por Rosemeire Zago
Tenho observado que muitas das queixas no consultório, ou entre amigos e familiares, é a questão da falta de respeito. Neste final de semana aconteceu algo no prédio onde moro que caracteriza um pouco ao que me refiro. Houve uma festa no salão localizado no térreo, e o som ficou ligado num volume que devia repercutir por algumas quadras, até às 3:30hs da madrugada, com direito a gritos, estouros de bexigas, e pessoas cantando alto. Sim, era sábado, mas muitos acordam cedo também no domingo para ir trabalhar. Quando questionado ao porteiro sobre a síndica, a orientação recebida do porteiro é que ela não deve ser “incomodada”. Apesar das várias reclamações feitas pelos moradores, o som continuou. Foi acionado 190 e o policial quando chegou, simplesmente foi mandado embora pelos responsáveis da festa. Qual a necessidade de pessoas que agem dessa maneira? Provar o quê? A quem?
Vemos a falta de respeito também nos atendimentos das empresas pelas quais pagamos por seus serviços e quando precisamos de um atendimento, seja para informação, reclamação, sugestão, somos atendidos por gravações, ou ainda, por pessoas que recebem treinamento para agirem como se fossem robôs, como se quem estivesse do outro lado, no caso, nós, não fossemos dignos de respostas ou de nossas solicitações atendidas.
E quando dirigimos nossos automóveis pelas ruas públicas, quantos de nós não temos observado o carro à frente ir bem devagar, mesmo estando do lado direito, e ao se aproximar do farol que está fechando, acelerar mais, te deixando parado? Ou ainda, motoristas que param no meio da rua, sem se importarem com quem vem trás? E o recente acidente onde o rapaz foi gentilmente ajudar outro motorista e pagou com sua própria vida, não sendo socorrido nem por quem ele quis ajudar? O que dizer diante de tanto desrespeito pela vida humana? Sem falar do caso Isabella, e tantos outros que temos conhecimento e tantos que nem ficamos sabendo.
Mas podemos pensar em casos bem mais próximos, dentro de nossa própria família e muitas vezes, dentro de nossa própria casa. Quantas pessoas são violentadas, agredidas, desrespeitadas, pelo marido, mãe, filho, tio, irmão, etc., e não conseguem forças nem para se defender?
Até aonde vai o limite da tolerância e paciência diante desses fatos? Paciência… penso que esse é um dos nossos grandes aprendizados que todos temos que obter, mas como agir quando estamos sendo lesados, prejudicados, injustiçados, passados para trás? Como lidar com o sentimento de impotência frente às várias situações que nos são colocadas no dia-a-dia?
As pessoas estão se esquecendo, ou será que nunca aprenderam, a colocar em prática a ética, responsabilidade e respeito? Quando criança, ainda me lembro, meu avô dizia que a palavra valia mais que qualquer papel. Existia responsabilidade pelo que se fazia, falava, mas não nos dias de hoje. Na maioria das vezes nem com documentos conseguimos provar algo, e se tentamos, podemos levar anos. O que leva muitos a sequer tentarem lutar pelos seus direitos, infelizmente, tornado-se omissos e dando cada vez mais poder para aqueles que já o detêm, e que demonstram precisar disso para provar aos outros, e a si mesmos, que com poder são pessoas com mais capacidade, quando sabemos que na verdade, autoridade e poder nada tem haver com capacidade.
Pessoas que são agressivas em seu modo de falar, agir, e assim, intimidam, humilham, envergonham, querem conseguir o quê? O respeito que eles mesmos não sentem por si próprios? Se impor perante o outro, apenas com o intuito de mostrar que quem manda é ele? Afinal, qual a vantagem que se obtém no desrespeito?
Todos sabemos que a falta de respeito com o outro, seja esse quem for, é apenas o reflexo da falta de respeito por si mesmo, e principalmente da falta de autoconhecimento. Não pretendemos ser melhor que ninguém, mas não podemos negar que cada um age de acordo com seu nível de evolução, e quem sabe vendo por esse prisma, conseguimos compreender as limitações, para não dizer, maldade, do ser humano para com seu próximo.
É lamentável que cada vez mais a falta de respeito, e em seu extremo e conseqüência, as atrocidades existam, e se fazem presente dentro de nossas casas, quando não literalmente, pela mídia; mas devemos, sim, aprender também a nos defender; de maneira honesta, responsável, ética, mas nos defender. Como? Começando por cada um fazendo uma análise de seus próprios comportamentos, observando-se como age com aqueles que ama, com amigos, conhecidos e principalmente, desconhecidos. Se após sua análise profunda e verdadeira, concluir que não há o que mudar em si mesmo, ou se você até tem o que mudar, mais respeito pelos outros e por si mesmo não lhe falta, continue assim!
Afinal, não é porque algumas pessoas, ainda que seja maioria, não respeitam nada, nem ninguém, é que iremos mudar nosso próprio jeito de ser para nos tornar igual. Devemos sim, aprender com aqueles que exercitam acima de tudo a humildade e respeito, e ter paciência com aqueles que não sabem ou ainda, não aprenderam, que o respeito pelo outro começa com o devido respeito por si mesmo.