem posta é tão importante quanto a própria refeição em si.
Na Psicologia Positiva a apreciação da beleza é uma das 24 forças pessoais (veja aqui) que definem o ser humano no tocante às chamadas virtudes ubíquas. Em outras palavras trata-se de cinco características que, juntas, respondem pelo que de melhor um indivíduo tem para oferecer ao mundo. Sendo assim, estou dizendo que existem certas pessoas, cuja maior contribuição ao mundo está relacionada à sua capacidade de apreciar a beleza. Estranho? Não se levarmos em consideração a teoria darwiniana da beleza.
De acordo com essa teoria, a experiência da beleza é uma das maneiras que a evolução tem de criar e manter o interesse e a fascinação que nos encorajam a tomar decisões mais adaptativas para a reprodução e sobrevivência da espécie. Sendo assim, o rabo do pavão seria o resultado das escolhas de acasalamento feitas pelas fêmeas. Uma característica que sobreviveu por sua beleza ou, mais especificamente, porque as fêmeas do pavão a reconheceram como tal.
Será então que do ponto de vista evolutivo, o máximo que os apreciadores da beleza farão pela espécie é garantir a sobrevivência dos mais “bonitinhos”?
Felizmente não. A apreciação da beleza inclui também a apreciação da excelência. Aqueles que têm nela sua força pessoal, admiram e reverenciam a excelência de caráter e a excelência emocional como as mais puras manifestações do belo.
Eis, por fim, entre outras razões que exponho no livro, alguns motivos para olhar a beleza com a compreensão de sua importância para um projeto de vida feliz.