por Ceres Araujo
A resiliência, em todas as idades, é a capacidade humana de superar adversidades e de ser fortalecido por elas. Em função dessa capacidade, o individuo pode transformar as dificuldades em desafios e buscar meios novos para enfrentá-los, continuando seu processo de desenvolvimento de forma adaptada.
A avaliação de resiliência se baseia no conceito de que a resiliência reflete o grau no qual os recursos pessoais de um indivíduo igualam ou excedem sua reatividade a estressores internos e externos.
Na trajetória do desenvolvimento humano, o advento da terceira idade se caracteriza como um período sensível e de maior vulnerabilidade. Fatores de risco biológicos, socioeconômicos e psicológicos podem se sobrepor.
Os riscos incluem morte de familiares, doenças, acidentes, incapacidades físicas e mentais, perda de prestígio, conflitos familiares, pobreza, abandono, entre outros.
O isolamento do contexto profissional, social e afetivo, determinado muitas vezes por uma aposentadoria que pode ser tanto desejada quanto indesejada, o ressurgimento de traumas ocultos não elaborados, o peso do não vivido e a dificuldade de se perdoar constituem também fatores de risco importantes.
Pode-se acreditar que, ao longo da vida, a resiliência não só não declina, mas tende a aumentar, funcionando como mediadora para o alcance de bons padrões de adaptação, conhecidos como velhice bem-sucedida.
Para se pensar no desenvolvimento de um processo resiliente ao longo da vida, é necessário adotar os conceitos de plasticidade e de recursos internos. Se na infância a plasticidade se traduz em aprendizado, na vida adulta e na velhice ela se traduz em flexibilidade diante dos estressores. Os recursos internos estão relacionados aos fatores de resiliência, que na velhice podem ser descritos como: um bom conceito de si mesmo, boa autoestima, senso de autoeficácia, competência no controle dos impulsos e capacidade para regulação emocional. São importantes os recursos do meio representados pelo suporte familiar e social e os relacionamentos com a comunidade.
Cada um desses recursos internos acima descritos são muito importantes na velhice. Por exemplo, as vantagens do aumento da capacidade de regulação emocional vinculado ao envelhecimento se refletem em: maior adaptação do sistema cardiovascular e do sistema imunológico, maior habilidade para buscar suporte social, maior capacidade para se adaptar à intensidade de eventos estressantes, maior possibilidade de integração afetivo-cognitiva, menos sintomas de ansiedade e depressão e maior satisfação com a vida.
Além disso, são resilientes os idosos que não sucumbem às adversidades, mas agem de maneira contrária: na presença delas, mostram um padrão adaptativo positivo, caracterizado pelo manejo dos eventos que ameaçam a adaptação ou que, depois de serem afetados por adversidades, conseguem recuperar seus níveis anteriores de funcionamento. Diante da adversidade, o idoso pode ter, pela experiência de vida – e, muitas vezes, por mais sabedoria – melhor capacidade para alterar o significado atribuído a ela. Além disso, pode reduzir cognitivamente o nível de perigo de eventos estressores, pela diminuição de sua exposição a eles. Pode minimizar também as próprias reações negativas, mantendo a autoestima e a autoeficácia e criando oportunidades para reverter os efeitos do estresse.
Conceito
A definição de resiliência na velhice ganha mais características: ela é definida como força interna, poder ou força pessoal que se relaciona com senso de coerência, com metas da vida e com a transcendência, isto é, com a capacidade de projetar-se além de si mesmo, em direção ao altruísmo e à sabedoria. Isso implica em olhar para o lado luminoso da vida, sem desconsiderar o lado sombrio, e viver o presente integralmente.
O conceito de si mesmo, nesse momento da vida, caracteriza de fato uma identidade mais vivida e a consciência de que se é leal a si mesmo fortalece a autoestima. Sabe-se que a lealdade a si mesmo implica em liberdade para viver a vida com o significado que lhe seja mais genuíno.
Na idade madura, a pessoa, que se sente livre e leal a si mesma, para quem a vida tem significado, conjuga fatores de resiliência que possibilitam o não sucumbir facilmente aos fatores de risco biológico, socioeconômico e psicossocial que a idade avançada traz. Ela pode conseguir manter uma flexibilidade e uma resistência para lidar com as limitações e as perdas que acontecem, pois tem o desejo de viver. É fundamental a motivação para desejar e sonhar, para se colocar metas e para persegui-las. Para se manter ativo, vivo e livre, é necessário continuar sonhando com a possibilidade de novos ganhos e de novas realizações até o fim da vida.