por Dulce Magalhães
“Na trilha da vocação é preciso saber orientar o olhar para o novo, o diferente, o inusitado…”
Uma interessante experiência inglesa acabou virando um programa de TV. Convidaram voluntários que aceitavam passar um mês vivendo uma realidade totalmente diferente da sua, com mentores orientando o processo e, ao final de quatro semanas, a pessoa passaria por um teste com outros três participantes que já eram profissonais experientes naquela profissão.
Três juízes não saberiam dessa situação e deveriam julgar a qualidade profissonal dos quatro, com entrevistas e também com a apreciação do resultado. Ao final se contava aos juízes que haviam três profissionais e um farsante e eles deveriam adivinhar quem era.
O voluntário teria que convencer pelo menos dois dos três juízes de que ele era um profissional experiente. O mais divertido e intrigante é que muitos conseguiam convencer os três juízes de que eram verdadeiros profissionais.
Numa dessas experiências convidaram um nerd, um profissional altamente técnico de informática para aprender a viver, pensar e funcionar como um surfista. Ele não sabia nada de surf e em quatro semanas deveria convencer um júri de que era um surfista profissional. Foi uma das experiências mais interessantes, pois todo o conjunto de aparência, linguagem, habilidades físicas, comportamentos e atitudes deveriam sofrer uma mudança radical. O que mais me chamou a atenção foi uma orientação do mentor que pedia ao voluntário que olhasse o horizonte e realmente percebesse o mar, as ondas e as condições para o surf.
Foco único: procure-o e treine seu olhar dentro dessa nova realidade
Era muito difícil para ele treinar esse olhar, pois estava acostumado a ver o mundo através da tela reduzida de um computador e seu olhar estava delimitado por esse molde. A lição mais valiosa que precisava aprender era a do olhar. Ele conseguiu vencer o desafio convencendo os três juízes, pois quando ele ganhou o olhar amplo de um surfista, tudo se modificou em sua forma de ver o mundo.
Essa lição pode ser extendida para todas as coisas de nossa vida, aprender a ver o horizonte da nova realidade que queremos experimentar. Levantar os olhos da tela do conhecido e ampliar o olhar para perceber os sinais que sempre estiveram presentes, mas para os quais nunca demos atenção.
Na trilha da vocação é preciso saber orientar o olhar para o novo, o diferente, o inusitado e, especialmente, o interessante.
O que pode capturar nosso olhar, nos ensinar a ser inéditos, numa versão que nunca fomos antes, nos levar a aprender o que julgávamos fora de nosso alcance e a expandir nossas habilidades?
Um estudante de mecânica apresentava grandes dificuldades sociais, demonstrando uma timidez extrema. Entrou numa turma de dança de salão e as primeiras aulas foram um sofrimento e trouxeram muitas vezes a ideia de que não iria conseguir, porém a persistência rendeu frutos, pois as aulas foram se tornando mais prazerosas, a desenvoltura social foi crescendo e a timidez, se não foi eliminada, ficou bem diminuída, permitindo uma vida social mais saudável e realizadora. E esse foi apenas um dos benefícios, pois o impacto na carreira também se fez sentir, permitindo a busca de mais interação com outros profissionais e o desenvolvimento de uma rede de talentos. Isso o levou a criar um torno mecânico especial e o fez ganhar o prêmio jovem cientista em sua universidade.
Por vezes não percebemos que não é apenas explorar e aprofundar um talento que nos dará as condições de sucesso. Precisamos também de autoconhecimento e nos darmos conta de onde estão nossas limitações para ampliarmos os limites, abrindo nossos olhos para outros horizontes. Esse é um exercício vocacional de alta relevância e de grandes resultados.