por Regina Wielenska
Vivemos tempos de valorização da autoestima, do amor-próprio, das selfies para as redes sociais e da ostentação de roupas, joias, carros, todo um estilo de vida, com mil viagens e compras. O narcisismo, em suas várias manifestações, impera. Isso tudo, por si só, já acarreta problemas: quem não dança conforme a música pode se sentir vazio, sem valor algum, isolado, largado na sarjeta. Uma das armadilhas desse modo de funcionar no mundo é que não há uma fronteira do tipo "eu cheguei lá", ou "agora estou bem". Pelo contrário, a meta é avançar nas etapas de um jogo sem-fim.
Uma revisão de valores pode ajudar. A pessoa precisaria se questionar sobre a quais propósitos sua existência tem servido. Pra que ser mais uma ovelha nesse rebanho? Quão verdadeiras são as recompensas existenciais para os seguidores de tão fúteis regras?
Além disso, nem sempre buscar agradar a todo mundo preenche as necessidades emocionais de uma pessoa. Há quem curse Direito pra obedecer a tradições da família, mesmo seu coração estando depositado na aviação ou biologia, por exemplo. Um conhecido me contou que fazia uso de energético com anfetamina pra aguentar ficar na balada até o amanhecer. A troco de que tamanho desrespeito com suas necessidades biológicas básicas, como o sono e os décibéis seguros para exposição à música?
Quem se liberta da tarefa de agradar a todo mundo, passa a viver uma vida mais rica e proveitosa. Nessa mudança dá pra levar em conta valores que combinam com a individiualidade de cada pessoa. Isso pode parecer utópico, mas dá para começar a experimentar aos poucos a fina arte de esculpir cuidadosamente quem você sente que é. Aceite que nem dá pra almejar que todos lhe admirem, respeitem e concordem com suas opiniões, ações e escolhas. Defenda o direito de que os outros não lhe adorem, tanto quanto você tem o direito de ser quem é.
Celular de último modelo não acrescenta nada de especial a quem o compra. Beber feito louco num cruzeiro, porque todos fazem isso, não torna melhor a paisagem oceânica. Ter relações sexuais quando o desejo inexiste, apenas pra agradar ao moço e evitar críticas, nada disso funciona.
Reserve ao outro o direito de discordar de você, desde que isso, respeitosamente, traga um senso de conformidade entre o que se sente, pensa e faz. Você passa a agir de acordo com seus valores, agora depurados; provavelmente cresce a autoconfiança e o amor-próprio, mas despojados do corrosivo narcisismo ou da obrigação de agradar a todo mundo.