por Roberto Goldkorn
Desde o surgimento da neurolinguística a palavra não vem sendo estigmatizada. Evitem Não em frases, em títulos de livros, em slogans publicitários: Não ao Não! Mas se o não pode transmitir conteúdos negativos, ou enfraquecer argumentos, quando se trata de dizer a palavrinha com todas as suas letras e tis, a coisa muda de figura. Dizer não quando se quer mesmo dizer não, é um desafio e tanto.
A incapacidade de dizer não, quando é essa mesma a intenção, é quase sempre uma questão de fraqueza de posição. Essa incapacidade não quer dizer que a pessoa é fraca, mas que está fraca. Quando o patrão pede para a funcionária vir trabalhar no domingo quando ela já havia prometido ao marido e aos filhos que se dedicaria a eles, e ela diz sim, o que lhe ditava a resposta é o medo. Sua posição está (ou pelo menos ela assim o considera) fraca, é o temor de uma retaliação que lhe coloca na boca a palavra “fatídica”.
Dizer sim numa circunstância dessas é engolir sapos, é rasgar-se um pouco (ou muito) por dentro. Dizer não quando se precisa dessa negação, é mágico, é deter um processo que ameaça nos engolir, é dizer: Pare agora! E assumir os riscos. Nem sempre o que se multiplica é bom. A multiplicação de bactérias patogênicas no nosso corpo é mal, a multiplicação de inimigos é mal, e a multiplicação de massacres pessoais é péssimo. Para deter esses processos é preciso dar um basta, dizer Não! Com ênfase e determinação. Não é fácil, para muitos um completo processo terapêutico e de renovação de valores pessoais é necessário. Saber dizer não, ter essa coragem, essa ousadia e independência, é fundamental para alguém que almeja o título de indivíduo.
Por outro lado há algumas pessoas que pela posição de força que ocupam podem dizer não, precisam dizer não a cada instante. Empresários, chefes, pessoas que detêm algum poder e autoridade dizem não com naturalidade, pois é o seu mecanismo de defesa natural. A beleza do processo, é quando quem pode e sabe bem dizer não, tem a grandeza, a generosidade de dizer sim. Muitas vezes o poder se refugia no sistemático não. Torna-se um vício, um bordão defensivo. O não afasta os predadores de plantão, poupa tempo, e dá ao assediado um tempo para refletir em meio a um constante bombardeio de demandas e ataques.
O uso do não para os poderosos equivale a uma mão espalmada no peito do “invasor”, uma espécie de vade retro. Quando um poderoso ou uma poderosa se dá ao luxo de dizer sim, e tem a grandeza do acatamento, sem medo de demonstrar fragilidade, estamos diante de uma alma grandiosa. Portanto, sim e não escasso valor absoluto possuem.
Quando o fraco tem a coragem de dizer não e o forte de dizer sim, estamos colocando nos eixos reais essas duas palavrinhas que aí sim adquirem sua real dimensão semântica. O não pode salvar a sua vida, e o sim pode levá-lo ao paraíso, depende como dizia a letra do samba, “de hora e lugar”.