Por Samanta Obadia
Observo a vida passar e ela passa. Passa tão rapidamente, que quando a gente para pra olhar, já passou. Mas ela volta no reencontro com as pessoas que povoaram nosso passado, e se faz presente nas lembranças, nas histórias revividas, nas gargalhadas e nas lágrimas.
Tudo passa. É verdade. Mas somos seres do tempo, de um passado que se faz presente e de um futuro que se projeta no hoje. Nas celebrações percebemos isso na ausência dos entes queridos.
Muitas vezes fugimos de prazeres simplórios, como o estar entre amigos de infância ou de um tempo bom, universidade, um antigo emprego ou outro grupo qualquer que fale de um tempo que ainda vive em você, mas que você esqueceu-se de sentir. É péssimo não ir aonde queremos estar, e constatar que a covardia de se lembrar de quem foi evita o prazer de ver-se inteiro, com passado, presente e futuro.
A vida nos dá muitas chances. Mas as deixamos passar, e o agora se foi. O medo de viver um momento feliz nos arranca o brilho da alma, amarela o nosso sorriso e entristece o nosso olhar.
As desculpas e as justificativas para não viver o agora são inúmeras e bem fundamentadas: a família, o trabalho, as obrigações. Lugares conhecidos e mornos, aos quais somos apegados. Lugares confortáveis de nossas vidas, produtores de uma falsa paz que de maneira estúpida e fraca nos fazem esquecer quem somos.
Aceitar o mesmo sem boas doses de prazer nos leva à tristeza, ao medo, à compulsão e ao pânico de não sair do lugar. Uma vida má faz isso, nos prende ao nada ilusório, não nos deixa sair do que nos indicaram como seguro.
E o que é seguro? É não ter motivos para rir ou para chorar? É não correr riscos? Temos medo do desconhecido mesmo quando ele é apenas uma lembrança de nós mesmos e do que resolvemos esquecer, na ilusão de um amadurecimento no mundo adulto. Isso sim é falso, fraco e triste.
Todo indivíduo adulto tem em si uma criança levada, um adolescente rebelde, um descompasso juvenil, gafes e paixões vividas, que trazem graça quando partilhados com seus pares. Reviver o passado bom é trazer vida ao presente, é renovar nossos bons olhos ao futuro. Se permitir transitar de volta ao passado é ter a liberdade de saltar de um tempo ao outro, sempre com a possibilidade de ser feliz agora.
Afinal, ainda que se repita todos os anos, a recente celebração da Páscoa vem nos lembrar de que com o passar do tempo há algo que morre em nós para que a vida possa ser renovada.