por Arlete Gavranic
Relacionamento nunca parece um tema fácil, existem expectativas, história de vida, afetividades diferentes em cada uma das partes e o desejo de conviver ou de viver um ideal romantizado que pode trazer ainda mais cobranças para a relação.
Viver a dois implica em dividir e somar. Mas nem todas as pessoas conseguem dividir, elas preferem somar. Mas algumas pessoas têm muita dificuldade em contemplar o espaço do outro na relação. Falo de pessoas autoritárias que não consideram o direito do parceiro de ter desejos pessoais, gostos, opiniões, religião e um ideal de vida que pode ser diferente da expectativa da outra parte da parceria.
Alguns têm dificuldade de acreditar no potencial manipulador de certas pessoas. Reconhecer-se seduzido e manipulado traz uma sensação muito ruim, mas o que algumas pessoas não entendem é que as pessoas mais manipuladoras são socialmente vistas como sociáveis e ‘afetuosas’, preocupadas ou ´queridas´.
O poder de sedução dessas pessoas pode se apresentar de diversas formas.
Algumas pessoas são sedutoramente afetuosas, pode ser homem ou mulher, mas sempre elogia, valoriza, se mostra feliz, apaixonada(o), mobiliza no outro o desejo de agradar e de não frustrá-lo.
Outro perfil sedutor tem uma característica que é de se mostrar provedor(a) na satisfação de desejos, seja um presente, joia, celular, carro ou uma viagem sonhada… se mostram importante e provocam no parceiro o medo de uma desproteção.
Alguns tentam se infiltrar e fazer parte do trabalho do outro, ganhando uma importância para sua realização e sucesso.
Mas o que essas pessoas buscam em troca?
Cada uma dessas pessoas busca um tipo especifico de poder. As manipulações têm sempre um caráter autoritário e abusador.
Alguns buscam poder controlador, fazer com que o outro tenha medo de perdê-lo e assim o faz se submeter às suas vontades seja não olhando para os lados, se afastando de amigos ou parentes, se vestindo com um perfil de roupa escolhida pelo outro, apoiando uma postura politica ou na conquista de um padrão afetivo, financeiro ou de status social ou de uma rede de influências sociais ou profissionais.
Atualmente a discussão mais presente é a manipulação pelo controle de redes sociais (stalker – aquele que monitora e descobre tudo pelo trânsito da pessoa nas redes sociais) e pelo controle do WhatsApp.
O fator motivador desse controle para a maioria das pessoas é o medo de traição. Quem viveu ou viu de perto essa situação costuma carregar altos níveis de insegurança.
Para alguns casais a sensação de parceria em dividir senhas é natural e não é visto como invasivo, para outros há uma sensação de controle e perda de individualidade. Aliás, não existe uma conduta certa ou errada. Muitas pessoas realmente não têm o que esconder ou temer. Mas algumas pessoas escondem suas senhas, não desgrudam de seus aparelhos celulares, pois eles denunciam relações extraconjugais ou sua intenção.
O problema maior não é necessariamente dividir senha, mas a forma como esse acesso é utilizado. Alguns parceiros(as) não usam esse acesso como forma de ficar lendo, interrogando ou investigando a rede de contatos do outro, mas existem parcerias que fazem disso um controle obsessivo, que acaba tirando do outro o prazer e o direito de cumprimentar, parabenizar, curtir uma publicação ou aceitar novos colegas.
Essa obssessividade traduz o nível de insegurança e baixa autoestima dessa pessoa, que demonstra precisar de tratamento, pois comumente se generaliza para todos os relacionamentos afetuosos que essa pessoa terá na vida, e poderão ser muitos, pois com o excesso de controle, acaba existindo uma sensação de sufocamento e desrespeito que estimula os parceiros(as) saudáveis buscarem o afastamento.
Os parceiros(as) não tão saudáveis podem entrar em jogos de:
Culpa: “Eu estou provocando isso, sou ingrato ou injusto”;
Coerção: medo frente alguma ameaça contra si ou alguém importante;
Submissão – por alguma característica desejável:
– ilusória: “Essa pessoa é a mais linda ou é a alma gêmea que não posso perder”;
– real: “Essa pessoa me oferece proteção, oportunidade ou segurança para não viver riscos: ficar sem casa, sem emprego, sem dinheiro para sobreviver.
Essas características manipuladoras preocupam e precisam ser observadas. Às vezes essas características mais obsessivas estão em uma personalidade sofredora, demonstram insegurança, baixa autoestima e imaturidade para relacionamentos, mas é preciso observar se existem traços de manipulação de uma personalidade com traços de psicopatia, de alguém que pode se tornar obsessivo, agressivo e perigoso se houver uma frustração ou um rompimento. Temos assistido muitas tragédias de ex- namorados(as) e ex-cônjuges que não aceitam a frustração de uma traição ou um rompimento e acabam cometendo crimes passionais.
O problema esta na personalidade manipuladora e no comportamento controlador obsessivo ou sofredor. Essa dinâmica é que demonstra os riscos e o possível desprazer de um relacionamento.