por Guilherme Ohl e Paulo Annunziata Lopes – psicólogos componentes do NPPI
As tecnologias de comunicação são ferramentas que auxiliam pessoas a se contatarem com outras em nosso dia a dia. Temos condições de nos comunicarmos como nunca havíamos feito antes: há mais pessoas “conectadas” e há mais formas de comunicação (além da tradicional conversa ao telefone) como as mensagens de texto, grupos de e-mails, de Whatsapp e redes sociais como, principalmente, o Facebook.
Observando superficialmente, parece que adquirimos uma grande facilidade de estabelecer relacionamentos pessoais por meio dessas ferramentas. Estaríamos então em “contato” frequente, quando não permanente, com as pessoas. No entanto, como cuidamos desses contatos e das relações que se estabelecem através deles?
Nota-se constantemente, por exemplo, grupos de pessoas fisicamente juntas, mas ao mesmo tempo isoladas, observando seus celulares. Um exemplo bem característico é a cena de uma família ou um grupo de amigos em um restaurante, todos de cabeça baixa, olhando a tela de seu smartphone, sem conversar uns com os outros. Outro exemplo é o de pessoas que vão assistir a um show e preocupam-se mais em filmar o espetáculo em seu aparelho de telefone do que em assisti-lo.
O uso que fazem de seus telefones parece ajudar no contato com aqueles que estão “do outro lado da tela”, mas será que tal uso está realmente favorecendo o contato familiar, social, ou mesmo o contato com o momento, com a experiência presente, com aquilo que está ali, à sua frente?
Toda tecnologia é neutra quando se considera que ela só existe em função do uso humano. Se a tecnologia é “boa” ou não, se ela “faz bem” ou não, somos nós que determinamos na relação, no uso que dela fazemos. E este uso não é “neutro”, não é inócuo: nossas ações geram consequências, que podem ser negativas ou positivas.
Outro exemplo é o uso das redes sociais: nesses espaços podemos ter mais de 100 amigos, alguns de um tempo passado ou de um lugar remoto. Mas, quantos deles são nossos amigos de fato, com os quais dividimos parte de nossa vida, nossas experiências, nossos sentimentos? O que aprendemos ou crescemos por meio destas relações?
Os relacionamentos humanos exigem investimentos emocionais, especialmente porque existe o risco de frustrações, que podem ocorrer nesses contatos. Quando temos uma relação presencial com alguém (familiar ou de amizade, entre outras), sentimo-nos mais impelidos a nos dedicar de alguma forma àquele relacionamento. No entanto, em nossa atuação profissional como psicólogos no NPPI vemos com muita frequência que algumas pessoas acabam por adotar uma postura mais introvertida e de menor abertura para um aprofundamento das relações e para a vivência das mesmas. É para essas pessoas que o uso da tecnologia pode trazer certa acomodação nos seus modos de se relacionar, preferencialmente de forma mediada pela tecnologia, o que pode afastá-las do contato presencial e da presentificado das relações “olho-no-olho”.
Alguns dos observadores mais críticos costumam pensar que essas tecnologias estão tornando as relações humanas superficiais e que o problema está nelas mesmo. Mas, é quem faz o uso desses recursos que determina as suas consequências. Se as tecnologias parecem nos levar a algum lugar, precisamos ter consciência deste caminho, para nós mesmos definirmos o seu rumo. Quando uma nova tecnologia aparece, ela pode mudar nossa vida, porém não em função de suas características, mas em função de seu uso por nós, seres humanos. Na quase totalidade das vezes, as novas tecnologias demandaram um aprendizado sobre as consequências de seu uso e geralmente isso é aprendido ao longo do tempo e de sua prática. Precisamos desenvolver uma maior maturidade em relação à utilização das novas tecnologias e ao próprio mundo virtual, para que possamos usufruir melhor de seus benefícios e evitarmos possíveis prejuízos em função de sua difusão.
Neste sentido precisamos pensar em estratégias educativas para as novas gerações, visando o bom uso das novas tecnologias e seus dispositivos – internet, redes sociais, smartphones etc. Isto para que esta geração possa educar as gerações que estão por vir. Até agora não era necessário dizer para uma criança “é falta de educação usar seu smartphone à mesa” ou mesmo “é importante aproveitar o momento presente, atentar-se ao que ele nos oferece e mostra”.
Contudo, para aqueles que nascem neste mundo interconectado, com aparelhos eletrônicos cada vez mais “smart”, faz-se necessário ensinar como se relacionar não só com as velhas tecnologias como o fogo, a eletricidade e a televisão, mas também com as tecnologias digitais e da informação.
Precisamos cuidar do aqui e agora, do presente, da integralidade da experiência vivida. Do contrário estaremos dessacralizando o momento.