por Luís César Ebraico
Ando escrevendo diálogos muito longos. Vou escrever um bem pequeno para todo mundo descansar a cabeça. Ou a vista.
PATRÍCIA: — Já trouxe minha mãe aqui, e ela melhorou muito. Agora, quero trazer meu namorado. Ele também está precisando mudar em algumas coisas.
LC: — Sabe que tipo de imagem você me traz à cabeça?
PATRÍCIA: — Não, não tenho a mínima ideia.
LC: — Você me faz pensar em uma PATRÍCIA que procura um alergista e, depois de submeter-se a uma série de testes, ao receber do médico a notícia de que ficou demonstrado que a causa da alergia é o pêlo de gato.
PATRÍCIA retruca: “Ótimo, doutor, quando vamos começar a MATAR OS GATOS”? O que é que você quer dizer com isso?
LC: — Olha, eu me disponho a conversar com qualquer pessoa que o paciente deseje trazer aqui: pai, mãe, companheiro, amigos, etc.. Mas não a ponto de se inverter – ou perverter – minha relação com o paciente de forma que o objetivo da análise deixe de ser a mudança do paciente, para passar a ser o de mudar o mundo para que ele se adapte ao paciente. Sinto que a vinda dessas pessoas aqui está deixando de ser um COMPLEMENTO de sua análise para se transformar em um SUBSTITUTO de sua análise. Não estou disposto a compactuar com isso.
Sem muita motivação para fazer análise – tinha sido a mãe que a havia pressionado para tal – e sem minha colaboração para FINGIR que estava fazendo análise, a paciente, pouco mais de um mês depois, abandonou o tratamento. Menos mal. Minha relação com ela cumpriu seu objetivo: permitiu à verdade da paciente aparecer.