por Elisandra Vilella G. Sé
“A resiliência comunitária que é a mobilização de apoios, capacidades, recursos coletivos, solidários permite reparar perdas e danos e seguir adiante com esperança e autoestima na coletividade”
Um momento de enfrentamento de adversidades, eventos negativos, vulneralibilidade social, perdas é sempre um momento de desafio adaptativo que o ser humano pode passar no curso de vida.
A adaptação é também um desafio de criar estratégias de confrontação e resolução de problemas. Os eventos negativos, os desastres, as perdas por catástrofes sociais que se caracterizam como situações de vulnerabilidade social, que por vezes são inevitáveis, desencadeiam uma resiliência comunitária que se potencializa com as redes de apoio.
A resiliência é a capacidade que o ser humano tem de enfrentar as adversidades, a qual proporciona ao indivíduo ser transformado por esses fatores potencialmente estressores, adaptando-se ou superando tais experiências traumáticas. Trata-se da capacidade que a pessoa tem para se desenvolver normalmente sob condições difíceis ou de risco, e que todas as pessoas, em menor ou maior intensidade, terão de enfrentar alguma dessas condições enquanto estiverem vivas.
A resiliência e a interação entre fatores de risco e de proteção podem se integrar ao longo do curso de vida, seja na infância, na adolescência, na vida adulta ou na velhice. Nesse sentido, pode-se envelhecer bem, com saúde e de forma satisfatória na medida em que o indivíduo ou um grupo social consegue agir de forma resiliente diante dos riscos inerentes ao seu desenvolvimento.
Segundo Patrocínio (2010)* a vivência de situações traumáticas, a passagem por uma situação de vulnerabilidade social é um processo incapacitante que se refere ao processo pelo qual determinada condição (aguda ou crônica) afeta a funcionalidade das pessoas adultas e muito mais das pessoas idosas. Assim a resiliência comunitária se torna relevante para mobilizar a adaptação das pessoas, a potencializar a força interna que cada um possui e que minimiza os eventos estressores, os efeitos negativos e lhes dão esperança.
Recursos e potencialidades existentes na velhice podem se constituir em um mecanismo multideterminado e mediador nesse processo de envelhecimento, um deles é a resiliência. Isso nos permite pensar a resiliência não apenas como um atributo inato ou adquirido, mas sim um processo interativo e multifatorial, envolvendo aspectos individuais, as variáveis do contexto, o altruísmo, as redes de apoio, as condições vitais e a presença dos fatores de proteção. Esses fatores são os mecanismos de autorregulação do self (eu) como autoeficácia, autoconfiança, autoestima, autocontrole… Enfim, mecanismos de enfrentamento do estresse.
Resiliência psicológica e religião
Um fator também importante que faz parte da resiliência psicológica é o envolvimento com religiosidade, que corresponde, por vezes, a uma estratégia de enfrentamento eficaz, como um forte elemento na rede de apoio social do idoso, que pode ser através da promoção da fé. Apresentar uma visão positiva do futuro proporciona ao idoso buscar adaptações e recursos internos para lidar com as adversidades e a manter condições adequadas para a manutenção do bem-estar psicológico.
Quanto à rede de apoio, a reciprocidade envolvida nas trocas interpessoais relacionadas ao apoio social é um outro aspecto que vem sendo abordado nas investigações sobre a importância da rede de apoio social no bem-estar. Através da resiliência comunitária e das redes de apoio as pessoas que passam por situações de vulnerabilidade social podem ter a oportunidade de refazer suas vidas.
A passagem por catástrofes, desastres, perdas que caracterizam a vulnerabilidade social de um grupo ou comunidade é um momento de muita dor, pânico, desespero. Isso tudo é ao mesmo tempo desafiante para um recomeço de reconstrução e transformação individual e social. Essas transformações acabam por desencadear fundamentais mudanças na esfera da vida privada.
Os últimos acontecimentos no Brasil desencadeados pelas fortes e frequentes chuvas é um exemplo dessa vulnerabilidade social, em que a qualidade de vida das pessoas é comprometida.
As ações de redução de vulnerabilidade não podem se restringir à instituição do governo com esperança de que todas as ações serão efetivas. É fundamental que as ações intersetoriais, a junção da saúde com a educação, bem como a articulação das seguintes áreas: trabalho, bem-estar social, jurídica, cultural e comunitária possam melhorar o resultado final. Um exemplo disso é a solidariedade, a junção pública e privada e a consciência com o meio ambiente. Portanto, a resiliência comunitária que é a mobilização de apoios, capacidades, recursos coletivos, solidários permite reparar perdas e danos e seguir adiante com esperança e autoestima na coletividade.
Um aspecto importante para a história é a transmissão de conhecimentos de geração à geração. Os conhecimentos adquiridos em situações adversas como essa devem ser passados para outras gerações, para que essa transmissão cultural de resiliência ajude outros grupos a potencializar e promover transformações no curso de vida, na qualidade de vida e na vida sustentável.
Podemos lembrar aqui uma expressão bastante corrente na memória coletiva, que é “A união faz a força”.
* Patrocinio, W.P. (2010). Social vulnerability, age and resilience. Revista Kairós, São Paulo, Caderno Temático 7, junho 2010.