Reflita sobre sua forma de viver

por Roberto Goldkorn

Uma antiga amiga, mestra em ervas e bruxarias da terra, uma vez teve de correr ao campo atrás de uma erva que baixasse a febre de um menino. Filho de uma sitiante pobre e longe da cidade, o garoto ardia em febre quando a minha amiga foi chamada. Ela entrou na mata e andou por alguns minutos até encontrar uma plantinha.

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Arrancou o vegetal mirradinho da terra com carinho e no caminho foi “conversando” com ela. Depois me explicou que não era bem aquela erva a que necessitava, mas como o tempo urgia, foi “pedindo” a inteligência da erva que se transmutasse para servir aos propósitos superiores de curar especificamente aquela criança enferma.

Minha mente racional quis pagar para ver. Aproveitei a oportunidade para assistir de camarote àquela cena insólita para mim (mas não para ela que fazia isso todos os dias). Em resumo a criança de uns três anos tomou o chá, ou o decocto não me lembro bem, e em meia hora estava sem febre e rindo como se nada tivesse acontecido.

Quem é você?

Mas não é sobre essas bruxarias que desejo falar. Imaginei que nós somos como as ervas que nascem nos campos, montanhas e florestas. A maioria germina, nasce, e morre sem ter exercido nenhuma outra função senão a de existir. Alimenta a terra, serve de comida para algum inseto, ou nem mesmo nenhuma das alternativas anteriores. Algumas ervas acabam envenenando pessoas desavisadas ou animais que por desavisamento as ingeriram. Poucas são aproveitadas para curar, aliviar dores, ou até embelezar. Fico imaginando que pode haver um paralelo com a nossa vidinha. Pode ser que sejamos as ervas do jardim de Deus, seja esse ser da forma que você possa concebê-lo.

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A imensa maioria vive apenas porque nasce, e nasce porque nascer faz parte do imenso programa da vida (ao qual as ervas também pertencem). Alguns poucos salvam vidas, e outros talvez sejam, sem nem mesmo se aperceber disso, usados para propósitos divinos (nós não usamos a ervinha anônima do meio do mato?) Mas a grande, a esmagadora maioria, é apenas paisagem, apenas estatística, apenas números. Você pode argumentar: mas todos, tanto os apenas números, quanto os “escolhidos” vão ter dores de barriga, sonhar, se frustrar, ficar doentes, envelhecer e morrer. Certo mano. Aí novamente você truca: e então, qual é a diferença? Se a erva incógnita e a erva curadora terão o mesmo destino final, sem tirar nem por, onde está Deus, onde está a razão para ser curador?

Saber bem a resposta não sei não. Confesso que é um tema que ultrapassa a minha competência rastaquera. Mas desconfio que a resposta passa pela seguinte constatação: o menino se curou da febre e do sofrimento. Acredito que um Cosmo sem a febre e o sofrimento daquele menino é um Cosmo melhor. E se o Cosmo melhora, um dia talvez isso vá se refletir na minha vida e na sua de uma forma benéfica.

Que tipo de erva você é?
 

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