por Ceres Araujo
Os avós são parte importante do que se chama família extensa, mas seu papel em relação aos netos se alterou consideravelmente na atualidade.
Nas histórias infantis, nos contos de fada, os avós são retratados como aqueles velhinhos, de cabelos brancos, óculos no nariz, encurvadinhos, que agradam as crianças de infinitas maneiras, que contam histórias, que as mimam com balas, doces e bolos.
As avós tinham o conhecimento de como cuidar de bebês e cabia a elas orientar às jovens mães, suas filhas. Quando as mães começaram a entrar no mercado de trabalho, coube a muitas avós, a tarefa de se encarregarem dos cuidados e mesmo da educação de seus netos. Entretanto, as mudanças ainda continuaram.
Os avós, na atualidade, são muito diferentes. Sua aparência, dados os avanços da medicina e os ditames da moda, é muito distinta da de épocas passadas. Muitos estão ativos no mercado de trabalho, outros possuem papéis de destaque nas sociedades das quais fazem parte, outros têm uma vida pessoal enriquecida com atividades que lhes são nutridoras. Estão em um momento, na trajetória de suas vidas, que possui objetivos e sentidos próprios.
A relação avós-netos é hoje uma relação diferente, porém permanece uma relação privilegiada. O neto é ainda tido como “o filho com açúcar”, que permite avós uma vivência estruturante em termos de suas próprias personalidades.
Que fazem as avós, os avôs com seus netos nos dias de hoje?
O diálogo avós e netos é muito mais constante agora do que antes. As crianças da contemporaneidade, são abertas ao novo, como foram as crianças em todas as épocas, mas, graças ao avanço incrível das tecnologias da comunicação, as novas crianças são seres precoces na construção do próprio conhecimento. São, portanto, interlocutores muito atraentes para os mais velhos. Avós aprendem com seus netos e netos aprendem com seus avós.
A relação avós-netos produz trocas afetivas e cognitivas muito interessantes. Com o pulo de uma geração, mas, no nosso tempo, um pulo enorme, avós e muitas vezes mesmo os bisavós, que são testemunhas vivas das raízes das crianças, descrevem a elas o mundo tão diferente de muitos anos atrás, contam como eram e o que faziam os pais quando crianças. Os netos se espantam ao ouvir falar de um mundo sem internet, sem TV, etc.. Avós dão para a criança a noção da continuidade da existência e netos trazem para eles a antecipação do futuro. Avós se surpreendem com a habilidade do pequenos nos jogos eletrônicos.
A prática de atividades físicas e de esportes nas últimas décadas, tão propagada para todas as idades, fez com que as pessoas mais velhas, muitas delas pelo menos, se tornassem atualmente pessoas fortes fisicamente, ágeis e com disposição para acompanhar seus netos em corridas, peladas de futebol, ciclismo, natação, tênis, etc..
Hoje, como sempre assim foi, avós não podem interferir nas regras estabelecidas pelos pais, com o risco de, retirando-lhes o poder e reduzindo a autoridade deles como pais, torná-los irmãos de seus próprios filhos. Isso acarreta uma desorganização na hierarquia do sistema familiar com perdas para todos.
Limites, normas, proibições são instrumentos de educação que pertencem aos pais. Seus princípios e seus valores, a ética com a qual conduzem sua vida, é que nortearão a vida de seus filhos.
As crianças precisam valorizar e respeitar seus pais e esses pais devem ser respeitados pelos avós. Isso porque, durante a infância os pais precisam ser valorizados e mesmo idealizados pelos filhos. Cumpre depois, aos filhos adolescentes, desidealizar seus pais, para que possam adquirir a possibilidade da própria identidade, mas o respeito e a valorização devem continuar sempre existindo.
Nos dias de hoje, a família funciona como uma empresa, a ser gerenciada de forma otimizada. Dra. Iraci Galiás, psiquiatra e terapeuta de família, em São Paulo, costuma dizer que na família-empresa, os pais compõem a diretoria executiva e os avós o conselho. Os avós possuem uma posição privilegiada na família, a posição de quem adquiriu senioridade no aprendizado da vida e, mantendo-se bem ativos e, quiça, mais sábios, podem colaborar com sua experiência para o incremento na qualidade de vida de todos.