por Lilian Graziano
No trabalho com Psicologia Positiva (PP) são muitas as dúvidas, principalmente de pais querendo saber como a abordagem pode ajudá-los a educar os filhos para que sejam emocionalmente saudáveis.
Digo que o melhor a ser feito é sempre a prevenção.
E é fundamentalmente esse papel preventivo que a PP exerce, mesmo quando aplicada para gerir questões psicológicas já agravadas por qualquer motivo, uma vez que é sua função (re)educar as emoções e atitudes para que sejam positivas ao longo da vida.
Quando utilizado com papel curativo, diante da crise ou dificuldade, o trabalho terapêutico com Psicologia Positiva deve gerar um aprendizado capaz de minimizar o sofrimento e empreender a superação não só naquele momento. Para as próximas adversidades, o sujeito deve ter incorporado uma forma objetiva de enfrentar os problemas, partir de suas forças pessoais (veja aqui), restando das situações ruins sempre uma lição (nunca mágoas ou frustrações).
É basicamente esse também o trabalho com a prevenção e com a criança. De forma lúdica, ela aprende a desenvolver emoções positivas que a ajudam a aceitar a si e ao próximo e a enxergar as adversidades como etapas naturais da vida. Além disso, ao trabalharmos com a Psicologia Positiva desenvolvemos na criança a resiliência necessária (capacidade de autossuperação) para o enfrentamento dessas adversidades. Nesse sentido, o foco é o exercício constante do autoconhecimento, para que saibam que recursos têm para atravessar as fases difíceis e vencer desafios.
Também com relação ao bullying (violência física ou psicológica praticada por colegas da escola) a Psicologia Positiva pode ter um papel importante. Resgatar as qualidades e as forças pessoais de quem sofre as agressões pode fazer com que essas crianças (ou adolescentes) superem eventuais traumas e até os evite, uma vez que, seguras de si, é mais provável que tenham "forças" para denunciar o agressor. Mesmo os potenciais valentões, quando orientados ao desenvolvimento de emoções positivas, deixam de (ou evitam) ser violentos.
Foco positivo em casa e no cotidiano
Em casa, é nas pequenas ações que ensinamos aos nossos filhos o foco positivo na vida, tal como propõe a PP. Como exemplo, algumas situações corriqueiras: no trânsito, no trajeto para a escola, o tempo gasto pelos pais com reclamações pode ser substituído, por sua vez, para repassar de forma divertida a lição de casa ou a matéria que será estudada em classe dali a alguns minutos. A cada situação desagradável, como um plano ou passeio que deu errado com a criança, deve-se extrair um aprendizado, comentar com ela que, por um lado, o planejado foi um fracasso. Mas, por outro, coisas boas aconteceram (e não aconteceriam se os planos corressem como o imaginado) – e sempre há algo bom a ressaltar de uma situação como essa.
Parte do cotidiano com as crianças também são os constantes relatos de desentendimentos com os amigos. Lembrá-las da necessidade da aceitação das diferenças e do exercício do perdão, em vez de tomar partido das brigas, é algo muito bom que se pode fazer para os filhos. Porque na vida são constantes os entraves que ocorrem por não perdoarmos alguém, ou pior, por não nos perdoarmos (o que ocorre quando o foco acontece sempre nas perdas – e em nenhum ganho – provocadas por uma atitude).
Finalizo lembrando de algo muito importante: é essencial ainda reforçar nas crianças as suas qualidades e não os seus defeitos. Isso para que saibam que, apesar dos tropeços inerentes ao desenvolvimento humano, elas têm muito a oferecer para o mundo (e podem apostar nisso). Somos imperfeitos, mas lembrar que temos muitos pontos positivos, buscá-los, nos torna seres melhores. Tentar a perfeição já nos destaca da enorme mediocridade, pautada no ciclo das adversidades e não na busca de soluções.
Tal postura também explica por que, mesmo em ambientes aparentemente estéreis, onde questões sociais ou familiares em nada colaboram para o florescimento humano, criam-se verdadeiras "pérolas". O foco positivo, inato ou incorporado, faz toda a diferença. A diferença que você pode fazer como mãe ou pai ao criar seus filhos com base nos preceitos da Psicologia Positiva.