por Luiz Alberto Py
Existem várias maneiras diferentes de se ter fé. A fé pode ser, por exemplo, mais ou menos cega, ou fanática; mais ou menos sensata, ou racional. Alguns pensadores desenvolveram estudos sobre diferentes características da fé e concluíram que o ato de ter fé passa por diversos estágios ou gradações. Vou apresentar aqui um resumo dos resultados a que eles chegaram, adaptado à nossa linguagem a ao nosso entendimento.
Fé infantil
Um estágio muito frequente de fé é o que denomino de fé infantil. Caracteriza-se por uma atitude semelhante à da criança, que aceita tudo o que lhe é dito sem discussão e sem dúvidas. Para as pessoas que vivem a fé neste estágio, a palavra do líder religioso é como a de um pai para seu filho e as afirmações da religião são recebidas sem margem para qualquer avaliação. A única atitude aceita é a da submissão sem hesitação.
Muitas pessoas passam a vida toda neste estágio, sem qualquer evolução. Em geral são pessoas de pouca capacidade para pensar e para questionar. Muitos outros, porém, movem-se para um estágio seguinte, que chamo de fé adolescente.
Fé adolescente
Ao estágio de fé que chamei de infantil, costuma seguir-se o que chamo de estágio adolescente da fé. Este se caracteriza por rebeldia e questionamento. É a fase em que as crenças e afirmações religiosas, principalmente as que são formuladas pelas religiões mais estruturadas, se tornam alvo e vítima de um ceticismo exacerbado e intenso por parte dessas pessoas.
Embora possa parecer estranho, as pessoas neste estágio, apesar de não se poder dizer que sejam religiosas, estão em um nível superior de espiritualização em relação ao estágio anterior, quando estavam mais vinculadas com os procedimentos religiosos. Suas incertezas denotam preocupações éticas e morais superiores às daqueles que se limitam a aceitar dogmas religiosos. Eles estão em busca da verdade e não aceitam praticar a obediência cega e sem limites.
Podemos usar a expressão “conversão” para nos referirmos à passagem do estágio infantil para o estágio adolescente, na medida em que existe uma conversão de uma atitude de fé não questionada para uma atitude de dúvida. Esta nova maneira de ser abre espaço para o aparecimento de uma postura reflexiva na qual a capacidade humana para pensar começa a desempenhar um papel importante na evolução espiritual. A passagem para este estágio adolescente abre caminho para um estágio adulto, ou maduro.
Estágio adulto
Chamo de estágio adulto da fé a um patamar ao qual a pessoa se converte quando, depois de passar por um período de ceticismo, busca seu encontro com sua própria espiritualidade. Geralmente esta procura se processa lentamente, ao longo dos anos. Pessoas interessadas em desenvolvimento espiritual, aos poucos começam a questionar sua descrença e a compreender que o ateísmo não passa de uma crença com sinal negativo. Aceitar que Deus não existe é tão ingênuo quanto acreditar que ele existe. Algumas sofisticaram mais seu estágio contestador dizendo-se agnósticas. Declaram ser impossível saber se Deus de fato existe e se propõem a deixar o assunto de lado.
Porém, começam a perceber que o importante é a relação que estabelecem com a idéia da divindade e não, simplesmente, cultivar crenças. A necessidade de evolução espiritual continua presente e o caminho passa pela mudança de atitude. As pessoas chegam a um melhor desenvolvimento de sua espiritualidade ao procurar manifestações do sublime, da transcendência, de algo superior; em si mesmas e no mundo ao redor. Elas reaprendem a se maravilhar com o fenômeno da vida e com a beleza das coisas na terra. Entendem a fragilidade e as fraquezas humanas e aceitam saborear o milagre de viver e a alegria da permanente procura dos sinais da presença de Deus.
Frases sobre fé
“A fé é a única estrela neste escuro e nesta incerteza”
Esta frase foi encontrada no diário do poeta suíço Henri-Frédéric Amiel (1821-1881)
“Fé, em seu mais verdadeiro sentido, é um dom da graça”
Afirmação do psicanalista suíço Carl G. Jung (1875-1961).
“Todo santo tem um passado e todo pecador tem um futuro”
Uma idéia irônica, mas muito verdadeira do escritor irlandês Oscar Wilde (1856-1900)
E, para encerrar, um irônico, mas verdadeiro aforisma do psiquiatra americano Thomaz Szasz: “Quem fala com Deus é espiritualizado, quem acha que Deus fala com ele é esquizofrênico”.