por Ugo Bruzadin Nunes- psicólogo do NPPI
Essa não é uma pergunta trivial, e, para respondê-la, será preciso discutir diversos fatores pessoais e sociais. Essa reflexão perpassa ao menos três tópicos: a definição do que é um relacionamento amoroso, a disposição do casal em aceitar as consequências da sua vivência à distância e a criatividade necessária ao casal para reinventar essa forma de relação, agora passível de ser cultivada dentro dessa nova condição.
O que é um relacionamento amoroso?
Cada indivíduo pode ter uma definição muito particular do que seja um relacionamento, e por isso é tão difícil vermos uma relação durar. Mais do que isso, essa definição pessoal é flexível e, portanto, muda com o tempo. A questão em xeque é: sua definição pessoal de relacionamento pressupõe a presença física do outro ao seu lado?
Estar em relacionamento com alguém envolve sacrificar parte do nosso egocentrismo e dar-se a uma dupla. Cada casal define o quanto desse sacrifício poderá ser feito, e o quanto cada um estará disposto a se sacrificar pelo outro. É muito difícil discutir tópicos envolvendo relacionamentos justamente porque cada casal tem uma vivência dual (pessoal) de si e deste encontro. Essa vivência é orgânica e tende a mudar conforme o tempo passa.
O primeiro e mais importante aspecto a ser desenvolvido visando a permanência dessas relações é o diálogo. Um casal precisa dialogar sempre sobre o que cada um espera da relação, bem como sobre o que gostaria de mudar no relacionamento e o que cada um acha que pode ou não sacrificar para o bem do casal. Um recurso interessante para essa finalidade pode ser utilizado pelo casal: poderão relacionar – de forma clara e objetiva – uma lista daqueles comportamentos que esperam, aceitam ou não aceitam, por parte do outro, componente dessa relação; e, no caso que estamos analisando, especificamente aqueles comportamentos que podem ocorrer num relacionamento à distância. Depois, o casal compara a lista e tenta buscar desejos aceitos em comum, a fim de tentar harmonizar a relação. Fazer essa lista é interessante, porque exige dos parceiros certa introspecção e análise sobre as suas verdadeiras vontades e necessidades a respeito do tópico em pauta, permitindo assim um crescimento tanto pessoal quanto da própria relação.
Viver uma relação amorosa à distância envolve, principalmente, mudar a concepção de sexo. Um relacionamento à distância exige que ambos entrem em um acordo, e tentem experimentar novas formas de expressão da sexualidade do casal. Sexo também tem uma definição orgânica e plástica. Existem variadas formas de obter prazer sexual que não necessariamente envolvam penetração, e que, portanto, também não necessita de um encontro pessoal à priori. Mensagens sensuais com role-play, sexo virtual (webcam e microfone), sexo por telefone, uso de brinquedos sexuais para estimular o corpo. É necessário ser criativo e ter disposição a experimentar. Em suma, relacionamentos de forma geral já não são fáceis, mas, mantê-los à distância é um desafio ainda maior.
Por fim, é preciso falar do ciúme. Muitos podem dizer que a distância aumenta o ciúme, mas o ciúme é um sentimento que nada tem a ver com distância, mas sim com a segurança emocional dos componentes da relação, bem como da confiabilidade existente entre os parceiros. Se uma pessoa está segura e confia em seu parceiro, o ciúmes não deverá ser um problema, independentemente da distância ou da proximidade existente entre eles.
É importante ressaltar que as novas tecnologias estão sendo disponibilizadas para serem usadas. É preciso pesquisarmos e conhecermos mais sobre esse assunto, pois diariamente estão sendo lançados novos equipamentos eletrônicos, websites, softwares e aplicativos que podem ser úteis para o cultivo e a manutenção desses novos tipos de relacionamento. As relações amorosas nunca receberam tamanho investimento tecnológico. Abrindo nossas cabeças para a utilização desses recursos, torna-se possível estabelecermos e cultivarmos relacionamentos amorosos à distância.