por Nicole Witek
Já falamos sobre a importância da respiração que, para o yogui, é a ‘captação de prâna’ – substância que banha e impregna todo o universo.
Essa substância tem duas propriedades fundamentais: a inteligência e a consciência e, como fazemos parte desse universo, também temos estas qualidades dentro de nós, ou seja, nossas células também têm inteligência e consciência.
Podemos até afirmar que elas são seres totalmente ‘sociais e altruístas’. Nossas células têm consciência da totalidade, sabem se nutrir, se reproduzir ou se multiplicar, sem contar o fato que elas sempre vivem – nos mais comuns dos casos – em harmonia com o meio ambiente. Além disso, comunicam-se e podem até se ‘sacrificar’ para preservar a integridade do ser.
Agora podemos prosseguir…
Respiramos em média aproximadamente 15 vezes a cada 60 segundos, 14 mil litros de ar entram nas vias respiratórias a cada 24 horas. Minha intenção hoje é que você me acompanhe para um continente extraordinário, cujas maravilhas devemos lembrar de vez em quando, já que delas depende nossa saúde.
Vamos descobrir essa paisagem juntos, começando por um monte no meio do rosto: o nariz. Nosso nariz – olhando bem – é uma maravilha da tecnologia.
As narinas se abrem para baixo, detalhe muito importante, já que nenhum animal tem essa particularidade. Essa abertura para baixo das narinas força o ar para subir da ponta do nariz até a região entre as sobrancelhas. Na entrada das narinas, os cílios (pêlos do nariz) vão barrar o caminho para as partículas de poeira mais pesadas.
Mais para dentro, as partículas mais finas serão filtradas e a grossura desses fiozinhos vai diminuir. Na entrada do nariz esses fiozinhos se apresentam quase como se formassem uma escova, para se transformar mais no alto em um tapete de seda, onde as partículas microscópicas de poeira vão ser barradas. A estimativa é de que – apesar desse sistema de filtragem – ainda assim, 20kg de poeira entre em nossos pulmões durante toda a vida.
A superfície de cada célula do aparelho respiratório é ‘equipada’ do mesmo sistema de micro-cílios, como microescovinhas que balançam ritmicamente, doze vezes por segundo a vida inteira, até após a morte. Esses cílios têm uma força gigantesca: 1cm2 desse tecido tem a capacidade de levantar 6g de poeira até 1mm de altura e de deslocar horizontalmente nessa mesma ‘esteira física’, até 350 gramas. Parece pouco?
A força de todas as nossas células juntas é enorme. Vamos entender melhor: se aumentássemos o tamanho de apenas uma célula para o tamanho de um carro, seria equivalente à força de um carro que circula a 40 mil km, ou seja, a circunferência do planeta – por hora, sem parar, durante 18 dias.
Higiene do nariz: yogis chama limpeza com água de ‘jala neti’
O sentido do movimento desses cílios é orientado para fora, dos pulmões até o nariz. O movimento é seis vezes mais rápido em direção para fora do que para dentro. Os cílios barram as partículas de poeira nas vias respiratórias, e se por acaso algumas escapam, vão sendo coladas ao muco transparente, que se transforma em um ‘verdinho grudento’, quando milhões de grãos de poeira estão colados. É possível se livrar desse muco limpando o nariz com um lenço, ou como os yogis estão nos ensinando: praticando “neti”, a limpeza. Principalmente a limpeza com água – jala neti – que garante o funcionamento perfeito desse equipamento de prevenção à saúde.
Terei outra oportunidade para falar de como o ar é aquecido e umidificado – condicionado – para alterar de 0º em um inverno em Santa Catarina ou 40º no sertão seco, para deixar em 37º a temperatura do corpo. Temos, incorporado dentro de nós, um completo sistema de limpeza, desinfecção e condicionamento do ar, que só entrará nos pulmões como se estivesse esterilizado por uma autoclave a vapor, a 1200 graus. Quanta inteligência a evolução usou para que nós pudéssemos sobreviver nessas condições adversas.
Voltando ao nosso sistema de proteção contra a poeira e a prática de jala neti, há milênios que os yogis ensinam como usufruir melhor do nosso aparelho respiratório para captar melhor o prâna, a vitalidade.
Essa tradição, baseada na experiência, é a seguinte: equipado de uma chaleira, cheia de salmoura morna, chamada ‘lota’ podemos nos preparar para limpar nossas narinas. Os detalhes da técnica serão encontrados sem dificuldades em literaturas sobre o assunto. Existem certas proporções a respeitar…que esqueci! Há anos que eu, como yogini moderna, sem tempo, substituí a chaleira por uma solução mais prática: o soro fisiológico. Se por acaso vocês viajarem para França, encontrarão nas farmácias um spray para limpar as vias nasais, que funciona ainda melhor.
O modo de usar? A maneira mais simples é esguichar em cada narina um boa quantia de soro e expirar várias vezes até secar (isso é muito importante quando moramos num lugar mais frio e úmido). Essa prática de higiene é usada para os bebês e muito simples, sem dor nenhuma, já que o teor de sal foi medido para ser igual ao das lágrimas. Admito que essa prática não é das mais elegantes, mas que protege a minha saúde, protege!
A verdadeira técnica ensinada pelos yogis é mais elaborada, mas esse é o primeiro passo para ficarmos longe dos resfriados, gripes e rinites, decorrentes do uso de ar condicionado nos escritórios ou nas viagens de avião. O ar-condicionado seca as mucosas das narinas, deixando nossa atmosfera respiratória ressecada, alterando o funcionamento natural dessa maravilha da tecnologia que é o nosso nariz.
Relevo importantíssimo de nossa fisiologia. A partir do nariz, circula a energia prânica ao longo de linhas – os nadis, Ida e Pingala, respectivamente narina esquerda e direita, que funcionam como rios, onde circula a vitalidade. Essas correntes de vitalidade atravessam a cabeça e percorrem a coluna vertebral, que contém o principal condutor de energia prânica: Sushumna. Nossas atividades nervosas e prânica dependem totalmente dessas três vias.
Agora nós entendemos melhor o interesse dos yogis pela limpeza das narinas: essencial para nossa vitalidade.
E quem respira pela boca? Infelizmente, essa pessoa não terá condições de usufruir desse maravilhoso sistema de limpeza. O ar de fora é condicionado no nariz para ser um ar respirável, um ar que nossas células possam admitir e usar com o mínimo de riscos.
E quem pratica esporte? Tudo bem. Só se for temporariamente, durante a prática da atividade física, já que os músculos requerem uma quantidade maior de oxigênio. Mas não pode ser o tempo todo. Assim que termina a atividade física, o esportista deve ter uma respiração nasal, que utiliza o aparelho respiratório, e não o aparelho digestivo – que começa na boca.
Praticar ‘jala net’ deixa as vias respiratórias limpas. Por quê? Respirar pelo nariz é imprescindível para desfrutar o melhor do prâna, da vitalidade que poderia circular no corpo, se pudesse entrar livremente pelas vias de circulação, tais como foram descritas pelos textos clássicos: dois dutos começando na entrada das narinas, correndo de cada lado da coluna vertebral e um terceiro Sushumna, na coluna vertebral.
Você já imaginou a vitalidade pura, circulando por seu corpo todo, sem falar de seu estado mental ou de espírito? Felicidade total! Ananda!