A resistência à insulina é identificada como a resposta biológica prejudicada dos tecidos-alvos à estimulação insulínica. Traduzindo: todos os tecidos com receptores de insulina podem se tornar resistentes, mas os tecidos mais afetados são o fígado, músculo esquelético e tecido adiposo. Quando os receptores nas células começam a criar resistência, aí também começam os problemas metabólicos.
A insulina ajuda as células a absorver o açúcar ingerido, permitindo que a glicose que circula no sangue entre para ser usada como fonte de energia. Quando comemos carboidratos, os níveis de açúcar no sangue aumentam subitamente. Para lidar com isso o pâncreas libera insulina, que vai direcionar o excesso de açúcar para as células e manter níveis sanguíneos equilibrados.
Resistência à insulina
A resistência à insulina acontece quando as células do corpo não respondem ao comando da insulina. Apesar de um nível suficiente de insulina, as células do fígado, músculos e tecido adiposo não conseguem absorver a glicose que circula no sangue, e assim ‘o açúcar fica alto’. Na sequência há um aumento na produção de triglicerídeos (um tipo de gordura composta por três moléculas de glicose), prejudicando ainda mais a sensibilidade à insulina.
Podemos pensar na resistência à insulina com uma analogia de porta, fechadura e chave. A membrana que envolve as células é a ‘porta’. Na porta estão as ‘fechaduras’, os receptores celulares localizados na superfície (membrana) das células. Para entrar nas células, a glicose precisa da ‘chave’ para abrir a porta – insulina é a chave. Quando chaves e fechaduras estão funcionando bem, as portas se abrem, a glicose entra nas células e os níveis no sangue ficam normais. Se a fechadura estiver emperrada ou bloqueada, a chave não funciona e a glicose tem dificuldade para entrar – aí temos a resistência insulínica que leva à hiperglicemia. Há insulina disponível, mas ela não é capaz de abrir a porta porque os receptores celulares não estão receptivos – eles perdem a capacidade de reconhecer a chave (insulina).
Resistência à insulina faz o pâncreas trabalhar pesado
Quando há resistência à insulina isso significa que as células dos músculos, gordura e fígado não são capazes de absorver e usar o açúcar no sangue. Isso faz com que o pâncreas trabalhe pesado para produzir mais insulina, tentando compensar a fraca resposta do corpo à insulina. O problema é que as células-beta do pâncreas vão cansando e perdem a capacidade de acompanhar a demanda excessiva de insulina – isso leva ao acúmulo de glicose no sangue (hiperglicemia). A resistência à insulina crônica leva ao pré-diabetes, diabetes tipo 2, alterações metabólicas, fígado gorduroso, inflamação subclínica.
O pâncreas precisa fazer hora extra e secretar mais insulina para compensar o excesso de glicose no sangue, assim os níveis de insulina em jejum permanecem elevados, caracterizando o diagnóstico de resistência insulínica – insulina sempre alta. Vários fatores podem prejudicar a sensibilidade à insulina, porém uma supernutrição contínua (tipo beliscar o tempo todo) cria um ciclo vicioso de insulina 24h/dia, o que altera a fechadura (receptores celulares). Quando há resistência à insulina, aumenta o risco de obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e há menor expectativa de vida.
Sinais e sintomas de resistência à insulina
Os sinais e sintomas de resistência à insulina podem incluir aumento de apetite, desejo intenso por açúcar, excesso de peso, dificuldade para emagrecer, fadiga após as refeições, alterações hormonais em mulheres e homens (testosterona, estradiol), acne, pressão alta e outros problemas de saúde. No entanto, a resistência à insulina pode ser silenciosa e passar despercebida por anos, produzindo sérias consequências, como síndrome metabólica, doenças cardíacas, derrame, insuficiência renal, problemas hepáticos, câncer, demências.
Prevenção e tratamento
A resistência insulínica e a hiperinsulinemia associada são alterações metabólicas que, se ignoradas, podem levar a múltiplas desordens orgânicas. Intervenções dietéticas, alimentação regrada, modulação da microbiota intestinal, mudanças de estilo de vida, praticar exercícios têm sido propostos na prevenção e tratamento da resistência à insulina, incluindo uma ampla gama de suplementos alimentares sensibilizadores da insulina. Entre os ativos naturais mais conhecidos estão berberina, quercetina, silimarina, curcumina, gengibre, resveratrol, catequinas do chá verde. Metformina é um ativo medicamentoso que atua na sensibilização da insulina e deve ser usado com acompanhamento médico.
Referências:
*Int J Molecular Science 2024. Changes in Cells Associated with Insulin Resistance.
*StatPearls 2023. Insulin Resistance.
*Current Diabetes Reviews 2024. Conceptual Overview of Prevalence of Prediabetes.
*BMC Medicine 2020. Insulin: too much of a good thing is bad.
*Molecules 2023. Mechanisms of Berberine, Quercetin & Silymarin on Insulin Resistance/Hyperinsulinemia.
*Drug Discovery Today 2023. Mechanistic insights into the beneficial effects of curcumin on insulin resistance.
*Nutrients 2022. Implications of Resveratrol in Obesity & Insulin Resistance.