E-mail enviado por um leitor:
“Doutor bom-dia! Queria uma informação. Estou tomando uma medicação chamada Revia (Revia®). O médico me disse que era pra desintoxicação, mas ele só serviu para tirar a vontade de beber, e para a droga (supostamente cocaína) não. Devo continuar com ele? Segundo o médico, ele também serve para a droga.”
Resposta: O Naltrexone (Revia®) é uma das quatro modalidades de tratamento farmacológico aprovada para o manejo clínico da Síndrome de Dependência do Álcool. Devido à sua ação sobre receptores opioides, o Naltrexone tende a reduzir o prazer provocado pelo uso de bebidas alcoólicas e, portanto, diminuir o reforço positivo para a manutenção do uso dessa substância.
Álcool pode atuar como gatilho para cocaína
As bebidas alcoólicas funcionam, frequentemente, como facilitadoras ou mesmo como gatilhos para o consumo de outras substâncias, como a cocaína. Muitos pacientes dizem que apenas fazem uso da cocaína, quando já fizeram uso de álcool etílico. Nestes casos onde o usuário de cocaína refere que precisa beber antes de usar cocaína, o Naltrexone (Revia®) pode ser uma medicação útil. Teoricamente, nestes casos, o Naltrexone (Revia®) diminuiria a vontade de beber, fazendo com que o dependente de cocaína tenha uma chance maior de abstinência.
Como tenho reiterado no Vya Estelar, não existem medicações comprovadamente eficazes e aprovadas para o tratamento da Síndrome de Dependência de Cocaína. Isso não significa que não existem tratamentos médicos e psicossociais disponíveis para manejar os sintomas da síndrome de dependência e da síndrome de abstinência induzidos pelo uso continuado da cocaína.
Alguns autores têm aventado a possibilidade da medicação Naltrexone (Revia®) ser mais eficaz entre alcoolistas que começaram a apresentar problemas com o consumo de bebidas alcoólicas a partir os 25 anos de idade (alcoolistas de início tardio); contudo, este achado não é consensual.
Alcoolismo e uso de drogas: tratamento farmacológico deve ser aliado ao tratamento psicoterapêutico
Todo tratamento farmacológico para o manejo do alcoolismo e/ou do uso problemático de outras substâncias deve estar combinado com o tratamento psicoterapêutico especializado, objetivando desenlaces mais promissores.
Como o Naltrexone (Revia®) age no organismo
O Naltrexone (Revia®) exerce atividades sobre três receptores opioides cerebrais, embora demonstre maior afinidade por um deles (os chamados receptores “mu”). Esta medicação é prontamente absorvida após a administração oral, atingindo um pico de concentração sanguínea após uma hora da ingestão. Esta medicação somente deve ser usada sob rigorosa supervisão médica, dados os efeitos colaterais e contraindicações inerentes ao fármaco. Esta medicação somente deve ser prescrita, quando o médico especialista estiver certo de que o funcionamento do fígado do paciente estiver adequado. O Naltrexone (Revia®) não é recomendado para uso em mulheres grávidas. A dose oral varia de 50 a 150 mg/dia e são aconselháveis exames da função hepática regularmente, durante o consumo da medicação.
Naltrexone (Revia®): efeitos colaterais
Apesar da larga segurança terapêutica do Naltrexone (Revia®) oral, existem efeitos colaterais que devem ser levados em consideração, tais como:
a) Insônia
b) Náuseas e vômitos
c) Diarreia
d) Cefaleia
e) Manchas na pele
f) Obstipação intestinal
g) Zumbidos
Efeitos colaterais mais graves e preocupantes tendem a ocorrer, quando o paciente já apresenta problemas no funcionamento hepático. Dito isso, reforço mais uma vez a necessidade da realização de exames antes da administração deste fármaco.
Efeitos mais graves:
a) Toxicidade do fígado
b) Visão borrada
c) Edema (inchaço) em pernas, pés e face
d) Respiração curta
De acordo com o seu relato, é possível que o seu médico tenha prescrito a medicação Naltrexone (Revia®) objetivando a parada do consumo de álcool e, consequentemente, de cocaína (ou alguma outra substância). No entanto, se o seu uso de cocaína estiver dissociado do uso de álcool, o Naltrexone (Revia®) provavelmente não trará grandes benefícios.
Converse com o seu médico. Tire as suas dúvidas com ele. Seguramente, o profissional que o atende estará disponível para saná-las. Boa sorte!
Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.