por Patricia Gebrim
Inquisição: "Esforço empreendido pela Igreja Católica no sentido de identificar e punir hereges, ou seja, pessoas que professavam crenças diferentes dos ensinamentos da Igreja." Dicionário Aurélio.
Dê uma remodelada nessa frase e você encontrará uma atitude semelhante, ainda hoje, mais viva do que nunca, permeando nossas vidas nesses considerados "tempos modernos". Ela está por toda a parte, nos mais diversos meios, do seio de nossas famílias aos ambientes profissionais, dos grupos mais materialistas aos redutos ditos espirituais. Não precisamos mais da Igreja para isso, nos tornamos, nós mesmos, os agentes da inquisição.
A atitude "inquisidora" fere, não importa a roupagem que use, e cria separatividade por onde quer que passe.
Não acredita no que estou dizendo?
Ouse contrariar as crenças de uma pessoa ou instituição e, com raras exceções, a verá saltar sobre você com uma língua afiada que só falta cortar fora sua cabeça, perfurando friamente seu coração com um comentário depreciativo, ou ainda o atirando sem dó em uma fogueira de argumentos ou críticas, com a intenção de reduzir você e sua ousadia de contrariar o status quo a pó.
Vira e mexe me deparo com isso, eu que não sou muito amiga das convenções, e ainda hoje, mesmo sabendo que é assim que as coisas funcionam, levo um susto quando me sinto julgada e condenada à fogueira dessa forma.
– Por que as pessoas agem assim?
Por que elas têm tanta necessidade de se agarrar e defender aquilo que consideram correto?
Por que não podem simplesmente permitir que cada um seja como é, que pense diferente, que faça escolhas criativas, que conduza sua vida como bem entende? – outro dia me peguei fazendo essas perguntas. O que me ocorreu foram duas palavras: esquecimento e medo.
Se as pessoas confiassem em si mesmas, na vida, na natureza, na luz que trazem dentro de seu peito; talvez pudessem acolher com mais respeito a existência alheia. Mas as pessoas se esqueceram de si mesmas. De sua essência. Não sabem quem são, elas mesmas, feitas de asas de infinita sabedoria, que as poderiam elevar acima de quaisquer perigos ou desafios. Reduzem a si mesmas a pedaços inertes de carne agarrados a falsas crenças, preconceitos e ideias limitadas, que as mantêm precariamente flutuando à margem da verdadeira vida. E têm medo, muito medo de perder essas falsas referências, como se pudessem afundar num oceano de incertezas que as engoliria para todo o sempre. Como se sua sobrevivência dependesse disso, atacam a todos que parecem ameaçar esse frágil elo. Precisam convencer a si mesmas de que estão certas.
Agarram-se e temem. E ferem. E dessa forma acabamos vivendo relacionamentos desrespeitosos e limitados, mutilados por essa nossa absurda necessidade de controlar o que nunca poderá ser controlado. Por uma necessidade absurda de nos acreditar possuidores de certezas que nos achamos no direito de impor, como se isso fosse possível.
Aceitemos ou não, estamos todos aqui para expressar nossa singularidade, que existe para além das limitadas caixas de crenças que nos são oferecidas ao nascer. Todos nós temos o direito de escolher a forma como desejamos viver a vida, e não cabe a mim, ou você, julgar ou determinar o que é o correto para uma outra pessoa.
Falsas crenças limitam a beleza de viver
Se queremos liberdade, precisamos aprender a libertar. Caso contrário, continuaremos sendo constantemente aprisionados pelas redes que nós mesmos lançamos ao nosso redor, pois aprisionar o outro sempre resulta em um autoaprisionamento. Se você julga e fere, acredite, acabará ferido. Afastará de você pessoas queridas, perderá lindas oportunidades, viverá uma vida medíocre e acabará sendo levado ao fundo do oceano pela mesma bola de ferro que se recusa a largar. Pois é isso o que são as falsas crenças, pesos que limitam a leveza e a beleza da vida.
Acredite. Aquilo que parece ser a sua salvação, o seu lugar seguro, na verdade é, e sempre será, seu maior algoz.
Verdadeiras crenças
Quanto às verdadeiras crenças, essas nunca causarão separação, pois são baseadas no respeito, no amor, na liberdade e na unidade, considerando tudo e todos, sem exceção. Respeitando a vida em todas as suas formas e manifestações.
Se uma crença afasta você da vida, não importa o que essa crença professe, saiba que é uma criação da sua mente, e não uma expressão do seu coração.