por Ceres Alves Araujo
Nos últimos anos, mudanças importantes vêm ocorrendo na sociedade e, consequentemente, nas famílias. Hábitos antigos precisaram ser modificados. O modo de criar filhos sofreu alterações significativas. As ajudas, as quais os pais se valiam para dividir os cuidados com as crianças, são cada vez mais difíceis. Os avós trabalham, babás, em geral, não prestam serviço em tempo integral e não dormem mais na casa das famílias.
O tradicional almoço na casa dos avós praticamente não existe mais. Se era uma ocasião para se encontrar, além dos avós, os irmãos, os tios e os primos, isso se perdeu em função da mudança dos tempos. Tem-se, agora, uma ênfase na família nuclear.
Durante os dias da semana, as crianças, em geral, permanecem em escolas de período integral, uma vez que, também, cada vez mais um número maior de pais e mães trabalham. Assim, nos fins de semana, o casal opta por se dedicar inteiramente aos filhos, como uma forma de compensar a falta de tempo de convívio durante a semana.
Atividades com as crianças não faltam, principalmente nas cidades grandes, onde um segmento do comércio dedicado ao entretenimento infantil surgiu e prosperou. Assim, além dos tradicionais clubes e parques, existem outros lugares para se levar as crianças, como shoppings com cinemas e eventos próprios para crianças.
Situações críticas surgem nos restaurantes, pois as crianças não são levadas apenas em lanchonetes ou restaurantes mais especializados ao público infantil. Pais levam seus filhos a restaurantes tradicionais da cidade, onde crianças, obviamente, não são esperadas.
Diferentemente de muitos países onde, há anos, crianças são aculturadas a se comportarem em restaurantes, adequadamente, o mesmo não ocorre entre nós. Em restaurantes aqui no Brasil, assistimos crianças gritando, chorando, perambulando entre as mesas. Alguns pais correm atrás delas e há os que placidamente continuam saboreando seus pratos, enquanto seus filhos trazem desprazer e estresse aos frequentadores do local, que, tecnicamente, não têm nada a ver com a falta de educação e com o comportamento inadequado de filhos dos outros.
Talvez estejamos vivendo uma fase de aculturação das crianças a essa nova situação da sociedade. Um treino progressivo para os pequenos se faz necessário. Pode-se começar com lanchonetes, pois, em geral, os serviços são mais rápidos no atendimento. Como nesse caso o tempo é menor, a criança mais jovem pode suportar com tranquilidade. Com o decorrer do tempo, paulatinamente, ela pode ser levada a restaurantes onde o tempo do serviço vai se alongando, sendo condicionada a permanecer sentada e a se comportar adequadamente.
Deve-se, entretanto, perguntar sempre:
É um lugar agradável ao filho? É compatível com a idade dele? Caso seja, ainda se pode perguntar: meu filho está educado, o suficiente, para frequentar tal lugar?
Pois bem, antigamente se dizia que "lugar de criança é em casa". Parece que hoje, com todas as mudanças, tal frase está sendo substituída por lugar de criança é na rua". Porém, isso não significa que as crianças estejam isentas de serem educadas para se adaptarem às condições dos espaços que elas compartilham com outros adultos, aliás adultos esses desconhecidos para elas.