por Nicole Witek
Ter uma respiração eficiente garante uma saúde maravilhosa. Já ouço todas as objeções: e quanto às nossas cidades poluídas, à nossa vida de trabalho trancados num ambiente com ar-condicionado, à nossa rinite alérgica crônica de narinas bloqueadas, nossa asma sufocante, nosso afastamento geográfico do ar respirável?
Apesar de todas as objeções, respirar bem, é necessário sim. Quanto maior for essa consciência, quanto mais presente na nossa mente estiver, ‘melhores respiradores’ nos tornaremos.
Passando da vida aquática intrauterina, a primeira inspiração de ar marca o início de nossa vida. Essa deveria ser a primeira de milhares de respirações naturais e gostosas. Mas com o passar dos anos, os condicionamentos, a mudança da espontaneidade da infância para o comportamento contido do adulto, a história do corpo, seus acidentes, traumas, ou simplesmente seu abandono, largado na poltrona do aposentado hipoventilado. Tudo isso, e muito mais, muda nossa respiração natural e instintiva. Existe uma inteligência maravilhosa que pede socorro.
Respirar só pode ser correto quando o corpo volta a ter a flexibilidade de aceitar a respiração. Uma caixa torácica rígida como uma gaiola de ferro, uma coluna vertebral dura ou esquecida, um diafragma órfão e inativo, uma musculatura retraída, contraída, tranca o ser humano em uma armadura onde ‘respirar simplesmente’ se tornou impossível.
Para usufruir mesmo das técnicas de yoga, é imprescindível trabalhar nosso corpo. A vida sedentária que nós levamos, nos afasta do funcionamento natural do corpo. Para ter acesso a técnicas mais sutis, temos que passar pelos primeiros degraus que favorecem o retorno a uma respiração completamente normal.
As primeiras aulas de hatha yoga visam o retorno à flexibilidade das articulações das costelas com a coluna vertebral, da musculatura intercostal – musculatura localizada entre as costelas. Nossas costelas mudam a inclinação e perdem a orientação correta em relação à coluna, quando estamos na posição sentada durante longas horas. Precisamos encontrar de novo o movimento das costelas.
É preciso amaciar as costas rígidas, alongar uma musculatura abdominal contraída e dura e criar as condições para uma respiração correta.
E você pensa o quê? Musculação? Malhação? Academia? Para que então? Pois é! Difícil mesmo encontrar o meio-termo entre uma musculatura que precisa ser tonificada e macia ao mesmo tempo, pois os glúteos precisam ser duros, a musculatura abdominal precisa ser firme para sustentar a coluna vertebral e macia para permitir a respiração. Que paradoxo!
Os músculos infelizmente sabem se contrair, porém sabem muito pouco se alongar. Temos essa oportunidade nos alongamentos, antes da sessão ou depois. Só que a proporção de nossas atividades que requer contração é muito maior do que a que requer alongamento. E aos poucos a musculatura fica encolhida, ainda mais dura. A flexibilidade de nossas articulações desaparece, trancando a respiração.
O ideal? Continuar com sua atividade física, talvez escapar um pouco da 'ditadura', que nos coloca no molde dos atletas de olimpíadas, que pede um corpo durinho, para abrir espaço para sessões de hatha yoga, fora ou dentro de casa. De 20 a 30 min diários são suficientes, ou pechinchando pode limitar-se a três vezes por semana mantendo o mesmo tempo.
Assim que você começa a se preparar para sua sessão, você perde a noção do tempo. Esse tempo se torna um momento de recuperação das energias, de respiração e alongamento gostoso, a mente se desvincula das preocupações gritantes, e você só quer prolongar mais um pouquinho esses minutos de bem-estar, onde respirar se tornou um ato consciente e gostoso, ampliado pela sua consciência – consciente – de finalmente voltar na primeira respiração da sua vida, quando seus pulmões se abriram para a vida pela primeira vez!
É essencial sim! Descrevi muitos obstáculos que você poderia citar, mas não há nada igual a gozar de uma respiração gostosa, que traz sensações de euforia e liberdade. Nesse caso, o corpo fica feliz e já estamos a caminho de uma qualidade de vida muito melhor. Abaixo darei uma dimensão do que seja respirar corretamente.
Como anda a sua respiração?
Agora, você está na frente do seu computador, lendo este artigo, provavelmente com os ombros tombados para frente, o tronco longe do encosto para concentrar-se no assunto. Você esta sentado nessa postura ‘feia’ e sem tônus.
– Esvazie os pulmões, expirando pelo nariz, contraindo a musculatura abdominal no fim da expiração;
– Fique dois segundinhos sem ar;
– E liberando o ventre da contração, deixe a inspiração maravilhosa se propagar ao longo da sua coluna, sinta… simplesmente, imaginando as vértebras se afastando uma da outra, os espaços entre as costelas ampliados. Pode deixar seu corpo expirar tranqüilamente para depois repetir varias vezes, sem pressa, e sentir mais. Você não sente nada? Provavelmente sua caixa toráxica, sua coluna vertebral são duras demais e aqui está o primeiro susto…
Quer tentar um outro teste?
– Costas apoiadas no encosto da sua cadeira;
– Esvazie todo ar pelo nariz;
– Fique sem ar dois segundinhos;
– Imagine agora que você esteja inspirando pelo ventre, como se seu ventre estivesse 'equipado' com um nariz gigante. Repita varias vezes, sinta… sinta mais. Difícil? Segundo susto… o diafragma está bloqueado ou a musculatura abdominal demasiadamente enrijecida.
A respiração adotada pelo yoga chama-se completa ou Mahat Pranayama e atua em três níveis: na altura do ventre, na altura do peito e na altura das clavículas. Mas só é possível de ser ensinada corretamente com a orientação de um professor de yoga idôneo. Se você tiver mais amplitude respiratória, sua musculatura ficará mais elástica e macia; assim poderá atuar nos três níveis.