por Carminha Levy
Convém lembrar que o ritual acontece sempre num espaço sagrado. Invariavelmente, este espaço é o centro e, para a realização do ritual, surgiram as técnicas de criação do espaço sagrado.
Não é o trabalho de um indivíduo que cria o espaço sagrado, como também não é ele que o consagra, e sim o empenho – a “intenção clara” – com que reproduz a obra dos deuses e deusas.
A cruz é o símbolo primordial da existência humana, pois representa o ponto de intercessão vertical e horizontal e o centro por excelência onde o divino e o humano se encontram. Há inúmeros centros, dos mais sintéticos, como esse da cruz, aos mais singelos.
Assim como há o espaço sagrado, também há o tempo sagrado. Todo ritual é uma tentativa de recriar o tempo primordial, circular; por isso os rituais tradicionais se repetem anualmente: o ano é redondo e, de janeiro a janeiro, sempre volta à origem; a cada dia o sol morre e nasce de novo. É a experiência do eterno retorno. Na vida tudo morre e recomeça. Esse deve ser o estímulo que nos leva a ter sempre esperança e a transformar nossa vida num consciente ritual. Para tal, vamos aprender a ritualizar o nosso centro: o nosso corpo.
Imbuídos desses conceitos e com a “intenção clara” de reproduzirmos, com nosso ritual corporal, a obra dos deuses-deusas, vamos nos conectar com o espaço sagrado em que vive nosso ser – nosso corpo – e criar também o tempo sagrado – o aqui-agora. É através d o corpo – Ego – que o divino realiza sua obra no mundo.
Prática
Crie seu espaço sagrado xamanicamente (ver outros artigos que trazem instruções, clique aqui e leia). Ao som do tambor, crise seu ritual de reconhecimento e sacralização do seu corpo como instrumento do sagrado.
Inicialmente, estabeleça os limites do seu espaço sagrado, explorando o ambiente com o corpo. Traga sua atenção para sua ligação com o chão. Movimente-se pela sala, demarcando o espaço e sentindo os limites físicos do corpo, sem usar as mãos, e sim partes do corpo das quais geralmente você não tem consciência: as costas, a face, as coxas, os ombros; conecte seu corpo com os móveis, as paredes, janelas, etc.
Ao som do tambor, solte o corpo no chão, mergulhe e role entrando em transe, reconhecendo o que ele é e que o cristão chama de “morada do senhor”.
Respire o sagrado – agradeça a seu corpo por ele ser o espaço sagrado que é.
Permaneça tranqüilo(a) em silêncio, prometendo cuidar do seu mais precioso espaço sagrado – seu corpo – ordenando “não” aos excessos alimentares, estresses de trabalho, drogas, noites maldormidas e todos os maus tratos que você lhe faz em nome do “dever” e do “prazer”.
Finalize abençoando as diversas partes do seu corpo-espaço sagrado e as funções que elas desempenham – o coração, pelo amor e compaixão que você é capaz de dar e receber; os pés, que o locomovem; as mãos, com as quais você pode curar e criar e os braços com os quais você pode abraçar; os seus diversos aspectos estéticos e prazerosos e abençoe seus genitais, pelo êxtase que lhe propiciam.
Agora finalize criando o seu tempo sagrado. Pegue uma pedra e simbolize com ela seu lugar no mundo e a ancore no presente, no aqui-agora, seu tempo sagrado, que não é o que foi ou o que virá a ser, mas o eterno vir-a-ser – o momento do tempo circular que é o agora.
Axé na Luz!