por Arlete Gavranic
Estamos numa época de muitos amores doentes. Muitas pessoas vivem relacionamentos instáveis. O discurso moderno de muitos que não querem compromisso, pois querem liberdade, ou que pela liberdade sexual que podem viver hoje, não sentem vontade de relacionamentos estáveis. Mas quando começam a viver um relacionamento mais frequente, vivem a dualidade de querer liberdade e de exercer a possessividade, o controle sobre o outro, o que pensa, com quem conversa, que lugares vai…
Outras pessoas desenvolvem relacionamentos que geram sempre inseguranças, e mantêm o outro vinculado pela necessidade de aprovação ou pelo medo de perder, de ser rejeitado.
É importante perceber que pessoas com baixa autoestima e com autoconfiança frágil acabam se aproximando de pessoas que têm uma característica de personalidade mais envolvente, com jeito mais decidido e até com tom autoritário.
Temos uma história machista de mundo. Ainda hoje temos muitas pessoas com dificuldade de enxergar relacionamento como parceria. É enorme o número de homens que não admite participar de atividades domésticas ou de acompanhar os filhos em atividades escolares (que não sejam esportivas!). Essa discriminação de gênero é um fato triste e recorrente.
Mulheres e homens vêm conflitando nas últimas três décadas nessas possíveis aprendizagens e possibilidades de viver seus papéis sociais e sexuais. As famílias relevam justificando atos agressivos que "ele/a tem gênio forte" ou "está estressado pela pressão do trabalho"; "é possessivo porque tem medo de perder você, é amor"; "faz tudo pelo bem de vocês"; "controla sua roupa porque te ama e tem cuidado/ciúme"…
Essa tendência a justificar atitudes autoritárias, possessivas ou agressivas é infelizmente um demonstrativo do quão machista é nossa sociedade e quão abusador é esse sistema que vivemos.
Quando um homem não consegue dar prazer para sua parceira, ou porque não gosta/não tem frequência equivalente, porque tem alguma disfunção sexual etc, há um enorme coro dizendo à parceira que ela precisa compreender, colaborar…
Mas quando a mulher apresenta resistência ou dificuldades em relação ao sexo, infelizmente ainda ouvimos as pessoas justificarem possíveis traições ou darem aval ao término do relacionamento.
Em relacionamentos homossexuais também acontecem abusos. Vamos encontrar pessoas que têm tendências autoritárias e querem impor seu jeito de pensar à parceria, que desconsideram a vontade do outro, desvalorizam a opinião do outro, que subjugam ou diminuem o outro, seja em ambiente público ou privado. Quem lê esse trecho pode parar para questionar:
– “E por que continuam com alguém que possa ser agressivo ou subjugue a relação?
Porque quando se entra num relacionamento com alguém com essas características dominadoras, a autoestima – nem sempre muito satisfatória – fica bastante fragilizada e passa a não perceber a violência envolvida nesse padrão de relacionamento.
Toda relação que apresente um perfil tendencioso a valorizar a vontade ou o prazer somente de uma das partes é uma relação perigosa, uma relação abusadora. Se houver agressões físicas ou verbais, ou de cunho moral com coerção ou desvalorização da do outro, falamos de relações violentas.
O que precisamos é auxiliar essas pessoas que estão submetidas nessas relações agressivas, a se fortalecerem para enxergar o abuso ou a violência que vivem; e para romper com esses relacionamentos que destroem a autoestima e autoconfiança do outro, pois são coagidos a ter medo de reagir e viver a solidão.
Importante entender que a força do outro que abusa ou agride é inversamente proporcional à agressividade que se mostra. Aquele que agride tem muito medo de ser agredido ou contrariado ou traído Daí o comportamento de agressão às vezes verbal, às vezes moral ou até física. que é uma defesa desse agressor com seus próprios medos.
Conversar com essas parcerias, que percebemos envolvidas em relacionamentos doentios, é importante para que essas pessoas possam acordar para esses "amores" doentes e possam fazer buscas que tragam sanidade e equilíbrio. Amor não pode proibir, não pode violentar, não pode diminuir, fragilizar ou vitimizar! Se isso acontece, não é amor, é abuso, manipulação, é doença!
Qual a cura?
Primeiro enxergar e assumir para si que a relação faz mal, buscar ajuda psicológica e psiquiátrica se necessário.
Sabemos que muitas pessoas desenvolvem quadros de ansiedade intensa ou se deprimem com medo de desagradar o outro ou de ser abandonado. Se necessário for, procure ajuda jurídica/policial, se houver ameaça ou coerção que coloquem em risco sua integridade física, emocional, moral e social!
Poucas são as relações doentes que irão ficar bem ou não trarão sequelas prejudiciais à vida das pessoas. O afastamento se faz necessário para que a outra parte perceba e aprenda a viver sem estar sob pressão, desvalorização ou ameaça.
Esse afastamento pode também fazer com que o manipulador/agressor possa perceber sua necessidade de ajuda e tratamento para sair dessa dinâmica doente.
Temos que acreditar que relacionamentos servem para nos fazer crescer, aprender, sermos melhores e mais felizes! Se te faz sentir-se mal, se te faz triste, inseguro ou com medo, caia fora, isso não vai ser bom para você!
Dê um basta e procure aprender a viver de bem com a vida.