por Jocelem Salgado
Vou explorar e discutir os benefícios de uma fruta pouco lembrada e consumida pelos brasileiros, mas que tem sido fonte de diversos estudos: a romã.
Essa fruta de sabor levemente ácido tem despertado interesse de diversos estudos por ser fonte de compostos que atuam no processo de cicatrização e de compostos antioxidantes naturais que previnem o envelhecimento precoce.
Além disso, estudos recentes mostram que essa fruta pode potencializar os processos anti-inflamatórios e antimicrobianos do organismo, diminuir o risco de doenças cardíacas e até mesmo atuar na prevenção de câncer principalmente no de próstata.
Existem dois tipos mais conhecidos de romã: a amarela, de origem nacional, que possui grande quantidade de sementes e uma pequena parte carnosa e a vermelha, que é de uma variedade originária do Canadá e apresenta pequenas quantidades de sementes envoltas em uma grossa camada carnosa. As romãs amarelas são as mais disponíveis no comércio e as mais encontradas em plantações caseiras, o que torna seu valor comercial aproximadamente 60% mais baixo em relação às vermelhas. No entanto, ambas são igualmente ricas quanto aos seus teores nutricionais.
Romã: além da prosperidade e das simpatias
Fruta pouco explorada em estudos brasileiros é conhecida no Brasil simplesmente por alimentar simpatias que popularmente a relacionam com prosperidade e riqueza. Quem nunca comeu sementes de romã no Ano Novo para atrair paciência e tranquilidade, ou guardou três sementes na carteira no Dia de Reis (6 de janeiro) para garantir fartura e dinheiro no bolso o ano todo? Essas crendices são confirmadas pelos dados divulgados pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (CEAGESP) de São Paulo, que apontaram uma venda de aproximadamente 200 toneladas da fruta entre os anos de 2001 e 2004, sendo que a maior procura pelas mesmas ocorreu nos meses de dezembro e janeiro respectivamente.
Mas engana-se quem acredita que essas simpatias foram concretizadas por nossos avós ou bisavós: a importância desta fruta é milenar, uma vez que fez parte do contexto cultural de muitos povos. Ela aparece nos textos bíblicos e também é muito citada em artigos da maçonaria, tudo pela simbologia que ela representa desde a antiguidade.
Na Grécia, por exemplo, era comum as mulheres consumirem romã em eventos religiosos para evocar a fertilidade. Os gregos também a utilizavam como oferenda a diversos deuses, por acreditarem que ela teria sido plantada pela deusa da beleza e do amor, Afrodite. Já os chineses acreditavam que a romã era fonte e símbolo da longevidade. Para os judeus, essa fruta simbolizava a esperança de que o Ano Novo que se iniciava seria melhor do que o que se passara e em Roma era um símbolo da ordem e riqueza. Entre os plebeus ela também simbolizava o amor, união, paixão e casamento, devido principalmente à grande quantidade de sementes e à forma harmoniosa como elas se entrelaçam em sua polpa.
Enfim, poderíamos descrever muitas outras culturas e o significado da romã para as mesmas, mas o que vem nos chamando a atenção nessa pequena e quase despercebida fruta e será discutido aqui não é apenas sua importância histórica.
Romã, antioxidantes e saúde
Os benefícios que a romã propicia à saúde são conhecidos desde a Antigüidade, o que explica a importância que relatamos acima. Tanto a polpa como a semente são ricas em antioxidantes, mas é a casca da romã que apresenta as maiores quantidades desses compostos. Esses antioxidantes atuam no combate aos radicais livres, que causam envelhecimento precoce, flacidez da pele, celulite, perda da elasticidade, rugas, etc. Ela também atua aumentando o fator de proteção do filtro solar na pele, pois o ácido elágico (um dos compostos antioxidantes mais poderosos dessa fruta) potencializa a proteção das células contra a ação dos raios solares, fonte de radicais livres. Além disso, inibe a proliferação de melanócitos, prevenindo manchas na pele causadas pelo sol.
O chá da casca também é popularmente utilizado contra infecções de garganta, já que os compostos fenólicos (antioxidantes responsáveis por preservar as estruturas biológicas da planta) encontrados principalmente nas cascas e sementes da fruta têm propriedades anti-inflamatórias capazes de aderir à mucosa, protegendo-a e aliviando as dores. Outro composto presente na romã que atua na prevenção dessas infecções são os taninos, por apresentarem forte ação adstringente que diminui a secreção da mucosa. Por estes mesmos motivos, a fruta também é empregada no combate a diarreias e disenterias.
Estudos realizados tanto no Brasil como por pesquisadores de outros países revelaram que a romã pode apresentar teores de compostos antioxidantes até três vezes maiores que aqueles encontrados no chá verde e até no vinho tinto. Esses compostos foram apontados em diversos estudos como responsáveis por evitar a oxidação do LDL (o "mau" colesterol), impedindo assim o endurecimento das artérias e desenvolvimento da aterosclerose e formação de coágulos que podem ocasionar infartos e derrames.
A polpa da romã também mostrou um ótimo efeito em tratamentos dentários, por apresentar forte inibição de crescimento bacteriano no biofilme dental. Outras pesquisas também mostraram que as sementes de romã, por conterem vitamina A, foram muito eficientes nos tratamento de complicações oculares, como a conjuntivite. E mais: há indícios de que a polpa dessas frutas inibe o crescimento de células tumorais, devido à presença das antocianinas (substâncias anticancerígenas responsáveis pela cor avermelhada das polpas) em sua composição.
Qual é o melhor modo de consumir romã?
Vários estudos comprovam que o Brasil produz mais frutas do que o brasileiro consegue consumir. A romã se encaixa muito bem nessa realidade, pois ela dificilmente é utilizada em preparos culinários, tanto pela cultura ocidental, que não tem como hábito consumi-la em refeições quanto pelo desconhecimento de seu "preparo". A separação dos grãos, firmemente inseridos em sua polpa, exige certa habilidade. Mas o suco, que pode ser obtido pelo esmagamento das sementes em uma peneira, é de fácil obtenção e pode ser consumido imediatamente ou fermentado, resultando em um vinho de sabor suave e delicado muito consumido em países como a Turquia, mas não tão comum ao paladar ocidental.
É importante ressaltar que, no momento da compra da fruta, devem-se escolher as frutas íntegras, maduras e sem danos aparentes, como cortes que deixam a polpa da romã exposta. Caso haja algum dano, é preferível escolher outra, pois o amassado ou o corte pode reduzir a atividade antioxidante e as disponibilidades dos compostos benéficos explorados acima, uma vez que os mesmos são muito instáveis e se degradam facilmente quando expostos às altas temperaturas, presença de oxigênio e danos mecânicos. Por isso, aconselhamos que a polpa e sementes de romã sejam consumidas imediatamente após a exposição das mesmas ao ambiente. A casca também deve ser consumida rapidamente, mas devido ao seu gosto amargo e adstringente, pode ser triturada e adicionada em sucos, saladas ou iogurte, enriquecendo ainda mais sua alimentação saudável.
Você pode começar adicionando essa fruta tão benéfica de modo sutil à sua rotina e a de sua família, como a receita que sugerimos abaixo:
Salada de frutas com calda de romã
1 manga
1 mamão papaia
10 fatias de abacaxi (5 para misturar a salada e 5 para o preparo do suco)
2 maçãs
2 bananas nanicas
4 laranjas
4 romãs
1 iogurte desnatado
1 colher de sobremesa de açúcar
Pique as frutas (exceto a romã) em pedaços pequenos.
Bata no liqüidificador 5 fatias de abacaxi e as laranjas com bagaço. Não é necessário coar.
Retire a polpa das romãs e misture ao iogurte desnatado com o açúcar.
Monte as taças com as frutas picadas, adicione o suco de abacaxi e laranja, e por último, acrescente a calda de iogurte com romã. Decore com folhas de hortelã e bom apetite!