por Dulce Magalhães
Antes de sair desesperado para fazer alguma coisa urgente, respire fundo. Antes de cair na angústia da quantidade de coisas acumuladas, da falta de tempo para o filho, para a academia, para si, respire fundo. Antes de pensar no próximo passo, respire fundo. E pense que esse é sempre o primeiro passo.
Ao nos lançarmos na aventura da vida inspiramos o primeiro ar, abrimos os pulmões e permitimos que a realidade nos preencha.
Em algum momento do caminho perdemos o controle e deixamos que a contingência tome conta. Não decidimos, agimos. Não escolhemos, reagimos. E se não gostamos, sofremos. Essa fórmula está equivocada. Temos que definir qual é o projeto e colocá-lo em prática. E do que não gostamos temos que alterar, mudar.
A experiência é um conjunto de atividades que exercitamos por nós mesmos. Boas ou más experiências utilizam o mesmo método, vivencial. Assim, o fundamental é definir a qualidade, a direção e a intensidade da ação, porque não dá para viver experiências sem colocar-se em prática.
Respire fundo. A vida não é como a escola, onde a gente aprende a lição e depois vai colocar em prática. Na vida a gente pratica e se for inteligente poderá tirar dela alguma lição. Esteja acordado no momento da ação, presente durante a própria prática da vida, para aprender consigo mesmo.
Inspire fundo. Inspiração é encher os pulmões de ar, mas é também preencher o ambiente interno de capacidade e emoção para gerar ideias, soluções, paixões, propostas. Um ser inspirado é um ser inflado de esperança. Acredita em seus devaneios. Vê o que ninguém mais enxerga. Percebe um tom a mais, uma cor extra, um metro maior e vai além. Encha-se do gás motor da vida, sonhe.
Segure o ar. Deixe que o oxigênio alimente todos os pontos, os poros, os cantos. Oxigene a vida. Abra a janela, olhe a rua, cumprimente o vizinho, sorria para o vendedor, varra a calçada, mesmo que você more em um edifício. Limpe os caminhos, reconecte-se com a realidade ao redor. Plante flores ou compre. Saia mais cedo de casa, só para ter tempo de conversar com o jornaleiro. Tome um café no meio da tarde com um amigo que você vê raramente, mas com quem adora estar. Preencha os recantos com o oxigênio que alimenta o momento.
Solte o ar, lentamente. Um longo e profundo suspiro. Que vire um assovio. Cantarole, solto, leve, livre. Esteja de bem com a vida. Resolva as pendências, os problemas. Perdoe. Doe. Carregue menos bagagem, menos peso, menos confusão. Simplifique. Abra mão para prosperar como ser humano. Exale calor, amor. Compartilhe o melhor, o mais brando, o mais alegre e observe o que frutifica.
Mantenha os pulmões vazios. Esvazie-se das angústias, dos tormentos, dos apegos. Fique um tempo sem ter para perceber que ter não é tudo. Encontre um espaço onde você possa simplesmente ser, onde tudo é e o que não é não está. Esvazie a mente para fazer uma ligação direta com a alma. Ver o que não se mostra e ouvir o que não é dito. Viva a maré vazante, que mostra a essência por baixo da existência.
Inspire outra vez. Comece de novo. Tente mais um pouco, esforce-se por completar, conseguir, alcançar, aprender, mudar, parar. Não importa o que você deseja, não desista. Enquanto houver fôlego haverá maratona. Renove as esperanças gerando novas expectativas, a partir de novas visões. Encontre uma nova musa, uma outra inspiração, outros motivos, motivação. Aprenda o que não sabe. Faça mais do que gosta. Pare com o que não gosta.
Respire fundo. Para que tanta pressa? Decida antes onde quer chegar e, principalmente, por que deseja chegar lá. Não faça nada sem respirar primeiro, uma vez, duas ou mais, sempre que julgar importante ganhar tempo. E ganhar tempo é sempre o mais importante. Vai fundo, mas sempre com muito fôlego, muita vontade, muita energia. Não faça nada por que está na moda, ou dá mais lucro, ou é o que deve ser feito. Faça por que o coração pulsa no ritmo da empreitada.
Considere a vida como uma grande soma de respirações, entrecortadas por soluços, gargalhadas, sustos, emoções. A vida é um espaço entre dois sopros, a primeira inspiração e o último suspiro. O que vivenciamos entre estes dois momentos é o que conta. Não dá para mudar o momento da primeira respiração. Portanto, esqueça as dificuldades do passado e concentre-se no ritmo do momento que está modelando o futuro. E que ao exalarmos o último sopro de vida, que seja um profundo suspiro de satisfação.