por Andréa J. Nolf – psicóloga componente do NPPI
A paixão, sentimento que arrebata, bate, dissolve o raciocínio, nos enche de energia, nos remete ao turbilhão emocional que nos faz perder o pensamento.
Embora nem todos tenham total conhecimento, de onde no corpo, vem essa sensação, um pouco de pesquisa e autoconhecimento, nos mostra que desde muito tempo acreditamos que o amor é cego, mas na verdade é a paixão que nos deixa cegos, e pouca energia intelectual conseguimos encontrar no berço dessas sensações.
Estar apaixonado é estar embriagado, é viver a sensação de total plenitude e completude. Alguns autores, falam desse primeiro momento como algo lúdico, independente do outro e que pode ser estendido para todas as relações dos seres, desde a fé, até algo material, como uma casa, um lugar, uma lembrança e até outro ser humano.
Vários aspectos podem ser considerados para que a paixão aconteça, porém, o inegável é a necessidade de uma disposição individual e interna para que essas sensações possam acontecer e fluir.
Entre seres humanos, vários estudiosos da nossa psique, defendem os objetos e atrativos das nossas paixões como aspectos de nós mesmos, que de certa forma, enxergamos no outro, ainda que de maneira fantasiosa e idealizada por nós mesmos.
É como a mãe que idealiza seu filho, por nove meses, fantasiando sobre como ele será, sobre qual será seu sexo, seu nome, suas futuras características, para desse modo, aos poucos ir abrindo e preenchendo dentro de si um espaço psíquico que cederá ao seu bebê, podendo assim estabelecer com ele uma relação de amor.
Algo semelhante acontece nos relacionamentos amorosos. Imaginamos, o outro como portador de características que gostamos ou necessitamos e nos apaixonamos pelo outro como complemento de nós mesmos.
Normalmente, esse processo ocorre sem que a gente se dê conta: Uma mãe, por exemplo, ama seu bebê e ponto. Não questionamos muito, como isso se dá, simplesmente acontece.
Voltando agora nossas observações para o ser humano, que busca suas parcerias de forma mediada pelas novas tecnologias; podemos perceber que espaço os relacionamentos e as paixões virtuais tomam no seu pensamento.
É normal e até saudável, que essas fantasias facilitadas pelo ambiente virtual ocorram, numa ampliação da maneira de se apaixonar, abrindo espaço, em mentes e psiques, para que um futuro sentimento de amor, possa surgir, passado esse primeiro momento de paixão. Os meios virtuais permitem que as fantasias tomem rostos, jeitos e no futuro, quem sabe, até cheiros. É a possibilidade de uma relativa concretização da fantasia, mas que não é ainda a concretude real.
A mãe que fantasia o filho ainda por nascer terá mais tarde que entender (e assimilar a perda) daquele filho idealizado, uma vez que o bebê, ao chegar, conterá algumas características fantasiadas, mas dificilmente corresponderá a todas elas. De forma semelhante, nas relações amorosas virtuais, iniciadas através do computador, temos que lidar com as decepções surgidas no momento do contato real com aquele ser idealizado. Porém, quanto menor o tempo de contato virtual, menor a idealização e consequentemente menor a frustração posterior.
Mas este processo não é exclusividade dos relacionamentos virtuais. Na evolução das relações puramente presenciais, ou seja, face a face, também teremos que passar por um processo semelhante, se quisermos que o vínculo em questão cresça e siga seu rumo. Para que isto ocorra, teremos que aprender a ver o outro, e seguir em frente, tentando enxergá-lo tal qual o ser que ele é, de fato, e não como aquele outro ser por nós fantasiado. Pois o sentimento do amor nasce da compaixão, da paciência e da cumplicidade que conseguirmos estabelecer com o que o outro é, na realidade, e não na fantasia.