por Regina Wielenska
Nossa sociedade tem estimulado comportamentos exibicionistas. São publicadas nas redes sociais zilhões de fotos e comentários sobre a aparência de cada um, onde foi, com quem esteve, suas compras, seus supostos amigos, os sucessos, as viagens, o parto, a cirurgia plástica, o corte de cabelo, as artes e fofuras dos bichos de estimação, cenas do show, da festa… não dá sequer para classificar as possibilidades. Há quem acompanhe suas postagens inquietamente, a cada minuto, no intuito de ver que repercussão teve. Quantos likes? Alguém criticou? Quem veio ver e deixou registro?
E aí? Parece que essa checagem se correlaciona com a busca de aprovação, admiração e aceitação social. Desde o advento da espécie humana, surgiu a necessidade de conviver em bandos. Qual a função primordial? Sobrevivência. Divisão de tarefas, proteção contra predadores e agressores, reprodução, cuidados com a prole, estes são alguns dos aspectos básicos que influenciaram o comportamento gregário.
A despeito de quaisquer diferenças individuais, era importante que aquele aglomerado de indivíduos que dependem uns dos outros se relacionasse minimamente bem para que tudo fluísse da melhor maneira em meio a um ambiente hostil. Um excesso de conflitos internos colocaria em risco a vida de alguns ou de todos. Eles tinham que se acertar em algum grau. E assim a posição do outro frente a mim tornou-se vital. E a recíproca também se mostrou verdadeira.
Faz muito tempo que a sobrevivência strictu sensu deixou de ser a questão básica. Nas redes sociais eu busco me conectar a alguém por outros motivos, desde o interesse de divulgar um produto, marca ou serviço, até a conquista de um parceiro afetivo ou sexual. Do interesse em me manter informada sobre a vida alheia, até a vontade de exaltar meus supostos pontos fortes e ocultar minhas falhas, insucessos e fraquezas.
Nada disso é o fim do mundo. Cada um tem suas razões, cuja legitimidade pode apenas ser analisada caso a caso. De minha pequena análise estou deliberadamente excluindo barbaridades como crimes digitais, assassinatos pelas redes, bullying, difamações etc.
Perspectiva psicológica
O que me interessa numa perspectiva psicológica, é refletir sobre o alcance da vida de um indivíduo fora de sua persona digital. Como ele vive e com quem ele se relaciona? Qual a profundidade e riqueza das conexões com as pessoas? Quais seus sonhos, como caminha na direção deles? Que valores norteiam a existência desse indivíduo? Que marcas ele deposita no solo da vida?
Um viver interessante pode mesclar frivolidades com coisas densas, superficialidade com mergulhos em águas profundas. O que vale é manter a lucidez: 1300 amigos, DE VERDADE, ninguém tem. Máscaras sociais, expressas pelas redes, não deveriam nos definir. Julgar alguém, inclusive a nós mesmos, com base em coisas específicas ou fachadas, tende a ser a maior roubada. Reflitam sobre isso, é o que lhes peço.