por Flávio Gikovate
No texto anterior (veja aqui), falei sobre o sentimento de profunda humilhação causado por nós, aos nos compararmos com alguém que julgamos ter atributos ou talentos superiores aos nossos. Essa desagradável sensação de se sentir por baixo deriva-se da inveja.
O religioso percebe o ridículo de tudo isso, percebe que a busca de satisfações materiais é crescente – todo mundo tem o seu sonho de consumo! Ele se opõe ao caminho desse processo insaciável; despreza as coisas materiais e se propõe a uma vida austera, “espiritualizada”. Isso também é vaidade, pois ele passa a se sentir superior, mais próximo de Deus.
Ele se considera melhor do que os ridículos materialistas e exibe o seu desprendimento. Isso também chama a atenção e faz surgir a sensação erótica provocada pela vaidade.
Por esse caminho, entre outros, a vaidade penetra no mundo da reflexão moral e nos processos psíquicos que fazemos com o intuito de construirmos nossos valores.
A renúncia aos prazeres materiais também é um tipo de prazer e vicia do mesmo modo. A partir desses pouco exemplos – pouquíssimos! – veja textos anteriores, fica fácil concordarmos com a afirmação do Velho Testamento (Eclesiastes): “Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade”.
Entender essa dinâmica da vaidade frente à natureza humana é essencial para a busca de um certo equilíbrio humano, essencial para um aprimoramento e harmonização da sociedade como um todo.