Relaxamento, auto-hipnose e meditação: temos forças incríveis ao nosso alcance

por Nicole Witek

Obrigada ao leitor que me fez a seguinte pergunta: "Qual a diferença entre relaxamento, auto-hipnose e meditação?"

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Essa pergunta é muito interessante. Aproveito a oportunidade para apontar novamente o gênio do yoga e a sabedoria dos antigos sábios chamados "rishis", e também, para rever diferentes noções à luz do avanço da ciência moderna e das descobertas mais recentes que foram feitas sobre o cérebro humano.

Observe essas três palavras: RELAXAMENTO – AUTO-HIPNOSE – MEDITAÇÃO. Elas pertencem a diferentes níveis de funcionamento do cérebro e por consequência, a níveis de consciência diferentes. O yoga é o campeão dos estados de consciência diferentes.

Conhecemos e experimentamos geralmente dois estados de consciência bem definidos que correspondem a tipos de ondas mentais diferentes: de um lado, estar acordado e atuar no mundo da vigília e do outro lado, estar dormindo… e só Deus sabe o que está acontecendo!

Para o cientista, um eletroencefalograma mostra muito mais.E para o yoga existe muito mais do que esses dois mundos aparentemente opostos.

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Estado de vigília

Minha consciência está em alerta e me permite uma atuação para fora, para o mundo externo. Estou experimentando uma sensação de separação para com os outros e o universo. Meu ego, minha personalidade transitória, tenta realizar da melhor forma possível minhas aspirações, contando na maior parte do tempo com um intelecto racional, lógico, sabendo ler e calcular, usando uma análise lógica, de forma sequencial e atuando no mundo concreto. A questão essencial do yoga é: "quem sou eu?". Somente um intelecto equipado de um corpo de carne e ossos? Para o yoga, somos muito mais. Além de nossa inteligência consciente, de nosso intelecto brilhante, somos dotados de um vasto inconsciente ilimitado que pode se conectar às outras realidades imperceptíveis em estado de vigília comum.

O relaxamento é a condição indispensável para esse acesso.

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O relaxamento é a preparação à descoberta do mundo voltado para dentro, o mundo interno que necessita de uma certa concentração para ser penetrado. Não pode acontecer essa entrada no mundo de dentro se o corpo e a mente estiverem travados por tensões físicas e psíquicas.

É indispensável aprender a relaxar o corpo não só para salvar sua saúde física e psíquica, mas também para permitir a circulação ideal de todas as informações que vêm de todos os níveis: do corpo interno, do meio externo, do mundo das emoções e de outras realidades que geralmente não temos nenhuma consciência como, por exemplo, o nível de serotonina – hormônio do bem-estar – que circula no nosso sangue ou o número de unidades de ensolaramento – luz – que impregna e faz a regulagem do relógio biológico. Tudo isso e muito mais é indispensável para a saúde e equilíbrio, sem contar com outras realidades psíquicas que influenciam o comportamento como as memórias das células, genética, memória genealógica e etc…

Um jeito mais rápido de entrar no estado de relaxamento, que foi estudado, divulgado e transmitido pelo yoga é a observação da respiração. Almejar, num estado de imobilidade tranquila, uma expiração que tenha o dobro de duração da inspiração é o melhor jeito de relaxar toda a musculatura e de permitir a abertura de todos os "ductos" para facilitar a circulação dos fluídos, inclusive a energia vital "prana" ou "chi" que anima, segundo a filosofia, cada célula do corpo, cada partícula do universo. Para completar, acompanhar cada inspiração/expiração de uma frase ritmada como "a cada respiração/meu corpo relaxa", como se fosse um mantra, uma música repetitiva, seria o ideal. No parágrafo seguinte, você entenderá o porquê.

A auto-hipnose permite a mobilização das forças do inconsciente (1). Temos forças incríveis ao nosso alcance. Raramente usamos essas possibilidades. A auto-hipnose nos dá a possibilidade, por meio do poder da sugestão e do efeito placebo, de modificar nossa realidade cotidiana e transpor obstáculos para nossa realização.

O ser humano é dotado de "um anjo da guarda" que devemos ativar conscientemente, de pedir para ele arregaçar as mangas e de trabalhar para nós.

Hemisfério esquerdo (razão); hemsifério direito (emoção) É necessário falar da noção de meio-hemisfério esquerdo e direito ligado entre eles por uma ponte feita de fibras nervosas, o corpo caloso, que serve para a comunicação entre os dois hemisférios.

É interessante entender que o meio-hemisfério esquerdo tem como atribuições dominantes o intelecto racional e as atividades ligadas à lógica, a um tempo linear e a um mundo concreto, dando a percepção do eu separado dos outros e do universo.

Enquanto o meio-hemisfério direito tem como atribuições a visão global, o mundo das emoções, a visão artística e poética, e é a sede da imaginação criativa. Graças a ele temos a sensação de fusão, de integração ao todo.

O estado de relaxamento e as frases repetidas vão propiciar um estado de consciência particular que abre o acesso para uma parte inconsciente que usa o meio-hemisfério direito.

Durante o estado de auto-hipnose, o meio-hemisfério esquerdo deve permanecer lúcido e consciente, enquanto o meio-hemisfério direito muda de plano de consciência

O corpo caloso toma o papel de "censor". Ele filtra as informações que passam pela ponte entre os hemisférios.

O segredo para fazer com que uma informação, uma sugestão passe "para o outro lado da ponte" é a repetição. Depois de um certo tempo o "censor" se desinteressa, assim a informação tem possibilidade de "passar para o outro lado", hemisfério direto.

Para resumir: a sugestão é transmitida ao hemisfério direito depois de ter passado pelo esquerdo.

As informações têm o máximo de chances de passar quando o eu-consciente de vigília está abaixando a defesa, quando o hemisfério esquerdo é o mais permeável à informação, à sugestão, para criar uma possibilidade de sugestão ideal e máxima.

O melhor momento é o momento de cair no sono ou… durante um relaxamento.

Para aproveitar ao máximo a fase antes de adormecer, é aconselhado aumentar a permeabilidade do eu-consciente levando nossa atenção para uma função corporal. Aqui está o genial yoga que propõe o direcionamento da atenção para a respiração, com a sugestão: "a cada respiração/mais calma".

Podemos também sugerir uma outra proposta, ritmada sobre as inspirações e expirações como, por exemplo: "a cada respiração/tenho mais confiança em mim".

A auto-hipnose é uma ferramenta de programação mental para nos ajudar em cada fase da vida.

Acoplando relaxamento e respiração com ritmo, o censor desiste e acha a situação tão maçante que para de vigiar e, com isso, a sugestão passa para o outro lado impregnando todos os níveis do ser.

São vários os níveis:

– desde o estado habitual de vigília, onde a consciência está para fora;

– nível onde tem possibilidade de diálogo entre a consciência consciente e o inconsciente, auto-hipnose;

– os diferentes níveis que correspondem ao sono, de menos a mais consciente;

– e um outro estado de consciência que é… a morte. Segundo a filosofia do yoga, o corpo é usado por um ser eterno, o tempo da encarnação. O tempo eterno do ser eterno que é o Espectador eterno da experiência vivida durante a encarnação presente. Está situado na camada chamada "ananda maya kosha", o invólucro de felicidade do nosso ser profundo.

Bastaria esperar a morte para conhecer a liberdade de um ser sem limites?

Existem mais e mais pessoas que comentam as experiências de EQM(2). Esse fenômeno hoje é muito comentado. Sobreviveria algo após a morte? Começam a se perguntar certos médicos como, por exemplo, Eben Alexander (3), neurocirurgião, no seu livro em 2008*

Eben Alexander: neurocirurgião

A meditação é o procedimento controlado e consciente que permite voltar gradativamente através de todas as camadas do psiquismo em direção ao Espectador eterno. Geralmente, no decorrer da encarnação, esquecemos dele. Devemos parar de nos identificar aos instrumentos de nosso pequeno eu que – por engano – achamos ser eu, para novamente se identificar a ele, nosso ser último e eterno.

Viajando em direção à fonte do nosso ser, podemos diluir a sensação de separação, a dualidade, podemos fundir-nos com o universo parando de viver na separação.

A arte da meditação é a busca do Espectador profundo: " Sou, quem vê" sem nome, sem sexo: " Eu sou" simplesmente, e "Eu sou" eterno.

Meditar está na moda. Podemos comprar livros de todas as vertentes sobre a meditação. Meditar não é reservado aos yogis, porém os antigos sábios elaboraram métodos geniais, técnicas precisas.

Para os yogis a meditação é um procedimento que leva a um estado de integração total, que vai além do intelecto que mencionava no primeiro parágrafo. Precisamos do intelecto para começar o processo, porém é o primeiro degrau de uma escada que não pode ser pulado, que se compõe de nosso aparelho psicossomático.

Praticando o relaxamento, a auto-hipnose e a meditação estamos tomando em nossas mãos nossa saúde integral, fonte de harmonia.

Obrigada, mais uma vez, aos yogis, de ter explicado em detalhes "como proceder" desde milênios.

Espero, caro leitor, ter esclarecido suas dúvidas. Atenciosamente,

(1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipnose ver a definição da hipnose e, por conseqüência, da auto-hipnose

(2) Definição do Wikipedia

O termo experiência de quase-morte ou EQM refere-se a um conjunto de visões e sensações frequentemente associadas a situações de morte iminente, sendo as mais divulgadas a projeção astral (também chamada de "projeção da consciência", "desdobramento espiritual", "emancipação da alma", "experiência fora do corpo", etc), a "sensação de serenidade" e a "experiência do túnel". Esses fenômenos são normalmente relatados após o indivíduo ter sido pronunciado clinicamente morto ou muito perto da morte, daí a denominação "EQM". O termo "experiência de quase-morte", em francês "expérience de mort imminente" foi proposto pelo psicólogo e epistemólogo francês Victor Egger em 1896 em "Le moi des mourants" como resultado das discussões no final século XIX entre filósofos e psicólogos, relativos às histórias de escaladores sobre a revisão panorâmica da vida durante quedas.1 O interesse popular pelas EQMs se iniciou devido principalmente ao trabalho do psiquiatra/parapsicólogo Raymond Moody em seu best seller Vida Depois da Vida, escrito em 1975 sob o nome de Near-death experiences (NDEs), repetindo a frase já proposta por Victor Egger.2 Muito se estuda sobre as experiências de quase-morte, mas não existe nem prova científica e nem consenso científico sobre o significado e a causa desses fenômenos. Vários médicos, parapsicólogos, cientistas e espiritualistas apontam as experiências como provas da projeção astral e da vida após a morte3 , por outro lado, muitos outros médicos e cientistas apontam as EQMs como tendo características de alucinações.

Mais informações, os livros de Andre van Lisebeth

(3) http://www.lemonde.fr/sante/article/2012/10/14/un-neurochirurgien-americain-raconte-son-experience-de-mort-imminente_1775220_1651302.html

Atenção!
Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.